terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Conversas no Natal e sobre Ditadura

Um amigo sindicalista que, mora em São Bernardo, passou as festas com a família na casa do irmão mais velho, um engenheiro, que todo ano, nessa ocasião, substitui com carinho familiar os pais já falecidos. Segundo ele disse-me, ao telefone, lá estavam um irmão empresário, o engenheiro dono da casa, um irmão advogado e um outro, oficial da PM, além de duas irmãs Professoras Universitárias. 


A conversa já andava há horas, regada com um bom 
uísque quando, o irmão militar, falou para todos que, estava trabalhando pela volta da Ditadura no Brasil. E adicionou adjetivos e argumentos retrógrados, normalmente utilizados em tais ocasiões.

“Todos ficamos estupefatos, disse-me ele, com tal declaração”. Com exceção dele, e do empresário, os demais não participavam da politica. Mas, todos, ao que ele até então sabia, eram democratas, humanistas, nenhum apoiava ou participava de grupos fascistas. A fala do irmão militar, portanto, caiu como uma bomba. O que talvez ele não tenha visto, como ví e ouvi, "com estes olhos e ouvidos que a terra há de comer", em plena Avenida Liberdade, foi uma companhia militar repetindo slogans e cânticos reacionários...
Mas, na continuedade da conversa, um dos filhos dele lá presente, uma garota recém formada em medicina, na USP, atalhou o tio dizendo: “Ah, é assim? Então vá em frente, tio. Se isso vier a acontecer, que eu não acredito, meu pai, que é comuna, certamente será preso, torturado e assassinado; aquele meu tio alí, petista, receberá igual tratamento dos milicos. E eu, que sou de esquerda, seguirei o mesmo caminho, com a agravante de ser estuprada antes de morta. Vá em frente, tio, é só depois arranjar uma boa justificativa para tentar apaziguar sua consciência”...

O irmão milico ficou surpreso, sem saber ao certo como responder a garota. Balançava a cabeça e balbuciava: “Isso não vai acontecer, não, não acontecerá”... A garota deu-lhe as costas e foi para a varanda, deixando-o mais desconcertado ainda. Como ninguém “deu corda” a conversa findou por alí mesmo, um tanto inacabada.

Aproveitando a passada do bonde pego uma carona, para repetir para quem já disse, e falar para quem ainda não ouviu: “Jamais tirarei minha vida ou fugirei, abandonando família e amigos. Portanto, se aparecer morto, fui “suicidado”, e se ninguém mais me vêr, fui “desaparecido”. Dizia isto, com certa frequência, à época da ditadura de 64, e logo depois dela.

Mas, com os “bolsonaros”, apesar de muito minoritários, virem aí pedindo a volta dos milicos, pedindo ditadura e outros bichos mais, achei de bom alvitre repetir – aqui - a antiga balada, para que, se não formos capazes de barrar uma possível volta da Ditadura, meus amigos saibam mais, e melhor, sobre mim, e, os que, por ventura, forem a favor dela vão, desde já, preparando falas para apaziguar a consciência...

Não acredito que nosso povo será tonto ao ponto de repetir a dose. E, por outro lado, nem sei se tenho amigos embarcando nessa "fria". Acredito, que não.

Porém, espero e desejo que, os milhões de trabalhadores, seguindo seus sindicatos, gritem bem alto e em bom som, como os republicanos espanhóis, e sua grande líder “La Passionária”: “Não passarão!”

Mas, não façam como eles, não.   Barrem, de fato, os fascistas!
 Zé Augusto

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