Um amigo sindicalista que, mora em São Bernardo, passou as festas com a família na casa do irmão mais velho, um engenheiro, que todo ano, nessa ocasião, substitui com carinho familiar os pais já falecidos. Segundo ele disse-me, ao telefone, lá estavam um irmão empresário, o engenheiro dono da casa, um irmão advogado e um outro, oficial da PM, além de duas irmãs Professoras Universitárias.
A conversa já andava há horas, regada com um bom uísque quando, o irmão militar, falou para todos que, estava trabalhando pela volta da Ditadura no Brasil. E adicionou adjetivos e argumentos retrógrados, normalmente utilizados em tais ocasiões.
“Todos ficamos estupefatos, disse-me ele, com tal declaração”. Com
exceção dele, e do empresário, os demais não participavam da politica. Mas,
todos, ao que ele até então sabia, eram democratas, humanistas, nenhum apoiava
ou participava de grupos fascistas. A fala do irmão militar, portanto, caiu
como uma bomba. O que talvez ele não tenha visto, como ví e ouvi, "com
estes olhos e ouvidos que a terra há de comer", em plena Avenida
Liberdade, foi uma companhia militar repetindo slogans e
cânticos reacionários...
Mas, na continuedade da conversa, um
dos filhos dele lá presente, uma garota recém formada em medicina, na USP,
atalhou o tio dizendo: “Ah, é assim? Então vá em frente, tio. Se isso vier a
acontecer, que eu não acredito, meu pai, que é comuna, certamente será preso,
torturado e assassinado; aquele meu tio alí, petista, receberá igual tratamento
dos milicos. E eu, que sou de esquerda, seguirei o mesmo caminho, com a
agravante de ser estuprada antes de morta. Vá em frente, tio, é só depois
arranjar uma boa justificativa para tentar apaziguar sua consciência”...
O irmão milico ficou surpreso, sem
saber ao certo como responder a garota. Balançava a cabeça e balbuciava: “Isso
não vai acontecer, não, não acontecerá”... A garota deu-lhe as costas e foi
para a varanda, deixando-o mais desconcertado ainda. Como ninguém “deu corda” a
conversa findou por alí mesmo, um tanto inacabada.
Aproveitando a passada do bonde pego
uma carona, para repetir para quem já disse, e falar para quem ainda não ouviu:
“Jamais tirarei minha vida ou fugirei, abandonando família e amigos. Portanto,
se aparecer morto, fui “suicidado”, e se ninguém mais me vêr, fui
“desaparecido”. Dizia isto, com certa frequência, à época da ditadura de 64, e
logo depois dela.
Mas, com os “bolsonaros”, apesar de
muito minoritários, virem aí pedindo a volta dos milicos, pedindo ditadura e
outros bichos mais, achei de bom alvitre repetir – aqui - a antiga balada, para
que, se não formos capazes de barrar uma possível volta da Ditadura, meus
amigos saibam mais, e melhor, sobre mim, e, os que, por ventura, forem a favor
dela vão, desde já, preparando falas para apaziguar a consciência...
Não acredito que nosso povo será tonto
ao ponto de repetir a dose. E, por outro lado, nem sei se tenho amigos
embarcando nessa "fria". Acredito, que não.
Porém, espero e desejo que, os milhões
de trabalhadores, seguindo seus sindicatos, gritem bem alto e em bom som, como
os republicanos espanhóis, e sua grande líder “La Passionária”: “Não passarão!”
Mas, não façam como eles, não. Barrem, de fato, os fascistas!
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