terça-feira, 29 de julho de 2025

Mapa da Fome e Mapa dos Juros


Sede do Banco Central, em Brasília - 17/12/2024 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Saímos do Mapa da Fome, mas seguimos presos ao Mapa dos Juros, onde a austeridade recai sobre os pobres e a generosidade se reserva aos rentistas

29 de julho de 2025, 12:18 h

O Brasil saiu novamente do Mapa da Fome, de acordo com informações divulgadas pela “Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura” (FAO/ONU). A novidade foi apresentada durante o evento denominado 2ª Cúpula de Sistemas Alimentares da ONU, realizado no final de julho na Etiópia. A primeira vez que tal fato ocorreu foi em 2014, quando o país apresentou resultados de políticas públicas que permitiram sua retirada do Mapa da Fome. Essa importante conquista havia sido alcançada depois de uma sequência de 11 anos de programas governamentais iniciados no primeiro mandato de Lula, em 2003. Um dos instrumentos mais conhecidos para tal feito é o Programa Fome Zero.

No entanto, logo depois do golpe do impeachment contra a presidente Dilma, levado a cabo em 2016, o Brasil passou a ser governado por uma orientação ultraconservadora em termos de política econômica. Com Michel Temer no Palácio do Planalto e Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, tem início a implementação de medidas de rigidez fiscal e de redução do espaço do Estado na atividade econômica. Dentre uma série de retrocessos que foram perpetrados, salta aos olhos a retomada da concentração de renda e da redução da importância das medidas dirigidas à grande maioria da população.

Brasil e o Mapa da Fome - Assim, os dados levantados pela FAO concluem pelo retorno do Brasil ao Mapa da Fome durante o triênio 2018/20. A eleição de Jair Bolsonaro e a nomeação de Paulo Guedes para o superministério da Economia levaram ao aprofundamento dessa tendência, com redução significativa nas condições de vida da maioria da população. Com isso, foram necessários dois anos após o retorno de Lula à Presidência da República para que, mais uma vez, o país estivesse retirado de tal condição.

Esse marco deve, obviamente, ser comemorado. Apesar de todas as consequências negativas trazidas pela manutenção da lógica da austeridade fiscal desde 2023 e apesar da permanência do arrocho na política monetária desde então, o fato é que ainda restou alguma parcela da abrangência da política econômica conservadora de Fernando Haddad para reduzir a fome de nossa população. Esse procedimento envolve a utilização do indicador “Prevalência de Subnutrição” para avaliar as condições da população em termos nutricionais.

Esse indicador busca identificar o percentual da população em risco de subnutrição, isto é, que não tem acesso regular a alimentos em quantidade suficiente para uma vida saudável. Se esse percentual ficar acima de 2,5% da população, isso significa que o país está no Mapa da Fome. O índice é calculado a partir de três variáveis: i) quantidade de alimentos disponíveis no país, considerando produção interna, importação e exportação; ii) o consumo de alimentos pela população, considerando as diferenças de capacidade de aquisição (a renda); e iii) a quantidade adequada de calorias/dia, definida para um “indivíduo médio” representativo da população. Como o cálculo envolve a definição de uma média trienal, os dados divulgados agora referem-se ao período entre 2022 e 2024. Assim, é razoável imaginar que os próximos anos mantenham tal tendência de um percentual abaixo de 2,5%.

Apesar do inequívoco avanço representado pela novidade, o fato é que ainda permanece um longo caminho a ser percorrido na busca de melhores condições alimentares e nutricionais para nossa população. Assim, por exemplo, permanece bastante elevado o percentual de pessoas incapazes de ter renda suficiente para uma alimentação saudável. Apesar de tal índice ter apresentado queda nos últimos anos, em 2024 ele estava próximo a 24% da população, ou seja, mais de 50 milhões de pessoas. Além disso, a qualidade da alimentação também ainda deixa muito a desejar, uma vez que os índices de obesidade apresentaram uma elevação expressiva ao longo da década entre 2012 e 2022: de 19% para 28% da população.


Fonte: STN(Photo: Reprodução)Reprodução

Brasil e o Mapa dos Juros - O fato de o Brasil ter saído do Mapa da Fome, porém, não implicou mudança alguma no que se refere ao Mapa dos Juros. Conhecido por sua trágica marca de país de imensa desigualdade socioeconômica e de expressiva concentração de renda e patrimônio, por aqui a farra com a gastança do orçamento público pelos setores da elite se mantém em ritmo crescente. Caso levemos em consideração o mesmo triênio utilizado para retirar o Brasil do Mapa da Fome, perceberemos uma impressionante elevação dos gastos com juros no total do PIB. Entre 2022 e 2024, as despesas financeiras da União cresceram em torno de 62%, saindo de R$ 586 bilhões para atingir R$ 950 bilhões


 .Fonte: STN(Photo: 


Outra leitura desse mesmo fenômeno pode ser observada a partir do peso que tais despesas representam no Produto Interno Bruto do país. Considerando o mesmo triênio utilizado pela FAO, percebe-se que houve um aumento de 46% no indicador que mede a participação do volume de dispêndios com juros da dívida pública sobre o PIB. Ele sai de 5% em 2022 e atinge 7,3% em 2024. Este último, aliás, é o maior índice nos 28 anos de apuração da informação pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), desde o início da série em 1997.


Fonte: STN(Photo:

Assim, o Mapa dos Juros apresenta uma evolução crescente ao longo de todo o período, fato que pode também ser confirmado pela linha de tendência do gráfico abaixo. A fase aqui apresentada tem início com 2% em 1997 e se encerra em 2024 com 7,3%. Tal evolução apresenta etapas de crescimento e recuos, mas com a tendência de elevação permanente. Entre 2002 e 2003, por exemplo, o crescimento foi superior a 100%, saindo de 2,8% para 5,9%. Já entre 2012 e 2015, o aumento foi ainda maior, saindo de 3,1% para 6,6%. Finalmente, a fase mais recente registra a subida de 3,5% em 2020 para 7,3% em 2024, o que significa um crescimento de 109% na participação do volume de gastos com juros no PIB.

A avaliação dos dois mapas acima expostos nos revela a dura realidade de como as políticas públicas são tratadas no Brasil. De um lado, um governo que se propõe progressista oferece efetivamente avanços positivos em um quesito fundamental da dignidade humana e da cidadania. A retirada do Brasil do Mapa da Fome neste terceiro mandato de Lula representa um inegável avanço civilizacional. No entanto, tal processo convive com o injustificável avanço do Mapa dos Juros. Se o que se busca é uma diretriz estratégica de governo que aponte para a redução das desigualdades e da concentração de renda e de patrimônio, o fato é que essa dualidade revela a absoluta falta de isonomia na alocação de recursos públicos no tratamento das duas questões.

As políticas públicas que concorrem para a melhoria das condições de vida da maioria da população encontram-se no lado da contabilidade fiscal “primária” e estão submetidas desde sempre ao controle da austeridade fiscal. Ainda que os fatos apresentem melhorias pontuais, como a recente e importante saída do Mapa da Fome, o fato é que o potencial de evolução dessa tendência é constantemente reprimido pela contenção das despesas não financeiras. Quer seja pelos dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal, pelo extinto Teto de Gastos ou pelo atual Arcabouço Fiscal, a lógica se mantém pela redução sistemática de despesas não financeiras.

Já o comportamento que o Estado brasileiro oferece à parcela bastante reduzida que integra os grupos do topo de nossa pirâmide da desigualdade é exatamente o oposto. Os gastos com o pagamento de juros aos detentores dos títulos da dívida pública brasileira não estão submetidos aos controles draconianos da austeridade fiscal. Para os dispêndios com esse tipo de rubrica, não há limite, nem teto, nem contingenciamento. Trata-se da conta orçamentária que apresenta o maior volume de déficit. Por exemplo, entre o início de 1997 e o mês de maio de 2025, a União gastou o equivalente a R$ 11,1 trilhões a esse título. Ou seja, um volume astronômico que se destinou, em sua maior parte, a fundos de investimento, bancos, instituições financeiras e seguradoras.

Além de comemorar a saída do Mapa da Fome, é fundamental que o governo brasileiro estabeleça medidas e políticas públicas com o objetivo de redesenhar o vergonhoso Mapa dos Juros. A mais importante delas é, sem dúvida alguma, a orientação para redução da taxa oficial de juros, a Selic. Afinal, dentre inúmeras outras consequências negativas em termos econômicos e sociais, a manutenção de tais níveis estratosféricos da mesma impacta diretamente o estoque de endividamento, provocando esse monumental volume anual de juros que são desviados do orçamento da União para um grupo reduzido de privilegiados em nossa sociedade.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.





Paulo Kliass é doutor em economia e membro da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental do governo federal



Brasil 247

sábado, 26 de julho de 2025

Assalto ao quartel de Moncada: As razões revolucionárias


O assalto ao Quartel de Moncada, em 26 de julho de 1953, portanto completando hoje 72 anos, foi um dos principais acontecimentos que antecederam a revolução cubana. A ação envolveu 131 jovens (eram 135 mas quatro desistiram pouco antes). Eles foram organizados e liderados por Fidel Castro, Abel Santamaría e Raúl Castro, e tinham por objetivo desencadear a luta armada contra a ditadura de Fulgêncio Batista.


Por Wevergton Brito Lima*

Antes de partir para a ação, Fidel fez um último discurso a seus camaradas:

“Companheiros: Poderemos vencer dentro de poucas horas ou sermos vencidos, mas em todo caso, ouçam bem, companheiros, o movimento triunfará de qualquer forma. Se vencermos amanhã, será mais cedo do que Martí esperava. Se ocorrer o contrário, nosso gesto servirá de exemplo ao povo de Cuba, para tomar a bandeira e seguir adiante, o povo nos apoiará no oriente e em toda a ilha. Jovens do Centenário do Apóstolo! Como em 68 e 95, aqui no oriente damos o primeiro grito de Liberdade ou Morte! Vocês já conhecem os objetivos do plano. Sem dúvida alguma é perigoso, e todo aquele que saia comigo esta noite deve fazê-lo por sua vontade absoluta. Ainda está em tempo de decidir. Alguns terão que ficar por falta de armas, aqueles que estão determinados a ir, deem um passo à frente (foi este o momento em que quatro desistiram, Nota do Autor). A consigna é não matar, a não ser como última necessidade“.

Quartel de Moncada crivado de tiros.

A heroica iniciativa resultou em uma derrota militar. O Quartel de Moncada abrigava mil homens fortemente armados e o fator surpresa, fundamental para o sucesso da ação, por uma série de imprevistos não se concretizou. Outros 28 jovens atacaram, conforme os planos, o quartel Carlos Manuel de Céspedes, em uma ação que igualmente fracassou. Mesmo assim, o assalto aos quartéis Moncada e Céspedes foi o motor impulsionador e inspirador das ações futuras que redundaram na Revolução Cubana.

Seis revolucionários morreram no momento da ação. Outros 55, feitos prisioneiros ou capturados em seguida, foram torturados e assassinados, entre eles o segundo no comando do ataque, Abel Santamaria, de 25 anos.

Poucos rebeldes conseguem escapar da furiosa onda repressiva. Fidel e Raúl afinal são presos e condenados, assim como outros companheiros, a pesadas penas de prisão. No entanto, a simpatia popular cresce em torno dos jovens patriotas e em 1955 os presos políticos são anistiados e exilam-se no México, onde formam o Movimento 26 de Julho.

Rebeldes libertados em maio de 1955

Regressam a Cuba em Dezembro de 1956, a bordo do iate Granma e dão início à guerrilha contra o regime a partir da Sierra Maestra. A Revolução triunfa em 1º de janeiro de 1959.

Para Fidel, não haveria revolução sem Moncada:

“Em primeiro lugar (Moncada) iniciou um período de luta armada que não terminou até a derrota da tirania, e em segundo lugar criou novas lideranças e uma nova organização que repudiava o conformismo e o reformismo, que eram combatentes e decididos e que no próprio julgamento levantaram um programa de transformações socioeconômicas e políticas exigidas pela situação em Cuba“.

Em 2003, Fidel faz um discurso em homenagem aos 50 anos do Assalto aos Quartéis de Moncada/Céspedes e citou trechos selecionados de sua histórica autodefesa (“A história me absolverá”) pronunciada durante o julgamento que a tirania de Batista promovia contra os sobreviventes do ataque aos Quartéis em 16 de outubro de 1953. Eis os trechos selecionados pelo próprio Fidel:

“600 mil cubanos estão sem trabalho.”

“500 mil camponeses trabalham quatro meses por ano e passam fome no restante.”

“400 mil trabalhadores industriais e braçais cujas pensões estão desfalcadas, cujas moradias são os infernais quartinhos dos cortiços, cujos salários passam das mãos do patrão às do vendeiro, cuja vida é o trabalho perene, e cujo descanso é a tumba.”

“10 mil profissionais jovens: médicos, engenheiros, advogados, veterinários, pedagogos, dentistas, farmacêuticos, jornalistas, pintores, escultores etc. saem das escolas com seus diplomas, ansiosos por luta e cheios de esperança, para ver-se num beco sem saída, com todas as portas fechadas.”

“85 por cento dos pequenos agricultores cubanos estão pagando arrendamentos e vivem sob a constante ameaça do desalojamento de seus lotes.”

“200 mil famílias camponesas não têm um pedaço de terra onde semear alimentos para seus filhos famintos.”

“Mais da metade das melhores terras de produção cultivadas está em mãos estrangeiras.”

“Cerca de 300 mil ‘caballerías’ (mais de três milhões de hectares) permanecem sem cultivar.”

“Dois milhões e duzentas mil pessoas de nossa população urbana pagam aluguéis que consomem entre um quinto e um terço de seus rendimentos.”

“Dois milhões e oitocentas mil pessoas de nossa população rural e suburbana não têm luz elétrica.”

“Às escolinhas públicas rurais comparecem, descalças, seminuas e desnutridas, menos da metade das crianças em idade escolar.”

“90 por cento das crianças do campo estão cheias de vermes.”

“A sociedade permanece indiferente diante do assassinato em massa de milhares e milhares de crianças que, todos os anos, morrem por falta de recursos.”

“Entre os meses de maio e de dezembro, um milhão de pessoas se encontram sem trabalho em Cuba, com uma população de cinco milhões e meio de habitantes.”

“Quando um pai de família trabalha quatro meses por ano, com que poderá comprar roupas e medicamentos para seus filhos? Crescerão raquíticos, aos 30 anos não terão um dente saudável na boca, terão ouvido dez milhões de discursos, e no final morrerão de miséria e decepção. O acesso aos hospitais públicos, sempre repletos, só é possível mediante a recomendação de um magnata político, que exigirá do infeliz seu voto e o de toda a sua família, para que Cuba continue sempre igual ou pior.”

“O futuro da nação e a solução de seus problemas não podem continuar dependendo do interesse egoísta de uma dúzia de financistas, dos frios cálculos de lucros traçados por dez ou doze magnatas, em seus escritórios com ar-condicionado. O país não pode continuar de joelhos, implorando os milagres de uns poucos bezerros de ouro que, como aquele do Velho Testamento derrubado pela ira do profeta, não fazem nenhum milagre. […] E não é com estadistas cujo estadismo consiste em deixar tudo como está e passar a vida gaguejando bobagens sobre a ‘liberdade absoluta da empresa’, ‘garantias ao capital investido’ e a ‘lei da oferta e da procura’ que serão resolvidos tais problemas.”

“No mundo atual, nenhum problema social se resolve por geração espontânea.”
O Quartel de Moncada hoje é uma cidade universitária / Foto: Roberto Merino

Esta seleção mostra perfeito domínio da realidade concreta do povo, profundo apego aos seus anseios como motor primário para a ação e descortino sobre as causas e soluções dos problemas.

Mais do que isso, revela a completa atualidade da opção revolucionária.

Transcorridos 65 anos desta defesa/denúncia de Fidel, constata-se que as razões que motivaram a juventude cubana no assalto aos quartéis de Moncada e Céspedes ainda retratam a triste realidade de boa parte do Brasil e do mundo.

* Wevergton Brito Lima é jornalista, secretário-geral do Cebrapaz

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Preta Gil Sempre Presente!


Preta Maria Gadelha Gil Moreira[3] (Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1974  Nova Iorque, 20 de julho de 2025) foi uma cantora, atriz, apresentadora e empresária brasileira, fundadora e sócia-diretora da Music2Mynd.[4]


Era filha do músico Gilberto Gil e da empresária Sandra Gadelha, sendo meia-irmã do músico Bem Gil, da apresentadora Bela Gil e da cantora Nara Gil, e sobrinha do cantor Caetano Veloso.[5]

Biografia

Teve como segundo nome Maria, segundo contou a própria cantora, por conta de uma condição imposta pelo tabelião do cartório para registrá-la como Preta: "Eu nasci no Rio de Janeiro, sou carioca, no dia 8 de agosto de 1974. Foi o máximo, essa história todo mundo conta na família, porque o meu pai foi ao cartório, me registrar, com a minha avó materna, a vó Wangry, minha avó branca, que é mãe da minha mãe. Chegando lá o tabelião falou: 'Você não vai poder registrar o nome de sua filha de Preta.' Imagina! Vocês conhecem meu pai, sabem que ele gosta de falar e já começou a fazer discurso. 'Mas por quê? Existem Biancas, Brancas, Claras, Rosas e não pode ter Preta?' E o tabelião disse: 'Tudo bem, você vai botar Preta, mas só se botar um nome católico junto.' Então eu me chamo Preta Maria por conta do tabelião e pela Mãe Divina."[6]

Carreira artística

Preta Gil começou a trabalhar na década de 1990, nas produtoras Conspiração e Dueto, onde criou videoclipes para cantoras como Ivete Sangalo e Ana Carolina e dirigiu materiais de grupos como KLB e SNZ, tendo papel fundamental na popularização do formato no Brasil. Seus trabalhos incluem ainda produções como "Criança", de Marina Lima, sua prima por parte de mãe.[7] Em junho de 2002, Gil, motivada por amigos, decidiu investir na carreira de cantora e organizou um show no Rio de Janeiro.[8][9] Em entrevista para a MTV Brasil, em 2003, ela comentou sobre esse momento: "Tinha alguma coisa que me agoniava, uma angústia, uma insatisfação que eu não sabia o que era porque, afinal de contas, eu era bem-sucedida, consegui crescer profissionalmente, financeiramente, tinha minha produtora e era querida por todo mundo com quem eu trabalhava. Por que eu não era feliz? Fui descobrir com terapia que era porque eu estava fugindo da minha essência, de mim mesma. O que eu queria mesmo era cantar, representar e fui me aprofundar mais em mim mesma e descobrir se essa minha intuição para o dom que eu tinha estava certa, se era isso mesmo. E descobri que era. Fiz um primeiro show [...] para meio que me testar mesmo. E foi tão bacana que eu achei muito bom continuar e caminhar nesse sentido de aprender e abandonei mesmo".[8] Após reunir alguns músicos, ela gravou um disco demo, ganhando o interesse da Warner, que lhe ofereceu um contrato de gravação.[8]

O álbum de estreia da artista, intitulado Prêt-à Porter, foi lançado em 2003. A capa, na qual posou nua, fotografada por Vania Toledo, teve muita repercussão.[7][10] A ideia era que as imagens simbolizassem o seu renascer como artista, mas acabou dando o que falar para além do seu significado; em entrevista para a Forbes, ela revelou: "Me chamavam mais para entrevistas do que para cantar", contando, por vezes, havia mais interesse em saber o que o pai dela achou das fotos do disco, do que da música em si. "Eu costumo dizer que eu era a Preta no mundinho da Tropicália, achava que as pessoas eram que nem a minha família – o mundo não era assim".[11] Em maio estreia como atriz, dando vida à personagem Vanusa Silveira na telenovela Agora É que São Elas, da Rede Globo.[12] Em abril de 2004, assina contrato com a Rede Bandeirantes a convite da diretora Marlene Mattos, visando iniciar a carreira de apresentadora. Ela passou a comandar o Caixa Preta, nas noites de sábado da emissora, a partir de 29 de daquele mês.[13] Nesse período, ela foi convidada pela escritora Gloria Perez para integrar o elenco da novela América, da Rede Globo, mas recusou para priorizar o programa.[14] O Caixa Preta foi cancelado em outubro porque a Bandeirantes descobriu que ela teria feito teste para substituir Angélica, na apresentação do Video Game, durante sua licença maternidade.[15]


Gil apresentando-se ao lado de Ivete Sangalo (2012)


O segundo álbum de estúdio da artista, intitulado Preta, foi lançado em outubro de 2005.[16] No ano seguinte, estreia nos teatros, no espetáculo Um Homem Chamado Lee. Na peça, dirigida por Rodrigo Pitta, Gil interpretou uma travesti chamada Linda Lee ou Ivanildo Pereira, que tem fixação pela cantora Rita Lee e quer ser ela a qualquer custo.[17] Em 2007, interpretou a vilã Helga, em Caminhos do Coração, da Rede Record.[18] Anos mais tarde, ela revelou ter ficado surpresa com o sucesso da personagem: "Fiz um show em Cabo Verde na época, na África, e o aeroporto estava lotado. Eu perguntei: 'Tem alguma autoridade, alguém chegando comigo?' Minha produtora respondeu: 'Estou vendo as pessoas com cartazes escrito Helga', nem ela lembrava o nome da minha personagem. Saí no aeroporto, peguei minhas malas e as pessoas gritando 'Helga'. Foi uma loucura, eu amei".[19] Após seu personagem sair da novela, Preta voltou a se dedicar mais à música. Ela estreou sua nova turnê, chamada Noite Preta, onde em 20 de outubro de 2009 gravou seu primeiro álbum ao vivo, na boate The Week, no Rio de Janeiro.[20] O álbum contou com as participações de Ana Carolina ("Sinais de Fogo") e Gilberto Gil ("Drão"), acompanhado na guitarra pelo neto Francisco, filho de Preta.[21] Entre 2009 e 2010, foi apresentadora do talk show Vai e Vem, do canal a cabo GNT. Na atração, Gil recebia um convidado famoso para tratar sobre a vida sexual dele. O cenário era um elevador que desce e sobe. O programa foi exibido semanalmente às sextas-feiras.[22] Também assumiu protagonismo no Carnaval, através do Bloco da Preta, lançado em 2010.[23] Preta lançou seu terceiro álbum de estúdio no dia 24 de julho de 2012, com o título Sou como Sou, pela gravadora DGE Entertainment Ltda.[24]


Gil ao vivo em Angra dos Reis (2023)

A cantora celebrou 10 anos de carreira com a gravação de seu segundo álbum ao vivo Bloco da Preta. A celebração, que teve três horas de duração, aconteceu na noite do dia 23 de outubro de 2013, no Cintou, e contou com as participações de Lulu Santos, Ivete Sangalo, Anitta, Israel Novaes e Thiaguinho.[25] No carnaval 2014, o cantor sul-coreano Psy cantou ao lado de Preta, além, também, de cantar ao lado de Claudia Leitte.[26] Seu último álbum de estúdio, Todas as Cores, foi lançado em 2017. O material trouxe participações dos cantores Pabllo Vittar, Marília Mendonça e Gal Costa.[27] Em 2024, lançou a autobiografia Preta Gil: os primeiros 50, no qual aborda o diagnóstico de câncer e o fim conturbado do casamento com Rodrigo Godoy, após uma traição enquanto a artista enfrentava o tratamento da doença.[23]

Vida pessoal

Seu primeiro casamento durou dois anos, e foi com o ator Otávio Müller com quem teve seu único filho, Francisco Gadelha Gil Moreira Müller de Sá, nascido em 1995.[28] Seu segundo matrimônio durou quatro anos, com o mergulhador Carlos Henrique Lima.[29] Preta já namorou os atores Caio Blat e Paulo Vilhena, e o apresentador Marcos Mion.[30] Entre 2015 e 2023 foi casada com Rodrigo Godoy, professor de educação física.[31][32] Em 24 de novembro de 2015 tornou-se avó de uma menina batizada como Sol de Maria, nascida na Clínica Perinatal, no Rio, na Barra da Tijuca, fruto da união de seu filho com a modelo Laura Fernandes.[33]

Preta se declarava abertamente bissexual[34][35] e pansexual,[36] afirmando já ter tido relações sexuais com mulheres.[30] A cantora também foi defensora dos direitos LGBT.[34][37]

Problemas de saúde e morte

Em janeiro de 2023, declarou que havia sido diagnosticada com câncer no intestino. Após meses em tratamento, foi submetida a uma cirurgia para retirada do tumor que deixou-a com uma ileostomia, uma deficiência física em que parte do intestino delgado é exposta no abdômen, e as fezes são recolhidas por meio de uma bolsa coletora no local.[38][39][40] Em agosto de 2023, Preta anunciou que o câncer havia entrado no estado de recidiva, resultando em dois tumores nos linfonodos, um nódulo no ureter e uma metástase no peritônio, e retomou o tratamento com quimioterapia. Com isso, fez uma nova cirurgia nos dias 19 e 20 de dezembro de 2024 para remoção de tumores, durando 21 horas.[41]

Em maio de 2025, Gil viajou para Nova Iorque, dando início ao tratamento com uso de medicamentos em fase experimental, e retornaria ao Brasil em agosto para serem dados os próximos passos pela equipe que assistia a cantora.[42] Em 20 de julho de 2025, Preta morreu em Nova Iorque em meio ao tratamento do câncer no intestino, com a informação sendo divulgada pela assessoria de imprensa da cantora e da família.[43]

Imagem pública

Em fevereiro de 2008, Gil processou o Google por danos morais, alegando que os mecanismos de pesquisa do site associavam seu nome a palavras como "atriz gorda".[44] Em novembro do mesmo ano, a RedeTV! foi obrigada a indenizá-la em 100 mil reais por danos morais. O processo foi movido depois que o programa Pânico na TV fez uma simulação parodiando uma queda que a artista sofreu dentro do mar, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, e fez piadas sobre o seu peso. A sentença também determinou que o programa estava proibido de fazer referência ao nome e exibir a imagem dela.[45] Em 2014, Gil recusou um buquê de flores e um pedido de "desculpas" das mãos de Nicole Bahls e Matheus Mazzafera no Aeroporto Santos Dumontl, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a artista exigiu que o pedido viesse de Emílio Surita, apresentador do Pânico na Band, e de Márvio Lúcio, ator do programa. A cantora afirmou ainda que estudava um novo processo contra a Rede Bandeirantes e o programa. Ela pediu para a atração deixá-la em paz. O pedido de desculpas veio uma semana após o humorista Gui Santana tentar entregar à cantora uma coleção de roupas masculinas, todas gigantes, afirmando que teriam pertencido ao apresentador André Marques, que havia emagrecido.[46] A artista também processou o então deputado federal Jair Bolsonaro pelas declarações do parlamentar em entrevista ao programa Custe o Que Custar, da Rede Bandeirantes, que foi ao ar em março de 2011. Entre várias declarações polêmicas, Bolsonaro teria dito que seus filhos não "correm risco" de se apaixonar por mulheres negras porque foram "muito bem-educados". A afirmação foi uma resposta a uma pergunta feita pela cantora.[47]

Empresária

Music2Mynd

Em 2017, em parceria com Fátima Pissarra e Carlos Scappini, Preta fundou a Mynd através da Music2, que operava a Vevo no Brasil. A empresa é especializada em música, marketing de influência e entretenimento, e atua fazendo gestão de imagem de seus agenciados, conexão entre personalidades e marcas para trabalhos publicitários, idealização e planejamento de ações publicitarias.[48][49][50][51]

A Mynd tem em seu portfólio trabalhos com P&G, Avon, Natura, Rexona, Nissin, Grupo L'Oréal,[52] Grupo O Boticário, Itaú,[53] Hering,[54] Bradesco, Amstel,[55] Coca-Cola, AMBEV, Colgate, TikTok, Gol Linhas Aéreas, Monange, Hipermercado BIG, Claro,[56] Big Brother Brasil, Americanas, Rommanel, Nescau, Mastercard, Pizza Hut, Netshoes, Instagram,[57] dentre outras. A marca já realizou ações na Parada LGBT, no Rock in Rio e no Carnaval,[58][59][60] e tem parceria comercial com o Multishow[61] e com a Sony Music.[62]

A agência ganhou o Prêmio Caboré 2019 na categoria Serviços de Marketing.[63]

Arte

Musicalmente, Gil gravou canções bastante orientadas para o funk americano, com elementos de samba e axé music.[64] Ela citava artistas como Madonna, Gal Costa, Janet Jackson, Baby do Brasil, Jennifer Lopez, Michael Jackson e Beyoncé como suas maiores influências musicais.[8]

Discografia
Ver artigo principal: Discografia de Preta GilÁlbuns de estúdioPrêt-à Porter (2003)

Preta (2005)


WIKIPEDHIA

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Espírito do nazismo paira sobre a humanidade


 

O nazismo não acabou!


Por Jair de Souza

O nazismo não foi extirpado com a derrota sofrida pela Alemanha hitlerista em 1945! O nazismo e suas abominações estão hoje mais vigentes e em plena atividade do que nunca!

Apesar de que os crimes hediondos cometidos em grande escala pelos nazistas alemães na primeira metade do século passado costumam ser tachados como o que de mais tenebroso e perverso os seres humanos já foram capazes de praticar, somos obrigados a reconhecer que há inúmeros outros casos ao longo da história que nada ficam a dever em termos de crueldade e perversidade às maldades consumadas pelos partidários de Adolf Hitler.

Provavelmente, a grande motivação para que as atrocidades hitleristas venham recebendo a qualificação de ponto máximo da perversidade humana é que, pela primeira vez, entre as vítimas alvo da sanha de seus perpetradores, havia um considerável contingente de pessoas com a mesma característica étnica que aqueles que, sem dúvida, têm sido os principais executores da maioria dos genocídios conhecido nos últimos sete séculos.

Desde que as classes dominantes europeias se lançaram em suas aventuras colonialistas, os povos do mundo vêm sofrendo as mortíferas agressões desfechadas por invasores procedentes da Europa. Isto ocorreu em todos os demais continentes de nosso planeta: África, América, Ásia e Oceania. Civilizações inteiras foram simplesmente dizimadas, tudo para satisfazer a gula por acúmulo de riquezas das classes dominantes do chamado Ocidente.

Aqui na América, a esmagadora maioria dos povos originários foram trucidados e tiveram suas terras ocupadas no processo de colonização e despojo de suas riquezas naturais. A África foi fortemente agredida e teve boa parte de seus habitantes sequestrados e levados para outros continentes para servir como mão de obra escrava com vistas a produzir lucros para os senhores europeus. Atrocidades e extermínios de mesma magnitude também foram cometidos pelas forças invasoras europeias com o mesmo propósito.

Portanto, o nazismo hitlerista não demonstrou ser muito diferente do que era a prática habitual de exterminar outros povos que já vinha sendo executada há muito tempo. A grande diferença se deve a que, pela primeira vez, essa sanha exterminadora foi lançada também contra uma vasta comunidade de pura cepa europeia, e não apenas contra povos de fora do mundo ocidental.

Como é bem sabido por quem estuda com seriedade a evolução histórica, os judeus presentes em grande número na Europa até o começo do século passado nada tinham a ver etnicamente com os antigos povos hebreus que habitavam a região da Palestina na Antiguidade, a não ser os vínculos de ascendência religiosa. Por isso, quando os detalhes sobre a horrenda matança orquestrada contra os judeus europeus pelos nazistas tornaram-se de conhecimento público, mais do que justamente, os efeitos de repulsa e condenação se fizeram sentir de modo generalizado.

Além disso, uma parcela muito significativa desses judeus integrava as camadas operárias, participando ativamente nas lutas pela superação das estruturas do capitalismo de então. Tanto assim que muitos dos líderes do movimento socialista eram pessoas advindas de comunidades judaicas.

Mas, com o pretexto de ressarcir os judeus pelos crimes contra eles cometidos na Europa, as classes dominantes europeias decidiram dar apoio às pretensões das lideranças sionistas para a criação de um Estado que pudesse dar acolhida àquela população que vinha sendo vítima de perseguição por ali há um bom tempo. Contudo, nenhum dos representantes dessas classes dominantes pensou em lhes oferecer alguma parcela do território da Alemanha, ou da França, da Áustria, da Holanda, ou de algum outro país europeu. Não, nada disso! Eles foram estimulados a criarem seu Estado na Palestina.

Como também deveria ser de conhecimento de todos, o povo palestino nunca cometeu nenhuma atrocidade contra os judeus, nem na Palestina nem em nenhuma outra região. Mas, eles foram os escolhidos para saldar a dívida moral que as classes dominantes europeias tinham com os sobreviventes dos massacres e tentativa de extermínio que eles mesmos tinham levado a cabo. Cinicamente, almejavam matar dois coelhos com uma só cajadada: ao mesmo tempo em que ficavam livre do peso de consciência pelos crimes que haviam cometido contra os judeus, retiravam da Europa um grupo de sobreviventes que poderia lhes causar problemas no futuro.

Foi assim que, sob o comando e a orientação do movimento sionista europeu, o remanescente dos judeus que se encontravam na Europa e outras comunidades existentes em outras partes foram encorajados a se transferirem para a região da Palestina com vistas a erigir ali seu próprio Estado. Claro que o fato de aquelas terras já estarem sendo habitadas há milênios pelo povo palestino não significava nada para eles. Assim, não obstante a quase totalidade dos principais teóricos do sionismo fossem eles mesmos gente não religiosa, eles passaram a alegar que o direito a ocupar aquele espaço lhes fora concedido por Deus. Em outras palavras, renomados ateus transformaram Deus em um corretor imobiliário dos mais bonzinhos (para eles, logicamente).

No entanto, os sionistas que comandavam esse processo não apenas levaram para a Palestina as pessoas de ascendência judaica que haviam sobrevivido às perversidades do nazismo na Europa. Eles também levaram consigo a própria essência da ideologia dos responsáveis pela tentativa de extermínio das comunidades judaicas europeias. Para que não reste nenhuma incompreensão quanto ao que desejo expressar, os dirigentes sionistas seguiram para a Palestina plenamente imbuídos do espírito do nazismo, pois, para todos efeitos, o sionismo e o nazismo têm muito, ou melhor, muitíssimo em comum. Afora a divergência pontual sobre qual seria a raça superior destinada a se sobrepor às demais, no restante, há inúmeras confluências entre o sionismo e o nazismo, duas das mais perniciosas ideologias surgidas entre grupos humanos ao longo da história.

Hoje, com o avanço do genocídio em curso em Gaza e na Cisjordânia, os sionistas estão dando suficientes provas de que não somente assimilaram as lições ministradas pelos nazistas, como foram capazes de aperfeiçoar todas as técnicas de matar, torturar e exterminar seres humanos indesejados que os hitleristas tinham desenvolvido e impulsionado em seu momento.

Porém, com muitíssima mais efetividade do que seus predecessores nazistas, os sionistas atuais provaram ter uma gigantesca capacidade de articular-se com as classes dominantes em outros países e, fundamentalmente, com seus meios de comunicação. Por isso, mesmo que as monstruosidades cometidas contra crianças, mulheres e a população civil indefesa estejam sendo exibidas quase que em tempo real pelo mundo afora, e ainda que sejam visíveis para todos as cenas de milhares e milhares de crianças sofrendo fome aguda devido aos sionistas estarem impedindo a entrada de água e comida, os meios de comunicação quase não se detêm nesses detalhes.

Em síntese, sem nenhum subterfúgio, o sionismo e o nazismo são ideologias de mesma orientação. As duas se fundamentam no etnocentrismo excludente, na completa falta de empatia com o sofrimento de quem está fora de seu próprio grupo. Entretanto, a crueldade dos sionistas consegue ser ainda mais acentuada. Só seres dotados de um gigantesco sentimento de perversidade seriam capazes de se fazerem de vítimas de perseguição preconceituosa quando seus crimes são expostos e denunciados. Tanto assim que é impossível fazer qualquer crítica e condenação séria a seus crimes sem ser imediatamente tachado de antissemita. Realmente, os hitleristas não tinham um descaramento semelhante!

Postado por Altamiro Borges às 21:45

Blog do Miro

Entre guerras e esperança

Palestinos carregam seus pertences enquanto fogem de suas casas após o exército israelense emitir ordens de evacuação, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, em 3 de junho de 2025

O mundo precisa de paz, mas essa paz começa no coração de cada um de nós


13 de junho de 2025, 08:45 h

É possível dizer que o mundo sempre esteve imerso em conflitos armados, guerras, disputas de poder e atos de desumanidade, onde a fome e a miséria tingem o cenário com suas cores mais sombrias. Contudo, questiono com veemência: que tempos vivemos hoje?

A obra do psicanalista e sociólogo alemão Erich Fromm (1900/1980) permanece incrivelmente atual, ressoando intensamente nos debates do presente. Ele dedicou-se a estudos profundos e críticos sobre a sociedade e a condição humana. Fromm afirmou: “Pela primeira vez na história, a sobrevivência física da raça humana depende de uma mudança radical no coração humano.” Essa frase, escrita em plena Guerra Fria, ecoa ainda mais forte em nossos dias, um período igualmente marcado por ameaças globais, conflitos de toda espécie e crises humanitárias e ambientais.

Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) e outras instituições, mais de 30 guerras e confrontos armados estão em curso no mundo. As causas variam entre disputas territoriais, interesses econômicos, diferenças ideológicas, rivalidades políticas, questões étnicas e religiosas, e a luta por recursos naturais, como petróleo e minérios. Em algumas regiões, como a Faixa de Gaza, Oriente Médio, Ucrânia, Iêmen, Síria, Caxemira, países africanos, entre outros, a violência desenfreada gera imagens estarrecedoras: crianças mortas, mutiladas, e famílias inteiras desfeitas pela guerra.

A ONU estima que uma criança morre a cada 10 minutos em Gaza. As que sobrevivem enfrentam a ausência de água potável, alimentos e medicamentos, sucumbindo à fome, à desnutrição e ao desespero. Entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, mais de 12 mil crianças perderam a vida nessa região. As maiores vítimas das guerras são sempre os mais vulneráveis: crianças, mulheres e idosos.

Hoje, mais de 800 milhões de pessoas vivem em situação de fome no mundo todo, enquanto a insegurança alimentar afeta mais de 2,3 bilhões em diversos graus. Que mundo é este, onde apenas uma parcela diminuta da população tem acesso a benefícios básicos, como saúde, alimentação, moradia, educação, segurança e trabalho digno?

A reflexão sobre a natureza humana é urgentíssima. Fromm questionou: “Como é possível que o mais forte de todos os instintos, o de sobrevivência, pareça ter deixado de nos motivar? Uma das explicações mais óbvias é que os líderes empreendem muitas ações que lhes permitem fingir que estão fazendo algo eficaz para evitar uma catástrofe: Conferências intermináveis, resoluções, conversas sobre desarmamento, tudo dá a impressão de que se reconhecem os problemas e que algo está sendo feito para resolvê-los.” Ele sustenta que as consciências foram anestesiadas e que o egoísmo, amplificado por sistemas desiguais, faz com que líderes valorizem mais o sucesso pessoal do que a responsabilidade social.

Nesse contexto, a escolha entre “ter” e “ser” ganha nova relevância. Será que a ganância e o controle do poder justificam tanta desumanidade? Ou é o “ser” — a força vital que nos impulsiona a ajudar e cuidar uns dos outros — que deveria prevalecer?

A resposta está no amor. Apenas com empatia e solidariedade podemos romper o ciclo de egoísmo e destruição que domina nosso tempo. O amor, em suas diversas formas, é a única solução para os dilemas da existência humana. O mundo precisa de paz, mas essa paz começa no coração de cada um de nós.


* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.


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Paulo Paim      Senador pelo PT do Rio Grande do Sul
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Senador pelo PT do Rio Grande

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