sábado, 11 de abril de 2015

Desde a ditadura ninguém metia a mão no bolso do povo desse jeito

E os companheiros que, muito, muito equivocadamente elegeram os 350 picaretas? Como ficam agora quando tiverem seus salários reduzidos em mais de um terço? Que farão quando consumirem menos e, com isso, perderem o emprego? Redução de salário é igual, obrigatoriamente, a redução de postos de trabalho!


Protesto contra o assalto

A última vez que meteram as mãos nos bolsos dos trabalhadores foi na ditadura militar.

O governo Castelo Branco logo disse a que veio e extinguiu a estabilidade no emprego, um dos itens mais reluzentes dos direitos trabalhistas conquistados na Era Vargas.

Em seu lugar, para facilitar as demissões, e nada mais do que isso, veio o FGTS.

O fim da estabilidade foi uma das coisas vitais para que a ditadura acentuasse a desigualdade social no país.

Os ricos ficaram mais ricos e os trabalhadores perderam. Ditaduras de direita sempre funcionam assim.

Meio século depois, um novo assalto aos direitos trabalhistas acaba de ser feito com a aprovação do projeto de terceirização – e é extraordinário que tenha sido obra de congressistas.

Deputados dependem do voto para se eleger e se manter. Por isso, ninguém espera que tomem medidas tão impopulares como a terceirização. É coisa para ditaduras, como aconteceu quando foi posto fim à estabilidade.

Generais não têm compromisso com as urnas.

Que os congressistas tenham feito o que fizeram contra os interesses dos trabalhadores mostra não apenas quanto é conservador este Congresso – mas como os deputados perderam o sentido de pudor e, mais que isso, de sobrevivência política.

Os eleitores haverão de se lembrar de um por um entre os que disseram sim.

O caso mais simbólico é o do presidente do Congresso, Eduardo Cunha. Suas ambições presidenciais morreram com a terceirização. A voz rouca das ruas jamais o perdoará.

Cunha obteve uma vitória no curto prazo, mas arremessou ao lixo suas chances de virar presidente em 2018.

Se há um fato positivo no drama da terceirização, ei-lo.

Os argumentos a favor do projeto não poderiam ser mais hipócritas. Num editorial, o Globo festejou a terceirização porque “corta os custos” das empresas e “aumenta a produtividade”.

Eis o Globo sendo o velho Globo de guerra. A criação do 13.o salário por João Goulart foi tratada como uma calamidade pelo jornal.

Para empresas como a Globo, o mundo ideal é aquele em que o trabalhador não tem direito nenhum além de se esfolar pelos patrões.

É a mentalidade que floresceu entre os capitalistas até meados do século 19. Coube à Alemanha, sob Bismarck, sistematizar as primeiras leis trabalhistas – férias, limite de horas, pensão.

Não que Birmarck fosse bonzinho, mas porque a plutocracia alemã temia a força crescente da esquerda, inspirada por um certo Karl Marx.

De lá para cá, as leis trabalhistas ganharam o mundo. No começo dos anos 1900 a Inglaterra também adotou sua legislação trabalhista que refletia os novos tempos.

É triste notar que, no Brasil, a vida dos trabalhadores só melhoraria muito tempo depois, com Getúlio Vargas, o maior dos presidentes brasileiros.

As empresas nacionais precisam mesmo de salários menores?

A melhor resposta está, mais uma vez, na Globo. Considere a fortuna pessoal dos Marinhos, a família mais rica do país.

É uma obviedade que, se os custos brasileiros fossem elevados, os Marinhos não teriam acumulado uma fortuna tão abjeta.

A terceirização, como o fim da estabilidade, vai contribuir para o crescimento da desigualdade do país.

A desigualdade é o maior problema brasileiro, sabemos todos.

Pois o gesto obsceno dos deputados torna este problema ainda pior do que já é.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

Sobre o Autor: O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

Fonte : Diário do Centro do Mundo

Nenhum comentário:

Postar um comentário