O amigo e cantor de xaxado, ator de novelas da Globo, Rafael de Carvalho, já falecido, costumava dizer aos seus amigos atores que, "o Gugu é um sobrevivente da Operação Bandeirantes". No caso o "Gugu" era eu...
Assim e melhor dizendo, sou um "sobrevivente" da ditadura civil e militar de 1964 e, como a maioria dos presos, torturados e perseguidos políticos de então deveria ter um brutal preconceito contra os militares brasileiros.
Nos 4 anos em que tive a oportunidade de residir nos "confortáveis e nababescos" estabelecimentos militares de repressão da Ditadura, tive oportunidade de conviver com a oficialidade, mas notadamente a da Marinha, seus Capitão de Mar e Guerra. Muitos deles estudiosos da política e cientistas da área de equipamentos e armamentos nucleares. Tudo isto pelo fato de ter um amigo de juventude filho de um oficial da Marinha, que se propôs a intervir a meu favor na Arma, cujo resultado apenas redundou suavizando minhas condições de "hospedagem" e salvando-me a vida.
Felizmente, ao menos os que conheci e que se interessaram em discutir política e ciência nuclear comigo, não integravam a facção dos simpatizantes ou agentes de potências estrangeiras, muito menos dos fascistas e torturadores, e, por isso mesmo, viam um Brasil um tanto parecido com o que eu enxergava. Sua postura se apresentava de militares sérios e estudiosos. Porém, sem maiores ilusões com nenhum deles, claro. Nunca esqueci a questão ideológica e a posição de classe.
Talvez por isso não tenha guardado aquele rancor dos militares, não. Tenho plena consciência de que, nas sociedades divididas em classes sociais antagônicas como a nossa, é de sua própria natureza a existência do aparelho do estado para garantir os privilégios das classes dominantes e sufocar as pretensões de liberdades e ou melhores condições de vida das classes e camadas dominadas.
Mas, assim como, o governo de um país capitalista não é um comité de empresários, sem perder a origem e orientação de classe, ele sofre influências várias que fazem com que, sua atuação no dia a dia, trilhe por caminhos, alguns deles, contraditórios com seu próprio objetivo estratégico. Os homens não são robôs. Diferentemente dos animais eles têm consciência que lhes possibilita analisar o meio ao seu redor de maneira semelhante. Mas nunca idêntica.
Muito mais, as Forças Armadas. Pela constituição e posição dentro do aparelho do estado, adquire, sem perder seu caráter original, um certo grau de independência. No Brasil ela é formada na base por conscritos e seus cabos, sargentos e oficiais provém, majoritariamente, das classes subalternas e das camadas médias. O que lhes confere um caráter democrático e uma não subordinação direta e sempre aos interesses e objetivos da burguesia e dos latifundiários.
Vimos na ditadura de 1964 as Forças Armadas assumirem o poder e arcarem com o ônus sujo da repressão. Claro que existiam ali oficiais de vários matizes. Os entreguistas que lideraram o golpe de estado e a condução do governo, os nacionalistas que apoiavam as ideias de direita nos plano governamental, mas defendiam as riquezas nacionais e sua exploração por e para os brasileiros, e os fascistóides e tarados responsáveis por torturas e assassinatos.
Isto representou um pesado ônus para elas. O repúdio popular à repressão naquela época chegou ao ponto de obrigar os militares a esconderem suas identidades nos edifícios e bairros onde moravam, e a saírem vestidos à paisana de suas casas só colocando os uniformes nos quartéis. E retornarem às suas casas, novamente "fantasiados" de civis.
Não tem razão, por tudo isso, certo intelectual progressista e respeitado, em propor intervenção militar. Embora, na minha opinião não exista clima para uma ditadura militar, se eles assaltarem o poder tudo poderá acontecer. Inclusive a hegemonia da facção mais ligada ao imperialismo norte-americano e às ideias fascistas.
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas repudiou e prontamente a pregação golpista feita pelo gal. Antônio Mourão, mostrando que as Forças Armadas têm tido um comportamento de cumprir seus deveres constitucionais desde 1985, e que irão continuar assim.
O general Mourão alias foi um outro Mourão que deflagrou em Minas o golpe de 1964, mereceria ser punido nos termos do RDE. Mas, a aplicação do RDE requer uma correlação de forças políticas interna decididamente ante golpista que não sabemos existir ou em que nível. Ao que parece o Brasil não teria sorte com os generais Mourão...
Pode ser até que, a intenção do Comandante do Exército seja a da punição, mas, se existem condições políticas internas para tanto, não se sabe.
Enfim, precisamos das Forças Armadas para defender nossas riquezas minerais e a exploração delas a favor da nação brasileira. Os militares de hoje nada têm a ver com o passado de sua Força, até porque, a maioria dos que estavam na ativa então, ou já morreram ou estão vestindo pijamas numa velhice já provecta.
Por isso, trabalhadores, sindicalistas, partidos nacionalistas e de esquerda precisam se aproximar mais dos militares, incluírem em seus planos de luta as reivindicações dos militares, tanto aquelas de caráter salarial como as de verbas que lhes permitam um digno ambiente para a execução de suas tarefas diárias, e verbas necessárias aos andamentos dos projetos científicos das Forças Armadas. Ganhar os militares para a defesa do Estado de Direito e das Liberdades Democráticas e Sindicais deveria ser uma tarefa prioritária.
Sem ilusões de classe, sem ilusões democráticas, precisamos encarar as Forças Armadas com a isenção política necessária a uma percepção mais correta delas. Como elas são ou parecem ser. Ou deveriam ser. Um corpo destinado à defesa nacional.
José Augusto Azeredo
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