quarta-feira, 17 de abril de 2019

Para não esquecer: crise econômica e colapso bancário levaram ao nazismo

Times Square com um tapa na decoração


É conhecida a associação entre fases da história posteriores a grandes crises econômico-financeiras e a ascensão de regimes populistas, especialmente de direita. A ascensão de populistas nacionalistas ao poder, que se se assiste em muitos países (Brasil inclusive, para muitos analistas) – momento histórico que vem na esteira da crise de 2007/2008 e da Grande Recessão que se seguiu – guarda semelhanças com a década de 30, após o crash de 1929.


Em coluna publicada no Broadcast em 2015, resumi um estudo de três economistas alemães (Manuel Funke, Moritz Schularick e Cristoph Trebesch) que indicava que crises financeiras pioram a governabilidade, estimulam a fragmentação partidária e a tensão social, e aumentam a votação de partidos de extrema-direita.

Agora, um novo trabalho dos economistas alemães Hans-Joachim Voth e Sebastien Doerr, e do economista José-Luiz Peydró, da GSE de Barcelona, faz uma ligação mais direta entre a perda de renda causada por crises bancárias na Alemanha no início dos anos 30 e o aumento da votação nos nazistas.

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Os autores relatam como, em 1931, a partir do contágio de uma crise bancária austríaca, o Danatbank – um dos quatro grandes bancos universais da Alemanha – entrou em colapso, na esteira do calote de uma grande empresa têxtil, um dos maiores clientes da instituição. Houve corrida bancária, o Dresdner Bank também quebrou, foi decretado feriado bancário de três semanas e a Alemanha na prática saiu do padrão-ouro.

O estudo parte de um engenhoso trabalho quantitativo que usa dados sobre as relações entre os bancos e 5.600 empresas registradas em bolsa na Alemanha na época. As empresas alemãs tipicamente tinham relações muito fortes com um banco específico, e o estudo mostra como a quebra do Danatbank e do Dresdner levou a fortes perdas das empresas clientes – que reduziram fortemente suas folhas salariais. Dessa forma, as cidades com maior presença de empresas expostas à quebra dos dois bancos tiveram perda de renda significativamente maior, numa época de forte crise econômica.

A partir daí, os autores mostram como o declínio de renda ligado à falência dos dois bancos levou a um aumento muito significativo na votação no partido nazista. Cidades com declínio de renda semelhante, mas desvinculado dos dois bancos, tiveram aumento de voto nazista muito menor.

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