terça-feira, 16 de agosto de 2016

Brecht, um homem num tempo de desordem

Brecht foi um intelectual do seu tempo, um tempo sombrio, como escreveu
Há 60 anos, fulminado por um ataque cardíaco, morreu Bertolt Brecht, um dos maiores dramaturgos do século vinte, senão o maior de todos. 

Por Joan Edessom de Oliveira*

Sua influência no teatro é reconhecida por correntes artísticas as mais diversas. Marxista, revolucionário, deixou uma marca profunda na poesia e nas artes cênicas. José Antonio Pasta, crítico literário e teatral, afirmou que “Brecht foi o artista que acertou o relógio do teatro com a modernidade”.

O autor de “Os fuzis da senhora Carrar”, “Terror e miséria do Terceiro Reich”, “A vida de Galileu”, “Mãe Coragem e seus filhos”, dentre outros, continua sendo um dos mais encenados da história do teatro.

Sua influência no teatro brasileiro sempre foi muito grande. Grupos como o Oficina, Tá na Rua, Companhia do Latão e muitos outros são tributários do seu legado. Ingrid Koudela, professora da ECA-USP, declarou que “Brecht é um autor brasileiro, porque ele perpassa toda a história do teatro no Brasil, passando pelo Oficina e influenciando grupos até hoje”.

Zé Celso Martinez, brechtiano assumido, disse que “Brecht, acima de tudo, é um grande poeta. Trouxe o teatro épico, tornando os acontecimentos mais banais em ‘fatos históricos’, transparentes à história do mundo”.

Com a ascensão do nazismo, Brecht teve que abandonar a Alemanha, e suas obras foram queimadas em praça pública. No exílio, que durou até o fim da segunda guerra, fustigou violentamente Hitler, não cansando de denunciar as suas atrocidades. Voltou para a Alemanha e lá permaneceu até a sua morte, um intelectual engajado, lutando lado a lado com a classe operária.

Sua poesia, como seu teatro, carrega o épico e o didático como marcas. Brecht foi um intelectual do seu tempo, um tempo sombrio, como escreveu. 

Nos dias sombrios que hoje assombram novamente a Europa e o mundo, nos dias sombrios que nos assombram em nosso próprio país, as palavras de Brecht soam assustadoramente atuais. Vivemos também, hoje, em um tempo “em que é quase um delito falar de coisas inocentes”.

Brecht, para usar as suas próprias palavras, misturou-se aos homens em tempos de desordem, em tempos turbulentos indignou-se com eles, comeu o pão em meio às batalhas, ocupou-se do amor descuidadamente, e assim passou o tempo que lhe foi concedido sobre a terra.

Portal Vermelho

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