quinta-feira, 15 de maio de 2025

José Mujica

Mujica em 2023

40Presidente do Uruguai

Período 1 de março de 2010
Vice-presidente Danilo Astori
Antecessor(a) Tabaré Vázquez
Sucessor(a) Tabaré Vázquez
Período 1 de março de 2005
Antecessor(a) Martín Aguirrezabala
Sucessor(a) Ernesto Agazzi
Período 7 de dezembro de 2012
Antecessor(a) Dilma Rousseff
Sucessor(a) Nicolás Maduro
Período 3 de março de 2015
Dados pessoais
Nascimento 20 de maio de 1935
Paso de La Arena, Montevidéu, Uruguai
Morte 13 de maio de 2025 (89 anos)
Nacionalidade uruguaio
Primeira-dama Lucía Topolansky (c. 2005)
Partido MPP (1989–2025)
Religião Ateu[1]
Assinatura


José Alberto Mujica Cordano (Montevidéu, 20 de maio de 193513 de maio de 2025), conhecido popularmente como Pepe Mujica, foi um político e agricultor uruguaio,[2] tendo sido presidente do Uruguai entre 2010 e 2015.[3][4] Após deixar a presidência, foi senador de março de 2015 até agosto de 2018.[5]

Durante seus anos de juventude na década de 1960, Mujica foi membro do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, um grupo guerrilheiro de extrema esquerda inspirado na Revolução Cubana.[6] Na guerrilha, coparticipou do episódio conhecido como Tomada de Pando, ocorrido em 8 de outubro de 1969, quando os tupamaros tomaram a delegacia de polícia, o quartel do corpo de bombeiros, a central telefônica e vários bancos da cidade de Pando, situada a 32 quilômetros de Montevidéu.[7][8] Em 1972, foi preso e aprisionado junto a grande parte dos membros do grupo.[9] Após a instauração da ditadura civil-militar no ano seguinte, 1973, foi um dos "reféns" que foram usados para ameaçar a organização de não retomar as atividades.[10][11]

Em 1989, foi eleito deputado e posteriormente senador pela Frente Ampla, para depois ocupar o cargo de ministro de Pecuária, Agricultura e Pesca entre 2005 e 2008 durante o primeiro governo de Tabaré Vázquez.[12] Após ocupar a Presidência, foi eleito senador novamente nas eleições de 2014 e nas de 2019.[13]

Exerceu o cargo de Presidente Pro tempore do MERCOSUL até 12 de julho de 2013, quando foi sucedido pelo estreante venezuelano Nicolás Maduro (tal cargo é um mandato rotativo de seis meses exercido entre presidentes dos países membros).[14] Junto de outros líderes de esquerda, fundou o Grupo de Puebla,[15] criada no México em 12 de julho de 2019.[16]



Mujica e sua esposa, Lucía Topolansky


Biografia


Filho de Demétrio Mujica Terra e Lucy Cordano, nasceu em 20 de maio de 1935, no bairro Paso de la Arena, em Montevidéu, Uruguai. Sua família paterna tem ancestralidade basca, vindo da cidade de Múgica e chegando ao Uruguai em 1840.[17][18]

A família de sua mãe era composta por imigrantes italianos. Seu sobrenome materno, Cordano, veio de seu avô Antonio, cujas origens são da província de Gênova, da mesma região de onde veio a família Giorello, de sua avó, Paula. Essa parte da família, de origem piemontesa, era de viticultores muito pobres que compraram em muitas prestações uma terra de cinco hectares, paga com grande esforço.


José Mujica junto ao presidente Tabaré Vázquez e parte do gabinete ministerial

Seu pai era um pequeno agricultor que foi à falência pouco antes de sua morte, em 1940, quando sua irmã Maria Eudosia já havia nascido e Mujica tinha apenas seis anos, no terceiro ano de escola.

Mujica recebeu educação primária e secundária na escola Nº 150 de Paso de la Arena, e tendo terminado o liceu, se matriculou no Instituto Alfredo Vásquez Acevedo (IAVA) para cursar Direito, curso que não chegou a concluir, faltando algumas provas.[19]

Mujica era ateu. Vivia desde os anos 70 com a também ex-militante Lucía Topolansky, casamento que só foi oficializado em 2005. Enquanto presidente, Mujica recebia 230 mil pesos (cerca de R$ 22 122) mensais, dos quais doava quase 70% para o seu partido, a Frente Ampla, e também a um fundo para construção de moradias. Morava em uma chácara em Rincón del Cerro, zona rural de Montevidéu, onde cultivava flores e hortaliças, e com o restante do seu salário — 30 mil pesos mensais, cerca de R$ 2 800 — ele se mantinha. "Por sorte por enquanto tenho minha esposa que 'banca as despesas'", disse o ex-presidente.[20]

Em 2021, o ex-presidente fez uma cirurgia de emergência para a retirada de uma espinha de peixe preso no esôfago, tendo na época sido identificada uma úlcera no local. Em Abril de 2024, foi diagnosticado com câncer no mesmo órgão. No dia 9 de janeiro de 2025, durante uma entrevista para o veículo de comunicação uruguaio Búsqueda,[21] anunciou que, após 32 sessões de radioterapia, o câncer tinha atingido o fígado e estava, por essa razão, morrendo. Informou que tinha encerrado o seu tratamento e pediu para que o deixassem em paz. Aproveitou para anunciar que não iria mais conceder entrevistas e se despediu dos apoiantes com a frase: "E o guerreiro tem direito ao seu descanso”.[22]

Carreira política

Nas montanhas onde seu avô paterno morava, treinavam-se pessoas na época das revoltas de Aparicio Saravia. Já seu avô materno era um herrerista branco, eleito várias vezes prefeito de Colônia, e sua casa foi local de hospedagem de Luis Alberto de Herrera durante cada campanha política.

Seu tio materno, Ángel Cordano, era nacionalista e peronista e teve uma grande influência sobre a formação política de Mujica. Em 1954, com 20 anos, vota pela primeira vez no Partido Socialista, liderado por Emílio Frugoni. Em 1956, conheceu o então deputado nacionalista Enrique Erro por meio de sua mãe, militante de seu setor. A partir daí começou a militar para o Partido Nacional, onde chegou a ser secretário geral da Juventude.[19]

Nas eleições de 1958, triunfou pela primeira vez o Herrerismo, e Erro foi designado ministro do Trabalho, sendo acompanhado por Mujica nessa época. Em 1962, Erro e Mujica abandonaram o Partido Nacional para criar a Unión Popular, junto ao Partido Socialista do Uruguai e um pequeno grupo chamado Nuevas Bases. Nessas eleições, colocaram Emilio Frugoni como candidato a presidente da República, que chegou apenas aos 2,3% dos votos, fazendo com que ele abandonasse o partido na noite das eleições.[19]

Nos anos 60 integrou-se ao Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, com quem participou de operações de guerrilha, enquanto trabalhava em sua chácara, até refugiar-se na clandestinidade. Durante o governo de Jorge Pacheco Areco, a violência aumentou. O Poder Executivo utilizou sistematicamente do princípio constitucional das Medidas Prontas de Segurança para fazer frente as guerrilhas, assim como a crescente oposição de sindicatos e grêmios frente a suas políticas econômicas.

Nos enfrentamentos armados, foi ferido por seis tiros e preso quatro vezes, e em duas oportunidades, fugiu da prisão de Punta Carretas. No total, Mujica passou quase quinze anos de sua vida na prisão. Seu último período de detenção durou treze anos, entre 1972 e 1985. Foi um dos dirigentes tupamaros que a ditadura militar tomou como refém. Os reféns seriam executados caso sua organização retornasse às ações armadas. Nessa condição, pautada pelo isolamento e por duras condições de detenção, Mujica permaneceu onze anos. Entre os reféns também se encontravam Eleuterio Fernández Huidobro, ex-ministro da Defesa Nacional, e o líder e fundador do MLN-Tupamaros, Raúl Sendic, cujo filho — Raúl Fernando Sendic — foi vice-presidente da República no segundo mandato de Tabaré Vásquez, mas renunciou e quem assumiu a vice-presidência foi a esposa de Mujica, Lúcia Topolansky.[23]

Após o retorno a democracia, foi libertado, beneficiado pela Lei n.º 15.737 de 8 de março de 1985, que decretou anistia aos delitos políticos cometidos a partir de 1 de janeiro de 1962.

Alguns anos após a abertura democrática, criou, junto a outras lideranças do MLN e outros partidos de esquerda, o Movimiento de Participación Popular (MPP), dentro da Frente Ampla. Nas eleições de 1994, foi eleito deputado por Montevidéu. Sua presença na arena política foi chamando a atenção das pessoas e, nas eleições de 1999, foi eleito senador.[24] Nesse ano, foi publicado o livro Mujica, de Miguel Ángel Campodónico.[25]

No dia 1 de março de 2005, o presidente da República Tabaré Vázquez, o designou ministro da Agricultura. Seu vice-ministro foi Ernesto Agazzi, que assumiu o cargo em 3 de março de 2008, quando Mujica o deixou para ser pré-candidato à presidência da República.[26]

Presidência do Uruguai (2010–2015)

Candidatura

Mujica com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha presidencial de 2009


Mujica com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em 18 de maio de 2014

Em 28 de junho de 2009, houve eleições internas para escolher o candidato a presidência nas Eleições 2009 pela Frente Ampla, onde Mujica venceu seus oponentes com 52,02% dos votos totais.[27][28][29] Antes das eleições, Mujica recebeu o apoio do Kirchnerismo.[30]

Logo após as eleições internas, Danilo Astori aceitou completar a chapa como candidato a vice-presidente. Em setembro de 2009, foi publicado o livro Colóquios de Pepe, do jornalista Alfredo García, com várias entrevistas gravadas de Mujica, com seu pensamento, suas ideias e frases.

Em 25 de outubro de 2009, Mujica venceu as eleições com cerca de metade do total de votos válidos, o que o validou disputar o segundo turno contra Luis Alberto Lacalle em 29 de novembro. Nesse dia foi eleito presidente com uma porcentagem superior aos 52% dos votos válidos.[31][32]

Resultado do primeiro turno das Eleições gerais no Uruguai em 2009
CandidatoPartidoVotos%
José Mujica Frente Ampla 1.105.277 47,96
Pablo Mieres Partido Independente 57.360 2,49
Raúl Rodríguez Assembleia Popular 14.869 0,67


Resultado do segundo turno das Eleições gerais no Uruguai em 2009
CandidatoVicePartidoVotos%
José Mujica Danilo Astori Frente Ampla 1.183.503 52,60


Mujica com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em 2010

Governo

José Mujica prestou juramento como presidente da República Oriental do Uruguai em 1 de março de 2010, no Palácio Legislativo. Estavam presentes diversas autoridades de diferentes partidos políticos uruguaios e vários representantes de diferentes Kirchner, Rafael Correa, Hugo Chávez, entre outros.[33]

Antes de assumir a presidência inspirada na experiência do socialismo do século XXI efetuada na Venezuela, Pepe definiu como prioridade os seguintes temas: educação, segurança, meio ambiente e energia.[34] Também colocou como um objetivo primordial de sua administração a erradicação da miséria e a redução da pobreza em 50%. Logo após sua chegada à Presidência, a primeira lei que chamou a atenção foi a descriminalização do aborto.[35] A Frente Ampla já havia proposto em 2007 um projeto sobre o tema, vetado pelo então presidente Tabaré Vázquez. Com Mujica, em outubro de 2012, a lei foi aprovada.[36]

A segunda lei progressista aprovada foi a do matrimônio igualitário, de abril de 2013. A legislação permite a adoção também aos casais homossexuais e que a ordem do sobrenome dos filhos seja decidida pelos pais. O Uruguai também fez possível o ingresso de homossexuais nas Forças Armadas. A Igreja iniciou uma campanha de oposição, similar à iniciada pelo Papa Francisco quando ele era cardeal na Argentina e o governo de Cristina Kirchner aprovou projeto do mesmo tipo.

A terceira lei que fez voltar os olhos para o Uruguai foi a legalização da maconha, cujas características da legislação a fazem única no mundo. Já era possível cultivar e possuir a erva para consumo individual, como em outros países, mas agora o Estado passaria a controlar produção, distribuição e venda.[37]

Em 2011, pronunciou-se contra as operações militares lançadas por vários países ocidentais contra a Líbia.

Mujica demonstrou apreço pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, que ele considera ser "o governante mais generoso que já conheci". Também disse que Chávez é "um grande amigo" e que "teve vários gestos enormemente solidários".[38] Apesar disso, Mujica criticou o sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, dizendo que ele se tornou um ditador e fez um "governo autoritário" na Venezuela.[39]

Em termos gerais, a sua política está em conformidade com o mandato anterior. O peso da despesa social na despesa pública total aumenta assim de 60,9% para 75,5% entre 2004 e 2013. Durante este período, a taxa de desemprego caiu de 13% para 7%, a taxa de pobreza nacional de 40% para 11% e o salário-mínimo foi aumentado em 250%. Apoia igualmente o reforço dos sindicatos. Segundo a Confederação Sindical Internacional, o Uruguai tornou-se o país mais avançado das Américas em termos de respeito aos "direitos fundamentais do trabalho, em particular a liberdade de associação, o direito à negociação coletiva e o direito à greve".[40]

Documentário

Em 2018, o documentário "El Pepe, Uma Vida Suprema" do renomado cineasta sérvio Emir Kusturica — que o considera "o último herói da política"[41] — foi agraciado no Festival de Veneza com o Prêmio Enrico Fulchignoni do Conselho Internacional de Cinema e Televisão da Unesco.[42]

Morte

Em abril de 2024, Pepe declarou que enfrentava um câncer esofágico, descoberto após um exame de rotina.[43]

Em janeiro de 2025, Pepe anunciou que suspenderia o tratamento do câncer e disse que estava morrendo.[44][45]

Em 13 de maio de 2025, Mujica faleceu em decorrência de complicações do tumor que gerou metástase nos rins e estava em fase terminal, ao mesmo tempo que enfrentava a síndrome de Churg-Strauss, uma vasculite sistêmica.[44]
"É preciso morrer. Pertencemos ao mundo dos vivos, nascemos destinados a morrer. Por isso a vida é uma aventura maravilhosa. Mais de uma vez na minha vida a morte rondou a cama, desta vez parece que vem com a foice em punho. Vamos ver o que acontece."
— Pepe Mujica[44]

DistinçõesDoutorado honoris causa pela Universidade Federal de Pelotas (2024).[46]

Asteca Contabilidade e Assessoria

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