terça-feira, 4 de outubro de 2016

Votos brancos, nulos e abstenções superam votação de Doria



Para o secretário de Saúde, Alexandre Padilha, o sentimento da antipolítica é o que sai vitorioso em São Paulo. 'Isso é muito perigoso para a democracia'.

Luciano Velleda, para a Rede Brasil Atual

03/10/2016 11:17

São Paulo – Mesmo eleito no primeiro turno a prefeito de São Paulo, com 34,72% dos votos válidos, o candidato João Doria (PSDB) perdeu ontem (2) para a soma dos votos brancos, nulos e abstenções, que totalizaram 34,84% dos votos válidos. Doria teve 3.085.187 votos, enquanto os votos em branco, nulos e abstenções somaram 3.096.304. Isso significa que um terço do eleitorado paulistano optou por não votar em nenhum candidato, um percentual recorde em eleições na cidade – na eleição de 2012, esse percentual foi de 28,89%.

Para o ex-ministro e atual secretário municipal de Saúde, Alexandre Padilha, o grande número de abstenções e votos brancos e nulos é um fator preocupante, relacionado ao que define como o crescimento da antipolítica. “Ganha no primeiro turno um candidato que fez questão de dizer que não tem nada a ver com a política, que não é da política. A impressão que dá, é que o sentimento contra a política é o que sai vitorioso na cidade de São Paulo, e isso é muito perigoso para a democracia”, disse Padilha, instantes após a entrevista coletiva do prefeito Fernando Haddad no diretório municipal do PT.

Padilha acredita que esse sentimento de antipolítica exigirá do PT, das organizações do campo da esquerda e dos movimentos sociais, a construção na cidade de São Paulo de um espaço de mobilização e resistência. “Uma cidade como São Paulo, com tantas injustiças, tantas desigualdades, tanto preconceito, não pode ser mais justa se não houver um intenso debate político sobre isto, fundamentalmente fortalecendo o exercício da política.”

Segundo o secretário, a elevada soma dos votos nulos, em branco e de abstenções ocorrida na cidade de São Paulo, tem repercussão em todo o país. “Isso é muito ruim porque reforça, no cenário nacional, o crescimento da intolerância, do ataque à política, da destruição de instituições políticas, sejam partidárias ou sociais. Se o significado da vitória do Doria vier a reforçar isto, é muito ruim para a democracia do nosso país. Vamos trabalhar para que não seja este o significado”, afirmou.



Já o secretário de Governo de Haddad, Chico Macena, avalia que a cobertura da “mídia conservadora” tem influência nesse cenário de negação da política. “A mídia levou a população à descrença, a rejeitar a política, e não se pode rejeitar a política, porque é ela que transforma a sociedade”, ponderou Macena. Para ele, tal situação pode favorecer candidatos aventureiros que se apresentam como não sendo políticos, como foi o caso do tucano João Doria em São Paulo, um fator que despolitiza o processo. “Vamos ter que refletir sobre isto, fazer um debate sobre os rumos da política no país, e também discutir com essa mídia conservadora, porque ela não pode levar o país para esse retrocesso. A gente lutou muito para avançar na democracia.”

Para o vereador Paulo Fiorilo (PT-SP), o novo modelo eleitoral, com pouco tempo de campanha, também teve influência em fazer com que um terço do eleitorado preferisse não votar em nenhum candidato. “Isso dificultou o eleitor a se apropriar das propostas e participar mais ativamente do debate. É preciso discutir melhor as regras, porque do jeito que foi quem perdeu foi a democracia diante da quantidade de votos nulos, brancos e abstenções.”

Créditos da foto: JOSÉ CRUZ/ABR/FOTOS PÚBLICAS

Carta Maior

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