por Dimalice Nunes — publicado 20/10/2017 00h20, última modificação 19/10/2017 17h04
Aplicativos como Easy Taxi e 99 chegam ficar com 45% do valor da corrida. Plataformas próprias de sindicatos saíram do papel em São Paulo e Fortaleza
Paulo Pinto/Fotos Públicas
Primeiro inimigo dos taxistas foi a Uber. Sua chegada, que desequilibrou a concorrência, motivou protestos. Agora, são os aplicativos que pesam na conta do motorista.
Chamar um táxi pelo celular é realidade para a maioria dos usuários do meio de transporte nas grandes cidades. Mas o que é praticidade e economia para um lado, se transformou em prejuízo para o outro. Para driblar os altos custos, mas sem se desconectar da expectativa do consumidor, os taxistas paulistanos se organizaram e lançaram o Kabx, aplicativo que funciona como a concorrência, mas sem corroer a margem do motorista.
"O sindicato não tinha essa tecnologia, mas muitos taxistas vinham procurar o sindicato com o interesse de fazer frente aos outros aplicativos", conta Wagner Caetano, diretor operacional da Kabx Brasil, vinculada ao Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo (Sinditaxi).
A ideia foi oferecer uma plataforma para o taxista que fosse colaborativa, com baixo custo, mas competitiva. Os descontos são os mesmo e dados pelo motorista, a seu critério, mas o custo para o uso da plataforma é de 39 reais fixos por mês, e não um porcentual pago por corrida. Valores pagos diretamente ao taxista não sofrem nenhuma taxa, mas há despesas bancárias para pagamentos com cartão, seja pela "maquininha", seja no cartão cadastrado no aplicativo ou meios de pagamento online, como o PayPal.
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A média que se cobra por corrida nos aplicativos comerciais é entre 13% e 15%, fora os descontos. Numa corrida com desconto de 30%, o taxista chegar a abrir mão de 45% do valor marcado no taxímetro. "Isso estava matando a margem de lucro, quase chegando no custo operacional", afirma Caetano. O custo operacional hoje do táxi gira em torno de 1,40 real por quilômetro rodado e o valor final é 2,75 reais. "Se tira 45% vai a 1,51 real, o que se aproxima muito do custo", contabiliza.
O valor mensal fixo foi determinado pelo rateio das despesas entre os taxistas que formaram a primeira base de adesão, três mil motoristas. Hoje, já são seis mil motoristas ativos. A expectativa da Kabx é que sejam dez mil taxistas ativos na plataforma até o final do ano. "Com isso é que vamos fazer um balanço de quantos pagantes teremos para ver se chegamos aos três mil pagantes de fato. A maior parte dos 39 é para pagar a plataforma contratada, a Autocab."
A Autocab é uma empresa inglesa que gerencia táxis praticamente no mundo todo e foi contratada pelo Sinditaxi para desenvolver e gerenciar a plataforma Kabx. "A maior parte da mensalidade vai para Autocab, que também dará o suporte tecnológico. Sobre outra parte para custear o operacional e uma outra que vai para o marketing", explica Caetano. "Quanto mais taxistas tiver, menor será a mensalidade. Como o aplicativo é associado ao CNPJ do sindicato, ele não pode ter lucro. Então um eventual excedente será repassado para investimento, em marketing, por exemplo, ou a gente reduz a mensalidade".
Além dos 10 mil motoristas, a Kabx espera uma base ativa de 20 mil clientes até o fim do ano. Espera, também, uma reação da concorrência. "Achamos também que os outros aplicativos acabarão melhorando as condições", conclui Caetano. A cidade de São Paulo tem 37 mil táxis e 45 mil taxistas, com 20 mil sindicalizados.
Táxi tecnológico
Uma lua de mel marcou o início da relação dos motoristas com plataformas como 99taxis e Easy Taxi. Há cinco anos, quando a Easy surgiu, oferecia gratuitamente a plataforma e cobrava 2 reais por corrida. Pouco depois, com a chegada da 99, que não cobrava nada nem pela corrida, a Easy recuou e ambas eram totalmente gratuitas.
No entanto, a pesada concorrência com a chegada da Uber começou a azedar a relação. A multinacional defendia a livre concorrência e atraiu o público com preços mais acessíveis. Já os taxistas reclamavam que, sem a mesma regulamentação a que eram submetidos, era fácil manter um valor mais baixo, tornando a concorrência predatória.
Depois de três anos as taxas passaram a ser cobradas em cima de todas as corridas. Começou em 5%, depois foi para 8%. No início, também, os aplicativos bancavam os descontos, que depois passaram a ser repassados para os taxistas. Hoje o cenário é de custos de até 45% do valor da corrida.
Fortaleza pioneira
Os taxistas da capital cearense identificaram a oportunidade de concorrer com os aplicativos há mais tempo. Lançado em julho de 2016, o Sinditaxi App também surgiu da demanda dos próprios taxistas, que buscavam tarifas mais amigáveis, como conta Mauro Roure, gestor da plataforma.
"O sindicato se juntou com a categoria e providenciamos a criação do aplicativo da entidade com um valor fixo, baixo, independente do número de corridas", explica Roure. Lá, a taxa mensal é de 35 reais.
Diferentemente dos aplicativos comerciais, o Sinditaxi App ainda não dispõe de ferramenta para o pagamento via plataforma, mas a funcionalidade estará disponível no próximo mês e as tarifas bancárias correrão por conta do motorista, que também arcam eventuais descontos aos passageiros.
Assim como em São Paulo, os taxistas de Fortaleza também contrataram uma empresa, a Táxi Machine, que aluga plataformas já desenvolvidas para cooperativas de táxis. Dos cerca de cinco mil taxistas da cidade, 1100 já aderiram ao aplicativo e há 60 mil passageiros inscritos na plataforma.
Carta Capital
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