Era tamanha a expectativa em torno de La La Land que ninguém desconfiou quando Warren Beatty e Faey Dunaway anunciaram o prêmio de melhor filme para o longa de Damien Chazelle. Equipe e elenco subiram ao palco, começaram os discursos emocionados e veio a inesperada interrupção. “Na verdade não ganhamos.”
O prêmio fora anunciado errado e era, na verdade do belo Moonlight, de Barry Jenkins. O produtor do musical Jordan Horowitz rapidamente tomou o microfone para dizer: “Houve um erro. Subam aqui, não é uma piada”, interrompeu. “Ficarei muito orgulhoso de entregar esse Oscar aos meus amigos de Moonlight.”
Beatty justificou-se dizendo que, quando abriu o envelope, leu o nome de Emma Stone seguido do título do filme. Fez uma breve pausa, interpretada como tentativa de criar um suspensa, e mostrou o papel para Dunaway, que fez o anúncio. “Parece que estou sonhando”, reagiu Jenkins assim que chegou ao microfone.
O constrangimento da situação se assemelhou a assistir a um casamento que é interrompido no momento em que o padre pergunta se alguém tem algo a dizer contra a união. E lembra muito um dado momento do longa estrelado por Emma Stone e Ryan Gosling, em que os personagens são mostrados vivendo o que poderia ter sido e não foi. A vida imita a arte.
A mistura de gafe e saia-justa veio a calhar numa cerimônia que já se arrastava há pelo menos uma hora, presa às tradições e formatos que a engessam se pensada como um programa de televisão. Uma boa surpresa foi a apresentação de Justin Timberlake logo no início, animando o clima para o início dos trabalhos.
O mestre-de-cerimônias Jimmy Kimmel suou para fugir ao protocolo o máximo que pode. É uma pena que tenha se prendido demais aos modelos que está acostumado a fazer em seu talk-show. A começar pelas dezenas de referências à sua suposta rixa com Matt Damon, piada compreendida apenas pelo público que o acompanha, e pelos quadros que está habituado a apresentar rotineiramente.
Também plantou uma pegadinha com um grupo de participantes de um tour por Hollywood, que supostamente não sabiam que estavam prestes a ser introduzidos no Dolby Theater – a despeito de toda a publicidade e segurança que rondam o local – e entraram no meio da cerimônia fazendo selfies com Denzel Washington e companhia.
Kimmel também brincou com Donald Trump, famoso por seus tuítes críticos nas cerimônias passadas, e seu notável silêncio. Foi o apresentador, por sinal, quem mais fez críticas ou comentários citando a administração do presidente (“Não era bom quando era a Academia que era racista?”), quando mesmo artistas que notoriamente se posicionaram em outras premiações nesta temporada optaram por discursos de aceitação mais pessoais e familiares. Muitos se ativeram a ressaltar a diversidade que o cinema pode celebrar e a empatia que pode causar, sem fazer menção direta à política norte-americana.
A exceção foi a carta enviada pelo diretor de O Apartamento, o iraniano Asghar Farhadi, que não compareceu à cerimônia em protesto à proibição de entrada nos Estados Unidos de cidadãos de nove países de maioria muçulmana. “Minha ausência é um ato de respeito aos cidadãos iranianos e os de outras seis nações que não podem entrar nos Estados Unidos. Medidas como está criam medo (…) Guerras. Cineastas podem virar suas câmeras para criar empatia entre nós e os outros. Empatia que a gente precisa agora mais do que nunca”, declarou o diretor iraniano por meio de sua porta-voz.
Previsto por muitos como o novo recordista do Oscar, La La Land levou apenas seis dos 14 prêmios a que estava indicado. Emma Stone foi premiada como a melhor atriz do ano, assim como a canção City of Stars, que ganhou interpretação de Jon Legend e foi a eleita em canção original. O filme levou ainda as categorias melhor fotografia, direção de arte, trilha sonora e diretor.
Filmes como Lion – Uma Jornada para Casa, Estrelas Além do Tempo e A Qualquer Custo saíram sem nenhuma menção da Academia, enquanto Até o Último Homem recebeu os prêmios de edição e mixagem de som. Já A Chegada venceu apenas edição de som.
Viola Davis foi ovacionada pelo discurso emocionado ao receber o prêmio de melhor atriz coadjuvante por Um Limite Entre Nós. Seu companheiro de cena, contudo, perdeu o prêmio de melhor ator para Casey Affleck, de Manchester À Beira Mar, que ganhou também roteiro original.
A confusão perpetrada pela produção do Oscar não faz justiça às inúmeras qualidades de Moonlight. A atuação impecável de Mahershala Ali foi coroada com o prêmio de ator coadjuvante, assim como o roteiro adaptado por Jenkins e Tarell Alvin McCraney. Por pouco, não perdeu o posto merecido de filme do ano.
É uma pena que a equipe desse potente longa tenha sido privada de seu grande momento de glória ao ter que dividir a cena com tamanho fiasco, lembrado daqui por diante como o dia em que o Oscar trocou os pés pelas mãos. A consagração do filme teria sido ainda maior se Jenkins tivesse levado a estatueta de direção (que ficou com Damien Chazelle, de La La Land) e, assim, se tornasse o primeiro negro a vencer a categoria.
Carta Capital
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