Em minha infância costumava acordar no 3 de janeiro com um fortíssimo foguetório, isto lá pelas bandas de Cachoeiro de Itapemirim.
Os admiradores do "Cavaleiro da Esperança" fossem comunistas ou nacionalistas democratas, estes egressos da famosa Aliança Nacional Libertadora, faziam questão de marcar assim a data do aniversário de Luiz Carlos Prestes, herói e figura exponencial da história do Brasil, já naquela época.
Depois, travei conhecimento com Prestes de outra maneira. No plano das ideias, no plano filosófico e político. Decorridos 20 anos não nos "bicávamos". As divergências eram grandes.
Por exemplo, após o golpe de 1964 manifestei, inclusive por escrito, em artigo então publicado na imprensa do PCB, que suas causas principais residiam naquilo que então eu chamava de "ilusão democrática", ou seja, na crença errônea de que o desenvolvimento de uma nação se dava sempre "para frente e para o alto" como diria o velho líder populista Adhemar de Barros.
Não era, e não é assim que se dá o desenvolvimento de uma sociedade dividida em classes sociais antagônicas. Ele se dá elevando, "marcando passo" num mesmo lugar, e até descendo, retrocedendo, para depois retomar sua caminhada em direção a um futuro melhor. Não foi isso que assistimos nos últimos 12 anos? Os governos do PT não representaram um estágio superior e democracia e de bem estar para o povo brasileiro, em particular para os trabalhadores? Sem dúvida alguma.
Mas, quem pensava que estávamos caminhando firme e forte em direção ao paraíso, quebrou a cara. Ai está uma parada, seguida de um forte retrocesso que, se o povo não conseguir barrar, levará a um descenso grave nos direitos e garantias individuais, nos direitos trabalhistas, democráticos e sindicais.
Voltando ao amigo e camarada. Todavia, a partir dos anos 1980 nossas opiniões começaram a se aproximar de um denominador comum. Daí, na luta pela democracia e pelo socialismo, ficamos do mesmo lado e, disso aí, surgiu uma forte amizade pessoal que prosseguiu até o seu falecimento.
Nascido em Porto Alegre em 3 de janeiro de 1898 e falecido no Rio de Janeiro em 7 de março de 1990, se vivo fosse estaria completando hoje nada menos de 119 anos de idade.
Pois é, querido amigo e camarada Prestes, você está fazendo uma falta danada, com suas opiniões firmes e denodada disposição de luta. Daria um bom exemplo para esta rapaziada que, como em 1964, encabeça a luta contra a Ditadura nas escolas, nas ruas e praças deste país. Como você, eu acredito na juventude, no sangue quente e novo que não teme a própria morte. Aliás, medo dela em função das ideias nunca fez o seu gênero nem o meu, Isto, deixamos como herança para nossos filhos com todo o orgulho: o nosso e o deles.
Ambos fomos jovens. Você comandou uma marcha que, em distância percorrida e tempo de duração ultrapassou a "Grande Marcha" de Mao Tse Tung, na época de sua juventude, no movimento tenentista que buscava construir um Brasil decente para os brasileiros. Não deu certo. Como voltaria a não dar certo a insurreição da ANL. E como não fomos vitoriosos em toda a luta pelo socialismo que junto travamos e continuo carregando-a para o futuro. Embora, nesses anos todos, tenhamos conquistados importantes vitórias como a derrota de Ditadura de 1964, a vitoriosa edição da Constituição de 1988, os governos democráticos do PT.
Mas, não tenho dúvida alguma. Venceremos!
José Augusto Azeredo

 
 
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