Nove trens estão sofrendo desmonte para servir de almoxarifado. Antes eram cinco. Segundo os trabalhadores, a empresa tem falta de aproximadamente 3 mil itens no setor de manutenção
por Rodrigo Gomes, da RBA
São Paulo – A Companhia do Metropolitano de São Paulo, administrada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), ampliou a retirada de peças de trens para realizar manutenção de outras composições, o que é chamado de “canibalização” pelos metroviários, segundo denúncia do sindicato da categoria. Um mês atrás eram cinco e agora são nove. Os sindicalistas afirmam que há um esquema de maquiagem e transferência contínua entre os pátios da companhia para que não fique visível o desmonte.
Os primeiros trens “canibalizados”, conforme publicou a RBA, foram as composições H59, K09, K17, K21 e L43. A essas se somam os trens L28, L30, L35, I10. São modelos de trens novos ou reformados que entraram em operação em 2010 (frota H) e 2011 (os demais). A frota K, por exemplo, é formada por 25 trens da frota C que foram modernizados – em um pacote de 98 composições modernizadas ao custo de R$ 1,7 bilhão.
Segundo os trabalhadores, o Metrô está com falta de aproximadamente 3 mil itens no setor de manutenção, dentre os quais, bancos de passageiros e de operadores, lâmpadas, faróis, motores de tração, redutores, vidros de janelas, portas, fechaduras, contrassapatas e até extintores de incêndio. Uma situação que vem ocorrendo há dois anos, segundo o sindicato.
Dos trens que estão sendo desmontados tudo o que pode ser aproveitado em outras composições é retirado: fechaduras de portas, bancos, luminárias, painel de operação, freios. Carcaças, placas de isolamento e fiação ficam expostas no interior dos vagões. Segundo o presidente do sindicato, Altino de Melo Prazeres Júnior, o corte que Alckmin fez no repasse dos valores referentes às gratuidades no Metrô – aproximadamente R$ 255 milhões em 2014 e 2015 – é o que está afetando a aquisição de equipamentos e, também, o serviço à população.
No ano passado, por conta do contingenciamento de R$ 66,1 milhões da verba prevista para ser repassada ao Metrô como pagamento pelos passageiros com direito à gratuidade, a companhia fechou o ano de 2015 deficitária em R$ 73,9 milhões. Se o valor tivesse sido entregue, o prejuízo seria de R$ 7,8 milhões.
De acordo com os metroviários, os trens ficam parados no Pátio Itaquera (PIT) ou no Pátio Jabaquara (PAT) e são levados para o Estacionamento Pátio Belém (EPB) onde têm as peças retiradas, mas são maquiados para parecer inteiros. As peças são mandadas para a manutenção e os trens devolvidos ao local de onde saíram. Toda a ação ocorre nos finais de semana, sendo exigida a realização de hora extra dos servidores da manutenção.
Segundo Altino, os trabalhadores do setor de manutenção estão sendo pressionados a liberar os trens para que voltem à circulação, mesmo que não estejam em condições. “A população é a mais prejudicada pela situação atual do serviço. Para que a situação não fique ainda pior existe uma pressão para que os trens sejam liberados, mesmo não estando 100%. Isso faz parte de um projeto do governo Alckmin de precarizar o Metrô para justificar a privatização”, afirmou.
Além desses, outros dez trens que poderiam servir as linhas 1-Azul e 3-Vermelha estão parados porque o sistema com o qual eles operam (Controle de Trens Baseado em Comunicação - CBTC) é incompatível com o sistema implementado na via (Operação Automática de Trens – ATO, na sigla em inglês). São as composições L40, L41, I07, I23, J32, J40, J42, J44, J47 e J48. Por fim, a composição I12 está fora de operação desde 2012 devido a uma investigação do Ministério Público Estadual sobre uma colisão decorrida de uma falha no sistema operacional do veículo.
O número total de trens parados supera a chamada reserva técnica do Metrô, relativa a 10% do total de trens em operação, utilizada para substituir trens que eventualmente venham a falhar. O Metrô opera com 165 trens, e poderia ter até 17 trens ativos em reserva. Hoje há 20 composições inoperantes, segundo os metroviários. A estatal mantém as linhas 1-Azul (Jabaquara-Tucuruvi), 2-Verde (Vila Madalena-Vila Prudente), 3-Vermelha (Barra Funda-Itaquera) e 5-Lilás (Capão Redondo-Adolfo Pinheiro).
O CBTC está operante na Linha 2-Verde desde fevereiro deste ano, mas, segundo os metroviários, vem apresentando falhas e ainda não contribui para reduzir o espaço entre as composições, que aumentaria a oferta de trens à população. O sistema foi adquirido há oito anos, por R$ 700 milhões, e deveria ter entrado em operação em todo o sistema até o final de 2014. "Pelo tempo que este sistema está parado podemos considerar um imenso prejuízo para a população, que até hoje não conta com melhor oferta do serviço, conforme prometido", disse Altino.
Em reunião no Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo, para explicar o que está ocorrendo no Metrô, o diretor de Operações da companhia, Mário Fioratti Filho, disse tratar-se de uma “opção”, uma “estratégia de manutenção” que é feita em metrôs “no mundo todo”. “Se temos falha de uma peça em um trem, que está na garantia, mando a peça para o fabricante e retiro uma outra de um trem que esteja esperando a vez para realização de testes. Assim, não retiro o trem de circulação. Temos uma fila de trens e utilizamos sempre o último da fila”, completou.
Fonte : Rede Brasil Atual
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