Henrique Preto, Grito da Noite, ancestralidade, tradição afro-brasileira. São ingredientes do samba de bumbo preservado na cidade de Santana de Parnaíba, no interior de São Paulo. E é no carnaval que um dos pilares da música paulista faz ressoar seus bumbos e reafirma a singularidade do seu carnaval. O samba de bumbo continua nesta terça-feira (28), às 20h, em Santana. Confira artigo especial para o Portal Vermelho que relembra essa tradição.
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O samba de bumbo rural paulista, avô do samba moderno está vivo e quer mostrar sua batida.
Por Leandro Daher*
São apenas 40 Km que separam a maior cidade do País de uma das mais antigas tradições registradas. Santana de Parnaíba, cidade da Região Metropolitana da Grande São Paulo é palco do Samba de Bumbo Rural Paulista.
Entende-se que foi o Samba de Bumbo que originou o samba moderno e, dentre os cinco “blocos” mais importantes, dois estão na cidade fundada por bandeirantes.
O samba de bumbo tem como característica principal o som grave, já que ele é composto apenas de bumbos, chocalho e zabumba, essa que dita o ritmo do samba. O principal representante desse movimento é o Grito da Noite, um dos sambas mais antigos do estado e o único que sai em cortejo pelas ruas da cidade, já que os demais se apresentam em forma de samba de roda.
A história do nascimento do samba é conhecida e contada por muitos Parnaibanos.
A energia do samba de bumbo, também foi descrita pelo mestre Mário de Andrade de forma efusiva.
Andrade assim descreveu o Samba: "Enfileirados os instrumentistas, com o bumbo ao centro, todos se aglomeram em torno deste, no geral inclinados pra frente como que escutando uma consulta feita em segredo. É pois a coletividade que decide do texto-melodia com que vai sambar. No grupo em consulta, um solista propõe um texto-melodia. Não há rito especial nesta proposta. O solista canta, canta no geral bastante incerto, improvisando. O seu canto, na infinita maioria das vezes, é uma quadra ou um dístico. O coro responde. O solista canta de novo. O coro torna a responder. E assim, aos poucos, desta dialogação, vai se fixando um texto-melodia qualquer. O bumbo está bem atento. Quando percebe que a coisa pegou e o grupo, memorizando com facilidade o que lhe propôs o solista, responde unânime e com entusiasmo, dá uma batida forte e entra no ritmo em que estão cantando. Imediatamente à batida mandona do bumbo, os outros instrumentos começam tocando também, e a dança principia."
Mário Andrade descreveu o que ainda acontece nas noites de samba, onde fatos mesmo que corriqueiros são transformados em rimas e cantados não só pelos tocadores como pelos foliões que acompanham o bloco. E não precisa ser nada extraordinário, basta uma ronda policial para a rima acontecer.
A polícia dá dando ronda / quem tem faca de ponta esconda.
Hoje, em Parnaíba, ainda vemos as diversas ramificações que nasceram a partir do samba de bumbo Grito da Noite. Uma das coisas mais interessantes de tudo isso é o Galo Preto novamente nas ruas, colocado por um grupo de amigos. Diferente dos antigos tocadores, hoje o Grito da Noite e o Galo Preto desfilam, tocam e brincam o carnaval juntos e sem briga. Além do tradicional Grito da Noite e do Galo Preto, outros sambas são muito importantes para o nosso carnaval, como por exemplo o Esquenta do Sambão, o Samba do Galo Garnisé, O Briga de Galo (a briga fica só no nome), o Votubumbá, o Samba do Vovô da Serra do Japi, o Samba do Pé Vermeio, e o destaque fica para o Berro do Sexo Forte, samba que é tocado só por mulheres.
*Leandro Daher é brincante e batuqueiro do samba de bumbo Grito da Noite.
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