Araceli Cabrera Sánchez Crespo (1964 – 1973) foi assassinada violentamente em 18 de maio de 1973. Seu corpo foi encontrado somente 6 dias depois, desfigurado por ácido e com marcas de extrema violência e abuso sexual. Os autores do crime, pertencentes a famílias influentes do Espírito Santo, jamais foram condenados, mesmo com fortes evidências de que este não fora o primeiro crime da dupla. Posteriormente, o Congresso Nacional instituiu no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes na data da morte de Araceli.
A menina, que estava próxima a completar nove anos, foi espancada, estuprada e drogada, e teve os mamilos e a vagina dilacerados a dentadas. Seu corpo foi encontrado em um terreno baldio, queimado e desfigurado com ácido, para dificultar sua identificação. Seus algozes pertenciam a famílias tradicionais e muito influentes no estado, razão pela qual tanto a Justiça como a Polícia foram negligentes e corruptas.
No dia 18 de maio de 1973, Araceli saiu mais cedo da escola, a pedido da mãe, que escrevera um bilhete para a professora. A menina se dirigiu então a um edifício levando um envelope, que continha — sem que ela soubesse — drogas para ser entregues a um grupo de rapazes, filhos de famílias ricas e importantes da cidade e que eram conhecidos por seu gosto em realizar orgias regadas a narcóticos, álcool e sexo.
Ao chegar ao lugar indicado por Lola, que era quem provinha de drogas aos jovens, Araceli se deparou com os rapazes, que já se encontravam sob os efeitos da cocaína. Estes a atacaram e a mataram com requintes de crueldade, deslocando seu queixo com socos e lacerando a dentadas seus mamilos, parte da barriga e sua vagina. Segundo uma testemunha, antiga amante de um dos envolvidos, Araceli foi violentada e dopada com uma forte dose de LSD, à qual não resistiu; exames periciais constataram depois que a menina foi também asfixiada.
O corpo da garota foi encontrado nu e desfigurado, seis dias depois do crime, em um terreno baldio. Antes, o cadáver havia sido levado para o bar de Jorge Michelini — a quem supostamente a droga estava dirigida, e cujo sobrinho, Dante, estaria envolvido no crime — e deixado por vários dias no freezer do lugar, localizado em uma movimentada rua da cidade. Tudo isto foi feito sem nenhum cuidado em evitar testemunhas, tamanha a certeza da impunidade dos assassinos e seus cúmplices. Finalmente, um ácido corrosivo foi jogado sobre os restos mortais da menina para dificultar sua identificação.
Apesar de Gabriel Crespo ter reconhecido o corpo da filha por um sinal de nascença, a certeza veio em um dia em que ele levou o cachorrinho de estimação da menina, Radar, ao Instituto Médico Legal (IML). Ao chegar ao local, o animal — que tinha recebido esse nome porque sempre a localizava — se dirigiu imediatamente à geladeira e passou a arranhar a gaveta em que se encontrava o cadáver de sua dona. Este permaneceria ainda dois anos e meio no IML, antes de ser enviado para uma autópsia no Rio de Janeiro e posteriormente sepultado, em 1976.
Os principais suspeitos do crime foram Paulo Constanteen Helal (o Paulinho) e Dante Michelini Júnior (o Dantinho): o primeiro, filho de um latifundiário membro da maçonaria capixaba; e o segundo, herdeiro de um rico exportador de café. De acordo com versões não confirmadas, ambos organizavam festas nas quais se drogavam e violentavam menores em apartamentos mantidos unicamente para esse fim. Lola, que era irmã de traficantes de Santa Cruz de la Sierra — para onde se mudou anos depois, deixando para trás marido e filho — havia utilizado a filha como ‘mula’, talvez sem intuir seu destino.
Embora houvesse testemunhas contra os dois jovens, Paulinho e Dantinho foram absolvidos em um último julgamento, em 1991, e atualmente nada mais pode ser feito, já que o crime prescreveu. Segundo Louzeiro, mais de dez pessoas que poderiam ajudar a desvendar o caso foram mortas, entre elas o sargento José Homero Dias, assassinado com um tiro nas costas, quando estava próximo a finalizar as investigações. Ainda de acordo com o escritor, os acusados tornaram-se “pais de família católicos, senhores acima de qualquer suspeita” e suas famílias continuam “donas do Espírito Santo” até hoje, quase quatro décadas depois do assassinato que chocou o Brasil.
O romance reportagem Aracelli, meu amor, de 1976, de autoria do escritor e jornalista José Louzeiro, foi censurado pela ditadura militar a pedido dos advogados dos acusados.
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