quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Há 75 anos, Ho Chi Minh declarava a libertação do Vietnã

Em 2 de setembro de 1945, o presidente Ho Chi Minh, diante de uma multidão reunida na Praça Ba Dinh, na cidade que então se chamava Hanói, declarou a independência da República Democrática do Vietnã; apenas uma semana após o fim da Revolução de Agosto, na qual os exércitos do Japão e da França foram derrotados. Uma revolta que, em termos políticos, abriu caminho para o socialismo na Indochina.


Por Gastón Fiorda                                                                                                     02/09/2020 16:38

A história moderna do Vietnã está ligada a 100 anos de colonização francesa e ao processo de resistência que ocorreu a partir de alguns fenômenos muito específicos, que explicam a luta heroica do seu povo: a ascensão de Ho Chi Minh como líder indiscutível, criação do Partido Comunista da Indochina, a crise na França em meio à Segunda Guerra Mundial, a consequente ocupação nazista e a bem-sucedida Revolução de Agosto de 1945. Um processo que resultou da luta contra um inimigo de duas cabeças: o regime colonial francês e o poder militar japonês, coincidindo com o saque dos recursos naturais e a exploração da classe trabalhadora e camponesa vietnamita.

Nesse contexto, Ho Chi Minh liderou o Comitê Central do Partido Comunista em uma insurreição armada; a princípio dirigida contra o Japão, que exercia o controle absoluto do território do Vietnã. Milhares de voluntários atenderam ao apelo de Ho à rebelião. Alguns, bem poucos, tinham certa experiência em combate. Uma rotina de treinamento foi estabelecida nas regiões montanhosas, e a base de comando foi estabelecida em Bac Son, ao norte do Rio Vermelho.

O Viet Minh, que surgiu da união de várias forças armadas revolucionárias e era liderado pelo grande estrategista Vo Nguyen Giap, constituía, em 1944, uma verdadeira rede de guerrilheiros nas províncias do norte. No entanto, Ho Chi Minh ordenou que o levante fosse adiado, para primeiro intensificar as ações de atrito político, e, em seguida, lançar-se na opção militar.

No início de 1945, a derrota do eixo Berlim-Roma-Tóquio era inevitável. Na França, o governo de Vichy caiu e os japoneses foram derrotados tanto na China quanto no Pacífico. Naquela época, o Vietnã sofreu a pior fome de sua história, principalmente nas áreas de Tonkin e nas províncias do norte de Annam, onde dois milhões de pessoas morreram de fome em apenas alguns meses.

Nos grandes centros urbanos, especialmente Hanói, Saigon e Hue, a turbulência política não parava de crescer. Na capital, cada empresa tinha seu setor de trabalhadores para a salvação nacional. Grupos de choque e defesa foram formados entre trabalhadores e estudantes. Foram promovidas greves e manifestações, com o uso de armas por parte dos mobilizados.

No verão de 1945, a efervescência popular atingiu o auge e as ações – tanto políticas quanto militares – se multiplicaram. Em 13 de agosto, o Japão capitulou depois de perder a Manchúria para as forças soviéticas, e de sofrer duas bombas atômicas em seu território: Hiroshima e Nagasaki.

Em todos os lugares, organizações populares, guerrilhas e unidades de autodefesa entraram em ação. Foi uma verdadeira insurreição popular que ocorreu de 14 a 25 de agosto. Em cada comuna, em cada cidade, a população se levantou em armas. Grandes massas de trabalhadores, camponeses, estudantes, mercadores, artesãos ocuparam sedes administrativas, fábricas, empresas e outros bastiões econômicos e políticos do país.

Em 23 de agosto de 1945, o rei Bao Dai abdicou. Dois dias depois, uma delegação do governo popular, vinda de Hanói e chefiada por Tran Huy Lieu, recebeu de Bao Dai o selo e a espada dinástica, símbolos do poder real. A Revolução de Agosto triunfou e encerrou 80 anos de domínio colonial. Diante de seu povo vitorioso, Ho Chi Minh declarou a independência do Vietnã e fez seu histórico apelo à unidade popular, diante da ameaça que reapareceu, assim que os franceses se propuseram a reconquistar seus antigos domínios.

*Publicado originalmente em 'Página/12' | Tradução de Victor Farinelli

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