31/07/2017
Voltando à série de TV, suponho que continua oportuna. Na verdade, existem duas atitudes em relação ao que se segue aos regimes de força.
Uma delas é negar a reponsabilidade histórica; a outra, é historiar os tempos mais difíceis.
Além disso, existe a experiência subjetiva de cada um. A meu ver, esta só é avaliada demoradamente. A princípio, através de publicações fragmentadas e, depois, no que eu entendo a etapa dialética do romance histórico lukacsiano.
A história tem um sentido e ele nos encaminha a tempos melhores, quando, como diz a Bíblia : “ Então, conhecerás a verdade e a verdade te libertará”.
Ora, além das considerações que se possam fazer sobre a série, eu notei que, embora com algumas cenas de filmes sobre o Chile, além das que focalizam as nossas aflições, é muito importante a parte em que se descrevem os desdobramentos da violência sobre a estrutura emocional das famílias envolvidas.
Há, por aí, uma reponsabilidade sobre toda a sorte de prejuízos devido às estratégias de sobrevivência que se adotou na involuntariedade do pasmo, no desespero da súbita irrupção das cataduras e a sua lei selvagem, nas contradições históricas em mãos intriguentas e oportunistas.
E surgem segredos na forma do pós-traumático, que buscam conciliar-se com a imposição do antigo silêncio ou o imperativo humanista do perdão.
A anistia é mal- feita na duplicidade de uma ambivalência de heróis. Porque, à aquisição da consciência social, segue-se a crítica do desempenho político e o apelo natural à opção por um sentido histórico.
Eis o problema do Brasil ! A ambivalência entre duas idéias. Entre a glória e o equívoco. Eles se excluem, ainda, não são dialéticos. O que vem antes : o ovo ou a galinha ?
Diz-se que não devemos reabrir as feridas da época da ditadura. Mas a ditadura é um carnegão que pede a lanceta.
E não só nos campos de batalha, mas nas casas de nossas famílias na continuidade traumática dos mutismos, nas comemorações nem- sabidas- por- todos, nos segredos que só lentamente são revelados às velhas e novas gerações. Como na série !
É como se ela, embora ainda a informação fragmentaria, dividida nas polaridades circunstanciais da época, já nos apontasse o horizonte iluminado do romance histórico e a sua etapa futura.
Fernando Neto
Ilvaneri Penteado - Jornalista - Rio de Janeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário