terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Salário mínimo e luta de classes

Sejamos claros: quem se coloca contra o reajuste do salário mínimo na verdade quer a redução do poder de compra da maioria absoluta dos brasileiros.

Paulo Kliass*

Ao longo dos últimos anos, alguns substantivos e adjetivos acabaram ficando meio esquecidos, deixados de lado até mesmo pela maioria dos analistas políticos progressistas. Determinadas expressões de análise da dinâmica social, então, nem pensar mais em utilizá-las. Pecado para uns, sintoma de abordagem jurássica pra outros, o fato é que chamar as coisas e os fenômenos pelos nomes adequados passou a ser um incômodo. Mencionar categorias como capitalismo, exploração da força de trabalho ou mais-valia ficou, digamos assim, “démodé”.

Desde que Francis Fukuyama decidiu solenemente que estava decretado o Fim da História, em razão da suposta inevitabilidade histórica da supremacia do liberalismo após a queda do Muro de Berlim e o fim da experiência dos países socialistas, a questão das contradições do capitalismo deixaram de ser levadas a sério. E dentre elas, a oposição fundamental entre os interesses dos trabalhadores e os dos capitalistas. Sim, trata-se daquela contribuição essencial de Marx e Engels para o estudo e a crítica da realidade social e econômica ao longo da História: a famosa luta de classes.

O Decreto apenas regulamenta o previsto na Lei.

Pois a divulgação do novo valor do salário mínimo pela Presidenta Dilma acrescenta um novo ingrediente ao debate. O decreto que fixa em R$ 880 a menor remuneração recebida em nosso País apenas traduz em norma governamental o que está definido na lei n° 13.152, de 29 de julho de 2015, que prevê as regras para reajuste do salário mínimo para o quadriênio 2016-2019. O aumento de 11% é ligeiramente superior à inflação medida pelo INPC em 2015 somado ao pífio crescimento real do PIB em 2014. Então, qual é o grande problema?

O fato é que esse tema reacende os ânimos no Brasil das desigualdades. As gritarias e os esperneios vão desde os que não se conformam com uma política pública definindo regras mínimas de remuneração da força de trabalho até os argumentos mais sofisticados, que invocam as fragilidade das contas públicas para condenar qualquer tipo de vinculação dos gastos governamentais com o salário mínimo. Sejamos claros: quem se coloca contra o reajuste do salário mínimo e a vinculação de despesas sociais a tal valor, na verdade quer a redução do poder de compra da maioria absoluta dos cidadãos brasileiros. Simples assim!

Essa lengalenga é antiga. Desde a época em que o reajuste combinava com a comemoração do dia internacional de luta dos trabalhadores em primeiro de maio até o período mais recente, em que o aumento passou a valer desde o primeiro dia do ano civil. Quando Lula resolveu definir uma regra legal e institucional para esse procedimento, os catastrofistas já se colocaram em ação. Reajuste real do salário mínimo, é óbvio, iria provocar desemprego e aumento do tão falado custo Brasil. As empresas iriam quebrar e as contas da previdência social iriam explodir.

O salário mínimo subiu e o Brasil não quebrou.

Pois o que se viu foi um profundo desmentido da própria realidade sobre as teorias neoliberais e os modelitos do financismo, que sempre se colocaram de um lado muito bem definido na luta de classes. Os salários cresceram acima da inflação, a redução da desigualdade avançou e a crise que vivemos atualmente não tem absolutamente nada a ver com a (ainda baixa) remuneração do trabalhador. Quando a voz solitária do deputado federal, e depois senador, Paulo Paim (PT-RS) propunha fixar o salário mínimo em 100 dólares, todos achavam uma utopia ou uma tremenda irresponsabilidade. Pois ele chegou a valer quase US$ 400 (na época mais brava da valorização artificial da taxa de câmbio) e o Brasil tampouco quebrou por isso. Enquanto escrevo este artigo, o novo menor salário do nosso trabalhador passa a equivaler a US$ 220.

O argumento mais típico do pensamento “casa-grande-e-senzala” não aceita que o grau de desigualdade socioeconômica, que tão bem caracteriza nossas relações brasileiras, seja assim resolvido por conta de ganhos reais de salários. Afinal, os serviços domésticos e pessoais, dos quais nossas elites e parcela da classe média sempre estiveram habituadas a usufruir, ficaram mais caros. Os aeroportos e centros comerciais passaram a ser frequentados por gente que não está à altura desse tipo de frequência. As camadas mais próximas da base da pirâmide se apresentaram nos lugares com seus próprios veículos de passeio. As roupas e os acessórios de grife, pirateadas ou não, passaram a ser de uso generalizado na sociedade. Ora, como é que pode tanta audácia?

A retórica ganha um ponto de maior sofisticação quando se trata de discutir os ganhos reais do salário mínimo com base em seus efeitos macroeconômicos. Nesse caso, um dos focos do debate se orienta para a impossibilidade da economia brasileira suportar esse tipo de reajuste, em razão dos impactos sobre o tão falado “custo Brasil”. Uma forma de organização da produção, do comércio e dos serviços como a nossa, não teria condições de incorporar esse tipo de aumento, uma vez que os ganhos de produtividade não foram alcançados em igual período. A última década e meia se encarregou de demonstrar o oposto.

A mentira do rombo nas contas públicas.

O outro aspecto macro relaciona-se às finanças públicas. Nesse caso, a luta de classes ganha a escaramuça do desequilíbrio fiscal e invoca a premência do ajuste das contas governamentais. Afinal, a responsabilidade do déficit do Tesouro Nacional deve mesmo ser atribuída à fortuna mensal recebida por mais de 33 milhões de beneficiários da previdência social. Sim, pois 69% deles recebem até 1 salário mínimo por mês, enquanto sobe para 84% a parcela dos que ganham 2 salários mensais. Eles devem estar quebrando o Estado brasileiro!

Assim, o total de despesas realizadas pelo INSS ao longo de 12 meses equivale a R$ 434 bilhões, valor bastante inferior ao total de pagamento de juros da dívida pública federal - R$ 511 bi. O déficit previdenciário refere-se apenas ao subsistema dos trabalhadores rurais, uma vez que o subsistema dos trabalhadores urbanos ainda é superavitário. E ainda assim vale registrar o argumento de que as necessidades de financiamento dos agricultores não estão associadas a nenhum “desequilíbrio estrutural” do regime previdenciário. Na verdade, trata-se de uma decisão histórica da Assembléia Constituinte de 1988, que resolveu incorporar de forma cidadã esse vasto setor de nossa sociedade, ao qual era proibido o acesso ao sistema de previdência social até então.

E aqui a luta de classes escamoteia dos meios de comunicação informações relevantes. Por exemplo, 99% dos benefícios rurais são iguais a um salário mínimo. Além disso, a regressividade de nosso sistema tributário faz com que as faixas de menor renda sejam mais afetadas pelos impostos do que as do topo da pirâmide. Assim, mais de 50% da renda mensal das famílias que recebem até 2 salários mínimos voltam aos cofres públicos, sob a forma de tributação direta e indireta.

Já os que se demonstram profundamente indignados com a política de valorização real do salário mínimo contribuem com menos de 30% de sua renda para os tesouros federal, estadual e municipal. Assim, o desequilíbrio estrutural fiscal mais gritante encontra-se na conta de pagamento de juros da dívida pública. Ela apresenta um déficit anual de R$ 511 bi e recolhe pouco de R$ 150 bi sob a forma de tributos sobre essa massa de recursos públicos distribuídos às camadas mais ricas da sociedade. Já os beneficiários da previdência social apresentam um déficit de R$ 80 bi, dos quais R$ 40 bi retornarão ao caixa governamental sob a forma de impostos.

O Globo sugere triplicar o salário mínimo.

Mas o capitalismo funciona assim mesmo desde os seus primórdios: uma dinâmica permanente de luta de classes. Por intermédio de suas entidades, como o DIEESE, os trabalhadores buscam demonstrar que ainda há muito espaço para avançar na melhoria das conquistas salarias (e outras) dos trabalhadores. Já as classes dominantes se expressam por meio de órgãos de imprensa, como o conglomerado dominado pela “famiglia” Marinho, cujo editorial em 31 de dezembro passado tratou do tema. O texto alertava para os riscos de rombo nas contas públicas e qualificava a política de valorização do salário mínimo de “visão econômica tosca”. Ao lançar mão da ironia grossa, suspeita de sua eficácia como instrumento para retomar o crescimento econômico.

E o distraído escriba d’O Globo encerra sua peça com uma pergunta que deveria, na verdade, ser encarada como meta pelos governos ao longo dos próximos anos: “se é assim, por que não triplicar logo o salário mínimo?”. Eis, afinal, uma bela idéia apresentada pelo jornalão.

À luta, companheiros!


* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.


Créditos da foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas


 Fonte  :  Carta Maior









O ódio global

Para o estudioso do marxismo, e o marxismo é um humanismo, é muito deprimente acompanhar a acumulação do capital pelos últimos países não-capitalistas.

O humanismo prioriza a necessidade humana, não a alienação da economia-política determinante de paixões violentas de caráter racial, étnico, religioso, nacionalista.

O capital, em sua expansão destrutiva e militarizada, progride na Criméia e em Latakia, da Ucrânia à Síria.

E, agora, há o confronto entre a Arábia Saudita, sunita, e o Irã, xiita, este com a Síria, também xiita.

Porque tamanho ódio entre xiitas e sunitas ? Após tanto tempo a civilização árabe e persa já deveriam ter superado quaisquer problemas quanto à sucessão do Profeta.

Povos irmãos, contudo, parece odeiam-se de forma incontrolável !

Eu temo que seja mais devido ao fato de que não se trata tanto de alguém ser xiita ou sunita, como ser capitalista ou ainda ser não -capitalista.

Ao que parece Riad está com o capital e Teerã com a Rússia e a China, onde ainda existiria alguma resistência socialista.

A motivação para o conflito seria, pois, bem mais uma questão de economia-política, a exploração do petróleo na região, do que tais questões alienantes do que é esquecido e acaba por irromper como um vulcão.

Os ataques da Rússia ao EI e aos rebeldes na Síria criou um obstáculo ao avanço do capital, mas ele passa a deslocar-se para a crise diplomática entre a Arábia Saudita e o Irã.

Embora histórica e secular a discrepância entre os xiitas e os sunitas do ponto de vista religioso, se ela tenta negar a sua raiz invisível na economia-política nunca se chegará à paz e à paz socialista, mas irá em direção à barbárie.

A crise estrutural do capital é a origem de tais embates, que se conjunturam em falsas aparências.

Perpetua ódios sem tantas razões, provavelmente intrigando os dois lados em seu fanatismo fragilizado por uma educação limitada da religião sem a percepção da luta de classes sociais, que são os elementos básicos por detrás dos conflitos.

O capital em acumulação inclui a guerra de mercado sob as vestes que tiver o militarismo. E ainda enriquece com a fase armamentista.

Trégua ou dilação no Mar Negro e na Síria, e já se arma o conflito, mas na mesma direção da expansão do livre-mercado, agora pelo golfo Pérsico.

As fronteiras do capital tentam chegar à Rússia e à China, em busca da construção do “Estado Mundial” e ...insustentável !

Imaginem uma China capitalista !

Não posso, então, olhar tão perto que só veja xiitas contra sunitas. Há, também, subjacentemente, a economia-política que não é tudo, mas também não pode ser negada. Inclusive porque, ao ser escotomizada ela adquire mais a mais importância a cada dia.

Não seria assim ?

Fernando Neto


Fonte : Ilvaneri Penteado - jornalista do Rio de Janeiro




Por que o Ocidente aceitou em silêncio as decapitações em série da Arábia Saudita


O clérigo Nimr al-Nimr Bakr, executado
Por Robert Fisk. Publicado no Independent

As decapitações em série na Arábia Saudita — 47 ao todo, incluindo a do clérigo xiita xeque Nimr al-Nimr Bakr, seguida de uma justificativa corânica para as execuções – foram dignas do Estado Islâmico. Esse foi, talvez, o ponto. Esse banho de sangue extraordinário na terra da monarquia sunita al-Saud – claramente destinada a enfurecer os iranianos e todo o mundo xiita – voltou trazer o sectarismo a um conflito religioso que o EI fez muito para promover.

Tudo o que estava faltando era o vídeo das decapitações – apesar das 158 decapitações do reino no ano passado estarem em perfeita sintonia com os ensinamentos Wahabi do “Estado islâmico”. “O sangue terá sangue” de “Macbeth” certamente se aplica aos sauditas, cuja “guerra ao terror”, ao que parece, agora justifica qualquer quantidade de sangue, tanto de sunitas quanto de xiitas.

O xeque Nimr não era apenas uma velha divindade. Ele passou anos como um estudioso em Teerã e na Síria, era um líder xiita reverenciado nas orações de sexta-feira na província de Arábia Oriental, um homem que se distanciou dos partidos políticos, mas exigiu eleições livres, e foi regularmente detido e torturado – segundo ele mesmo – por se opor ao governo sunita Wahabi da Arábia Saudita.

O xeque Nimr disse que palavras eram mais poderosas do que a violência. A alegação lunática das autoridades de que não havia nada sectário sobre este banho de sangue, alegando que haviam decapitado sunitas bem como xiitas, é retórica clássica do EI.

Afinal, o EI corta as cabeças dos ‘apóstatas’ sunitas e soldados iraquianos tão facilmente como faz matanças xiitas. Nimr teria conseguido o mesmo tratamento dos bandidos do Estado Islâmico que obteve dos sauditas – embora sem a paródia de um julgamento pseudo-jurídico que lhe foi conferida.

Mas os assassinatos representam mais do que apenas o ódio saudita por um clérigo que se alegrou com a morte do ex-ministro do Interior saudita – o pai de Mohamed bin Nayef, o príncipe Nayef Abdul-Aziz al-Saud -, com a esperança de que ele fosse “comido por vermes e sofresse os tormentos do inferno em seu túmulo “. A execução de Nimr irá revigorar a rebelião Houthi no Iêmen, que os sauditas invadiram e bombardearam este ano em uma tentativa de destruir o poder xiita lá.

Ela vai apresentar ao Ocidente seu mais embaraçoso problema no Oriente Médio: a necessidade de continuar a encolher e rastejar diante dos monarcas ricos e autocráticos do Golfo enquanto expressa suavemente sua inquietação pela carnificina grotesca.

Se o EI tivesse decepado a cabeça dos sunitas e xiitas em Raqqa – especialmente a de um sacerdote problemático como o xeque Nimr – nós poderíamos ter certeza de que Dave Cameron iria tuitar seu desgosto por tão repugnante ato.

As execuções sauditas foram certamente uma forma sem precedentes de dar boas-vindas ao ano novo – não tão publicamente espetacular como a queima de fogos em Dubai, que destruiu um dos melhores hotéis do emirado. Fora das implicações políticas, no entanto, existe ainda uma pergunta óbvia a ser feita – no próprio mundo árabe – sobre a Casa de Saud: os governantes da Arábia Saudita piraram?


Fonte  :  Diário do  Centro do Mundo




Os aliados ocultos de Hitler

Grandes corporações alemãs e até americanas patrocinaram o nazismo, enviaram funcionários judeus a campos de concentração e venderam a tecnologia que tornou o Holocausto possível. Tudo em nome de uma ideologia: o lucro.

POR Redação Super

Cláudia de Castro Lima


A solução final tecnológica
O Holocausto não teria acontecido nos moldes em que ocorreu não fosse a International Business Machines, mais conhecida como IBM. A tradicional empresa de tecnologia organizou toda a Solução Final, o plano de extermínio total dos judeus da face da Terra. Desde o fim do século 19, a IBM dominava uma tecnologia ancestral do computador, os cartões perfurados. Esse sistema, desenvolvido para fazer censos, podia capturar qualquer tipo de informação por meio de furos feitos em colunas e fileiras de um cartão especialmente preparado. Linhas horizontais e verticais tinham significados diferentes e, com o cruzamento delas, obtinha-se a informação, que seria interpretada por uma máquina da empresa.

O equipamento foi bastante útil para o Terceiro Reich. "Com a IBM como parceira, o regime de Hitler pôde substancialmente automatizar e acelerar as seis fases dos 12 anos de Holocausto: identificar, excluir, confiscar, `guetizar¿, deportar e exterminar", diz o jornalista americano Edwin Black no livro Nazi Nexus ("O nexo nazista", inédito no Brasil).

Assim, ficou muito mais fácil para o Reich descobrir quem eram os judeus na Alemanha, onde viviam, em que trabalhavam. Confiscaram seus bens, tiraram seus empregos, jogaram-nos em guetos. Mais tarde, quando eles foram enviados para campos de concentração, a IBM coordenava todos os sistemas de trens para levá-los até lá. Já nos campos, as informações organizadas pelos programas da empresa eram usadas para os mais variados propósitos: gerenciar a mão de obra escrava, quem iria para a câmara de gás etc. O número de identificação tatuado no braço dos prisioneiros de Auschwitz nada mais era, a princípio, do que o número do cartão perfurado da IBM correspondente à pessoa. "Desde os primeiros momentos do relacionamento estratégico com a Alemanha, iniciado em 1933, o Reich tornou-se o maior consumidor internacional da IBM", escreveu Black. Em valores atuais, o serviço prestado aos nazistas rendeu à subsidiária alemã US$ 200 milhões.

Pós-guerra - Hoje, a IBM se limita a dizer que não tem muita informação sobre a guerra e que perdeu o controle de seus negócios na Alemanha no período.

A máquina de batalha

Em fevereiro de 1933, Gustav Krupp, cabeça da Krupp, grupo alemão de aço e armamentos, foi chamado, com outros 24 dos principais industriais da Alemanha, para uma reunião com o Partido Nazista. Hitler anunciou então seus planos, entre eles investir pesadamente nas Forças Armadas alemãs. Krupp, no papel de dirigente da Associação da Indústria Alemã do Reich, espécie de Fiesp de lá, anunciou que a instituição estava alinhada com os objetivos do futuro Führer e que estaria à disposição para ajudá-lo. Ou seja, o grosso do PIB do país, a elite industrial alemã, fechou com Hitler desde o começo.

Em 1936, já governante, Hitler elaborou o Plano de Quatro Anos, cujo objetivo era fazer com que a Alemanha nazista fosse autossuficiente em matérias-primas, essencialmente combustível, borracha, fibra têxtil e metais não-ferrosos - tudo isso como medida de preparação para os planos imperialistas do país. O desenvolvimento de produtos sintéticos foi acelerado, apesar dos altos custos. A produção de aço, por exemplo, subiu de 74 mil toneladas em 1933 para 477 mil em 1938.

"Quando Hitler subiu ao poder, os industriais não falavam uma língua só", diz Jonathan Wiesen. "Mas a maioria estava feliz de apoiar nazistas em vez de comunistas, e de dar suporte a um movimento político que prometia limitar, senão esmagar, o crescente poder dos trabalhadores organizados. Gustav Krupp foi um que se tornou apoiador do regime." Mesmo depois que ele sofreu um derrame e deixou o poder da empresa, em 1941, a Krupp continuou com o governo. Alfried, sucessor de Gustav, deu continuidade ao papel de principal fornecedor de armas e tanques da Alemanha. Durante a guerra, a indústria expandiu suas fábricas para todos os países ocupados, como siderúrgicas na Áustria e montadora de tratores na França. Como grande parte das empresas da época, a Krupp usou mão de obra forçada, com prisioneiros de guerra e de campos de concentração, e também civis dos locais ocupados. Acredita-se que o número de escravos tenha chegado a 100 mil.

Outra grande joia da indústria alemã a usar e abusar da mão de obra escrava foi a Siemens. Ela operava um subcampo em Auschwitz e um em Ravensbrück, na Alemanha, de onde retirou centenas de milhares de operários. Eles fabricaram telefones, telégrafos e rádios para a comunicação militar durante a guerra, componentes elétricos para motores de aviões, equipamentos para geração de energia, estradas de ferro e munições. A empresa ainda foi acusada de ter construído as câmaras de gás nas quais morreram milhões de judeus, mas isso nunca foi comprovado. Já o uso de mão de obra escrava era público e notório.

Pós-guerra - No Tribunal de Nuremberg, 12 pessoas foram condenadas, inclusive Alfried Krupp. Em 1999, a empresa se fundiu a outra grande siderúrgica alemã, formando a ThyssenKrupp. Na década passada, a Siemens começou a pagar indenizações às famílias de seus operários escravizados.

O alimento da guerra

Os negócios do alemão Max Keith viviam tempos difíceis com o início da Segunda Guerra. A empresa que dirigia, filial alemã da Coca-Cola, estava isolada da matriz, em Atlanta, EUA. E do resto do mundo também. A bebida tinha conquistado os alemães nas décadas anteriores, a ponto do país ter se tornado o maior mercado da empresa fora dos EUA. Mas, com a guerra, a Coca-Cola da Alemanha não conseguia importar os ingredientes necessários para produzi-la. Foi então que Keith teve uma ideia: fabricar um refrigerante com o que tivesse a mão. Nascia assim a Fanta.

A fábrica usou o que tinha de disponível, como soro da proteína do leite, subproduto da fabricação de queijo, e fibra de maçã, que vinha da fabricação da cidra. E o principal, as frutas mais fáceis de conseguir: laranja e uva. Keith foi reconhecido e passou a comandar também as filiais da Coca-Cola nos países ocupados pela Alemanha. Convidado a se filiar ao Partido Nazista, ele recusou. Mas enquanto nos EUA a Coca forjava a imagem de ícone americano e parceira inseparável dos jovens do front, sua subsidiária alemã usava mão de obra escrava, especialmente nos últimos anos da guerra.

Além de Coca, os nazistas gostavam bastante dos chocolates da Nestlé. A empresa suíça obteve lucros monumentais em contratos com os alemães. E, mais uma vez, com milhares de escravos em suas linhas de produção. Segundo um relatório elaborado pelo historiador suíço Jean François Bergier, a Nestlé não só usou mão de obra forçada em sua subsidiária alemã como a matriz estava a par de tudo. "Como regra, as empresas não se importavam com a situação. Desde que a produção fosse mantida, elas não pensavam em intervir na política de gerenciamento de suas subsidiárias", afirma o estudo.

Recentemente, outra indústria do ramo alimentício teve seu envolvimento com o nazismo vindo à tona - por vontade própria. A Dr. Oetker, aquela de bolos, sobremesas e chás, encomendou no ano passado um estudo sobre sua história durante o regime nazista. O patriarca, Rudolf-August Oetker, tinha as mãos sujas e era contra a investigação. Mas seu filho August decidiu que o trabalho deveria ser feito.

A pesquisa descobriu que, como muitos industriais da época, o diretor-executivo da companhia, Richard Kaselowsky, filiou-se ao Partido Nazista e doou grandes quantias a Heinrich Himmler, líder da SS (a tropa pessoal de Hitler). Rudolf-August Oetker, seu enteado e sucessor, manteve a proximidade. Em 1941, chegou a se alistar como voluntário da Waffen-SS, responsável pela vigilância dos campos de concentração. Além disso, a empresa também usou mão de obra forçada.

A Dr. Oetker é o mais novo nome em uma lista de empresas que pesquisam o passado que as condena. Esse movimento não é novo. "Desde 1970, uma boa parte das instituições e indivíduos alemães tentam encarar seu passado nazista", diz Martin A. Ruehl, professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e especialista em história intelectual da Alemanha moderna. "Em alguns casos, isso aconteceu em resposta a pressões externas, como nos julgamentos conduzidos nos EUA. Em outros, não houve essa indução." Para ele, essas empresas sentiram necessidade de encarar a própria colaboração para não serem vistas como silenciosas ou complacentes.

Pós-guerra - A Nestlé admitiu o envolvimento e pagou US$ 14,5 milhões para um fundo das vítimas de trabalho escravo. A Coca-Cola pediu desculpas publicamente.

Os Motores do Terceiro Reich

Várias montadoras se envolveram até o pescoço com os crimes nazistas. A BMW usou cerca de 30 mil trabalhadores forçados em sua fábrica durante a guerra. Além de veículos terrestres, prisioneiros de países ocupados e de campos de concentração eram a mão de obra para a produção de motores também para a Luftwaffe, a Força Aérea nazista. A Daimler-Benz, dona da Mercedes-Benz, também fez caminhões e motores de avião. Por volta de 1941, toda a produção dela era voltada para fins militares. Em 1944, cerca de metade dos 63.610 trabalhadores eram prisioneiros ou civis de países invadidos obrigados a trabalhar.

Como vimos no começo da reportagem, não foram só montadoras alemãs que negociaram com os nazistas. James D. Mooney caiu nas graças de Hitler, mas quem decidiu toda a operação da General Motors com o governo nazista foi o presidente da empresa, Alfred P. Sloan. A guerra foi um grande negócio para a GM. Mas, diferentemente da maioria dos colaboradores de Hitler, que tinham no lucro sua maior - senão única - motivação, o presidente da GM tinha razões políticas. "Sloan desprezava o emergente estilo de vida americano trabalhado pelo presidente Franklin Roosevelt. Ele admirava a força, determinação irreprimível e a magnitude da visão de Hitler", afirma Edwin Black.

Figura central da racista American Liberty League, Sloan cooperou em todos os aspectos com os nazistas, dando dinheiro para atividades do partido e demitindo todos seus funcionários judeus. Das fábricas da Opel saíram motores de avião para a Luftwaffe, detonadores de minas terrestres e torpedos. O volume de vendas para o Exército era 40% maior que para civis. Em 1937, quase 17% dos caminhões produzidos pela Opel eram comercializados diretamente com os militares nazistas. No ano seguinte, o número saltou para 29%.

Hitler via na indústria automobilística um parceiro-chave. Ao estimular a criação de um carro do povo (ou volkswagen, em alemão), ele ganhou uma arma política formidável, e um símbolo do boom econômico do governo: o Fusca. Criado pelo engenheiro Ferdinand Porsche, o carro que se tornaria o mais vendido da história foi um sucesso antes e durante a guerra, já que seu sistema de refrigeração a ar permitia atravessar até desertos. A fábrica do carro, que também tinha mão de obra escrava, foi bombardeada, tomada pelos ingleses, devolvida aos alemães depois da guerra e enfim privatizada para se tornar a Volkswagen de hoje.

Hitler foi influenciado pelo Ford T, carro americano muito barato que fez de Henry Ford gênio industrial e um dos homens mais ricos dos EUA. Os dois tinham muito em comum. Antissemita, Ford comprou um jornal para divulgar suas ideias, inspiradas por uma teoria da conspiração recorrente que diz que os judeus têm um plano de dominação do mundo, manipulando imprensa, governos e economias. Os textos viraram um livro, O Judeu Internacional, traduzido em várias línguas. Na Alemanha, onde Ford era venerado como empresário, O Judeu Internacional foi um sucesso ao ser lançado, em 1921. A obra virou uma bíblia dos antissemitas alemães, entre eles Hitler. Na primeira edição de Minha Luta, seu livro-manifesto, há a dedicatória: "Apenas um grande homem, Ford." A devoção ao americano seria depois expressada em uma foto emoldurada em seu escritório.

Empresário visionário e antissemita? Nada melhor para ganhar a admiração de Hitler. Com isso, a Ford explorou o rico mercado alemão, montando inclusive fábricas de veículos militares no país - antes mesmo do início da guerra. Com isso, a Ford da Alemanha mais que dobrou de tamanho entre 1939 e 1945.

Não importava, para os alemães, que a empresa fosse americana. De acordo com Charles Higham, autor de Trading with the Enemy ("Comercializando com o inimigo", inédito no Brasil), empresários dos EUA continuaram de conluio com o governo alemão mesmo depois da entrada do país no conflito, em dezembro de 1941. Na mesma semana em que declararam guerra, os EUA proibiram qualquer negócio com os inimigos. Mas um decreto presidencial permitia algumas exceções, especialmente quando tinha muito dinheiro envolvido. A Standard Oil, de Nova Jersey, transportava o combustível para a Alemanha através da neutra Suíça, e os caminhões da Ford eram fabricados na França (que estava sob domínio nazista) com autorização da matriz, por exemplo.

De seu lado, o governo alemão prometeu que, se saísse vitorioso, as propriedades de alguns empresários americanos não seriam afetadas. "Qualquer que fosse o vencedor, os poderes que faziam o país funcionar não seriam prejudicados", escreve Higham. Dessa forma, os investimentos das subsidiárias de empresas americanas na Alemanha chegaram a US$ 475 milhões na época - dentre eles, US$ 35 milhões da GM e US$ 17,5 milhões da Ford, que fabricou cerca de um terço dos caminhões nazistas.

Pós-guerra - GM e Ford contrataram historiadores para investigar a época. A Ford abriu os arquivos, e um livro sobre o passado da GM foi publicado. Em 2007, um documentário sobre a família Quandt, dona da BMW, escancarou sua relação com o nazismo. A empresa reconheceu isso quatro anos depois. A Daimler admitiu o envolvimento, pediu perdão pela escravidão e se propôs a pagar indenizações às famílias das vítimas.



Coco Chanel revolucionou a moda e virou sinônimo de sofisticação e elegância. Mas, para o serviço de inteligência alemão, a estilista era só um número: F-7124. Entre 1940 e 1944, ela foi agente nazista durante a ocupação alemã na França. A história foi revelada pelo jornalista americano Hal Vaughan no livro Dormindo com o Inimigo - A Guerra Secreta de Coco Chanel, lançado no Brasil em 2011.

A ligação de Chanel com os alemães começou após a ocupação de Paris, quando ela teve um caso com um espião da Alemanha, o barão Hans Günter Dinklage. A função dela era mediar negociações entre os alemães e pessoas de seu círculo social - que, como é de se esperar, era cheio de gente importante. Ela colocou os alemães em contato com o duque de Westminster, então o sujeito mais rico da Europa, e o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill. Tudo em troca da libertação de seu sobrinho André Palasse, prisioneiro dos nazistas. Ou seja, o serviço de agente até tinha um objetivo nobre. Mas o resto, não. Chanel tentou, sem sucesso, se livrar de seus sócios judeus, que investiram nela no começo da carreira.

Outro ícone da moda marcado pelo nazismo foi Hugo Boss. Dono de uma fábrica de roupas, ele recebeu uma encomenda de camisas marrons para o então pouco conhecido Partido Nacional-Socialista. Mais tarde, a agremiação encomendou a produção de seus uniformes. Finalmente, em 1931, Boss virou o membro 508.889 do Partido Nazista. Graças à ligação, ele passou a fazer roupas também para a Juventude Hitlerista e o Exército. Seus lucros subiram de 200 mil para 1 milhão de marcos.

Durante a guerra, Boss usou 140 escravos, que trabalhavam sob condições desumanas, em barracões imundos e com pouca comida. Um dos casos mais chocantes foi o de uma empregada polonesa, Josefa Gisterek. Ela fugiu, foi capturada e mandada para Auschwitz. Boss usou suas conexões para encontrá-la e levá-la de volta à fábrica. Não se sabe sua real motivação, mas, ao chegar à confecção, o capataz a fez trabalhar tanto que ela teve um colapso e se matou, colocando a cabeça em um forno a gás. Boss pagou todas as despesas do funeral.

Pós-guerra - A Chanel diz que o papel de Coco deve ser mais estudado e não admite que ela era antissemita, pois inclusive tinha amigos judeus. A Hugo Boss pediu desculpas formais.

Cineclube do Führer

Toda noite, antes de dormir, Hitler assistia a um filme. No jantar, pegava um de uma lista e levava seus convidados a um cinema privativo na Chancelaria do Reich, em Berlim. Quando seus funcionários alertaram que logo não haveria mais filmes alemães inéditos, ele decidiu ver longas americanos. Suas opiniões eram sempre anotadas. É assim que sabemos, por exemplo, que ele achou Tarzan ruim e que era fã de Mickey e de O Gordo e O Magro. Mas o mais importante dessa paixão por cinema foi a lição política que Hitler teve: filmes são capazes de convencer as pessoas e moldar suas opiniões.

Essas revelações estão em The Collaboration: Hollywood¿s Pact With Hitler ("A colaboração: o pacto de Hollywood com Hitler", inédito no Brasil), lançado no ano passado. No livro, o jornalista australiano Ben Urwand conta sobre a relação de Hitler com os estúdios de cinema americanos. E afirma que Hollywood, pensando em não perder o grande mercado alemão, submeteu-se não apenas à censura nazista, mas também colaborou com a propaganda do regime.

Nos anos 30, para se aproximar de Hitler, Paramount, Columbia e outros estúdios demitiram funcionários judeus. A Fox alterou cenas em que oficiais alemães foram retratados de um jeito que desagradou Hitler em O Lanceiro Espião (1937). A Warner retirou a palavra "judeu" dos diálogos do filme A Vida de Émile Zola (1937). Jack Warner, chefão da casa do Pernalonga, foi o primeiro a convidar oficiais nazistas para Los Angeles, para que eles palpitassem nos cortes que queriam nos filmes. Em 1945, Warner teria ido a um passeio no iate de Hitler, no qual teria discutido oportunidades de negócio no pós-guerra.

A MGM também pegou pesado. O lucro de empresas estrangeiras era proibido de sair da Alemanha. Então esse dinheiro ficava com as subsidiárias, sem chegar às matrizes em outros países. Quem não tinha uma filial e quisesse fazer negócio lá precisava usar seus representantes para dar um jeito, às vezes com certa malandragem nazi. Em 1938, a MGM seguiu uma recomendação dos nazistas e investiu em armamentos para a Alemanha, segundo o historiador americano Tom Doherty, estudioso do envolvimento dos estúdios com o nazismo. Para completar, Joseph Goebbels, o poderoso ministro da Propaganda alemão, teria pedido a Frits Strengholt, chefe da MGM no país, que se divorciasse de sua mulher judia. Ele atendeu o pedido e, segundo Urwand, há evidências de que a ex-esposa foi para um campo de concentração.

O mais espantoso é que não só as esposas, mas muitos dos próprios dirigentes dos estúdios eram judeus. "Assim como outras empresas americanas, os estúdios colocaram os lucros acima dos princípios", afirma Urwand. "Mas Hollywood não era uma distribuidora de mercadorias, era uma fornecedora de ideias e cultura. Eles tinham a chance de mostrar ao mundo o que estava acontecendo. E aqui o termo `colaboração¿ adquire seu significado mais completo." Jonathan Wiesen lembra que toda empresa sabia que o que se passava era uma guerra racial. "Esperamos que elas tivessem dito `não¿ para trabalhar para a guerra? Provavelmente sim, apesar de eu não conseguir imaginar isso acontecendo." Tudo o que se sucedeu foi possível, em boa parte, graças aos esforços financeiros de quem via a guerra como um grande negócio, nos dois lados do Atlântico. E o que mais instiga os especialistas é que provavelmente há dados ocultos. E que, possivelmente, ainda existam muitos arranha-céus imponentes com uma velha suástica escondida em seus arquivos.

Pós-guerra - As denúncias são recentes e nenhum estúdio se manifestou publicamente a respeito.

Os vários Schindlers

O industrial alemão Oskar Schindler salvou mais de mil judeus empregando-os em sua fábrica. A história, contada no filme A Lista de Schindler (1993), de Steven Spielberg, é um dos vários casos de empresários, executivos e funcionários de grandes empresas que arriscaram suas vidas para salvar judeus no Holocausto. Conheça algumas dessas histórias nas próximas páginas.

Frits Philips - Empresário holandês salvou 400 pessoas

Viu a empresa de sua família, a Philips Electronics, virar uma gigante multinacional. Durante a guerra, ficou na Alemanha para tocar as várias unidades do conglomerado, inclusive uma que operava dentro do campo de concentração de Vught. Lá, salvou trabalhadores judeus. Virou CEO da empresa em 1961.

Berthold Beitz - Executivo alemão salvou 800 pessoas

Escondeu judeus em casa com a ajuda da mulher. Como executivo de uma empresa de petróleo, obtinha informações privilegiadas sobre ações dos nazistas, e avisava a comunidade judaica. Salvou 250 pessoas de embarcarem em um trem com destino ao campo de concentração de Belzec, afirmando que eram seus empregados. Assinou falsas permissões de trabalho para livrar judeus de outros campos. Nos anos 50, virou presidente da Krupp

Raoul Wallenberg - Empresário sueco Salvou 25 mil pessoas

Diretor de uma empresa alimentícia, trabalhou como diplomata em Budapeste. Na capital da Hungria, ocupada pelos nazistas, organizou uma rede de resgate que dava abrigo em casas protegidas pela embaixada da Suécia. Foi preso em 1945 pelos soviéticos, e morreu em 1947.

Franjo Sopianac - Industrial croata

Dono de uma empresa de petróleo, vivia com a família em Zagreb, Croácia, então sob domínio nazista. Em 1941, quando as leis antissemitas foram anunciadas e as ordens de deportação começaram, usou os prédios da refinaria para esconder judeus. Ele conseguiu várias permissões de viagem e mandou judeus à zona ocupada pelos Aliados na Itália, livrando-os dos campos.

Alfred Rossner - Empregado de indústria alemão salvou 10 mil pessoas

Administrador de uma tecelaria em Bedzin, na Polônia, que produzia uniformes para o Exército alemão, protegeu empregados judeus e cuidou dos parentes deles, para que não fossem deportados. Também abrigou vários judeus nas fábricas sob sua administração quando houve o extermínio dos guetos. Foi descoberto e preso pela SS em 1943 e condenado à morte por enforcamento.


Fonte : Guida Barreto no Facebo9ok





Onze milhões de trabalhadores nos EUA vivem abaixo da linha da pobreza


Anahi Rubin – Em 1938, o então presidente estadunidense, Franklin D. Roosevelt, criou o salário mínimo, que foi fixado em 25 centavos de dólar por hora. “Um pagamento justo por uma jornada justa”, destacava Roosevelt.

Desde então houve uma série de aumentos, até o salário mínimo ser elevado a US$ 5,15, e mais recentemente em 2007, seria aumentado para US$ 7,25 durante a presidência de George W. Bush.

Cifra completamente insuficiente para 70% dos americanos, que desde 2013 apoiam o aumento do salário mínimo para US$ 10,10 a hora. Mesmo que o presidente Obama tenha prometido em suas duas campanhas eleitorais aumentar o salário mínimo, ainda não o fez a nível nacional, em parte pelo rechaço e bloqueio dos republicanos no Congresso, que argumentam que o aumento salarial implicaria a perda de 500 mil postos de trabalho.

Certamente este será um dos temas importantes que estarão presentes nas próximas eleições presidenciais em 2016. Uma das possíveis candidatas, pelo Partido Democrata, Elisabeth Warren, senadora pelo estado de Massachusetts, é quem está tomando a dianteira neste tema, apoiada por forças do progressismo político e sindical como a AFL-CIO (Federação Estadunidense do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais). Warren assegura que “mesmo que o desemprego tenha caído 5,8%, para milhões de estadunidenses a economia não funciona”.

Warren não se equivoca: 46 milhões de pessoas vivem na pobreza nos EUA; dentro desse número, 14,4 milhões são trabalhadores de meio período e 4,4 milhões trabalham em tempo integral.

De acordo com o Departamento de Saúde e Recursos Humanos dos Estados Unidos, uma pessoa está abaixo do nível da pobreza quando recebe US$ 11.170 por ano e US$ 23.050 para uma família de quatro pessoas.

Quem e quais grupos se encontram nestas categorias

Segundo estudos realizados pelo Pew Research Center, 20,6 milhões de trabalhadores (30% de todos os trabalhadores por hora do país) maiores de 18 anos se encontram na categoria dos que recebem salário mínimo. 50% têm 30 anos, 76% são brancos, 45,8% homens, 54,2% mulheres, 26,7% hispanos e 73,3% não hispanos, 56% têm baixos níveis de educação (apenas secundária) e 37% têm algum grau de universidade.

Referente às regiões onde se concentram a maioria dos empregados com salário mínimo, 36,7% se encontram na região oeste do centro-sul (Arkansas, Luisiana, Oklahoma e Texas), 36,2% na região leste do centro-sul (Alabama. Kentucky, Mississippi e Tennessee) e 31% na divisão do Atlântico-Sul (do Delaware até a Florida). É menos comum na Nova Inglaterra, onde só uma quarta parte (23,4%) dos trabalhadores ganham salário mínimo.

Muitos desses trabalhadores mencionados têm que recorrer à ajuda do governo para sobreviver. Em 2010, 1.847.155 moradias receberam Assistência Temporária para Famílias Necessitadas (TANF, pela sigla em inglês), 18.618.436 vales-alimentação, 65.989.147 seguros-doença (Medica ID, na sigla em inglês).

Segundo investigações, se o salário fosse incrementado, melhoraria a economia nacional, se reduziriam as ajudas governamentais, o aluguel ou a compra de melhores moradias seria fomentado e doenças relacionadas com o estresse laboral seriam evitadas.

Ralph Nader, defensor dos consumidores e ex-candidato presidencial pelo Partido Verde, calculou que “o aumento do salário mínimo beneficiaria 30 milhões de trabalhadores, que em 2014 ganharam menos do que em 1968, tendo em conta a inflação”.

Em 2014, um empregado teve que trabalhar três meses para ganhar o que ganhava seu chefe executivo. Enquanto isso estiver ocorrendo não acontecerá o que o presidente Roosevelt disse: “um pagamento justo por uma jornada justa”

http://www.diarioliberdade.org/mundo/laboral-economia/53725-onze-milhões-de-trabalhadores-nos-eua-vivem-abaixo-da-linha-da-pobreza.html


Fonte  :  Controvérsia