domingo, 24 de setembro de 2017

Coluna do Fernando Neto : O MÉTODO II

21/09/2017
Quanto ao termo mutações é um termo de Darwin, a que Marx pensou até em dedicar a sua obra “O Capital”. 


E as conferências do ciclo não deixam de abordar o marxismo, mas sem qualquer aderência exclusiva ou radical. 

Pode-se admitir, ou não admitir, a engeliana “dialética da natureza”, mas é mais difícil negar o materialismo dialético. 

O culto da universalidade do pensamento, hoje em torno da revolução científico-tecnológica, porém, não poderia deixar de citá-lo sem o concurso da atualização feita pelas mentes que persistem em seu método. 

No esforço de decifração de exposições complexas em sua erudição, busco integrar ao pensamento marxista algumas anuências e outras contestações, talvez pertinentes. 

Há, ao que parece, páginas sobre o “ultrapassado” conceito de revolução, estudado desde o étimo copernicano, até a natureza do que já padece no “par conceitual crise/revolução” de “sinais abundantes de superação”. 

A argumentação não é nova, já que desde sempre o marxismo é acusado de utopia. Mas, agora, as acusações de estar ultrapassado no método e na pretensão de socialismo global, decorrem do progresso e do progresso do capital em suas muitas formas “a-dialéticas”. 

Escreve, por ex., Luis Alberto de Oliveira em “Novas Configurações do mundo” :

“Como observou Valery, a humanidade se acha em risco de perder suas duas maiores invenções, o passado e o futuro. Se, de fato, a atualidade se vê embebida na abundância dessa lacuna, se o estado de crise se acha assimilado ao próprio fundamento sobre o qual se instalara, talvez não seja mais o caso de buscar-se entender esta atualidade – e seus potenciais desdobramentos futuros – a partir do manejo e práticas pertinentes ao plexo crise/revolução, mas sim empreender a explorações dos caminhos conceituais que se podem vislumbrar sob uma perspectiva renovada : a da díade mutação / refundação. Para além do momento crítico, a declinação imprevista, rumo a outras possibilidades : para além do momento crítico, a declinação imprevista, rumo a outras possibilidades, para além do constituído, o processo de reconstrução.(...) e seguem-se alusões à “errância” da teoria da evolução biológica, o homem à “deriva” e o conceito de “mutação” temo que para além da...barbárie. 

Talvez isso seja tentar ir longe demais, quando a perspectiva do nosso progresso social, atualizado o marxismo, já se propõe, com a alternativa de Rosa Luxemburg, agora no limite absoluto do capital, no limite absoluto do equilíbrio nuclear e no limite absoluto de desequilíbrio ecológico, já se propõe protagonizar a barbárie. 

Dizer dela não ser dialética, ou acusar Rosa de determinista por uma... alternativa é absurdo. 

Se há coincidência entre o progresso e o capital ele segue, ou não segue, para o socialismo. No último caso, podem-se cogitar de barbáries e barbáries. 

É do mesmo texto, o seguinte : 

(...) Isto é, após séculos de expansão geográfica muito bem- sucedida, o capitalismo triunfou em recobrir todo o seu domínio de operação e embeber-se profundamente em seus próprios realizadores. 

Exatamente por esse sucesso. depara-se agora com um desafio de outra ordem: seu confronto não se dará com os valores do trabalho, ou da ética, ou mesmo das religiões; a todos esses o capitalismo dobrou, a todos ele assimilou. Pois o capital é o solvente supremo : tudo que ele toca transforma em capital. Ao alcançar a escala do planeta e da humanidade, porém, o capital se depara com uma nova alteridade: as das leis inflexíveis da física, da química, da termodinâmica, da biologia, da ecologia. “

Aqui eu veria a atualização do marxismo que faz István Mészáros quando no seu “ Para Além do Capital”, descreve a crise estrutural, diferente das de superprodução, quando ela já é única, geral, global, irreversível e rastejante. E permaneço, ainda, não sei por quanto tempo, admitindo a dialética das crises constatadas pelo método do materialismo dialético. 


Quanto à especialidade do físico, faria notar entre a coincidência dos limites absolutos citados, o equilíbrio nuclear, cada vez mais numeroso e instável, quando a acumulação do capital a virar o mundo já está a cercar os últimos países de tradição socialista. 

Não seria assim ?


Fernando Neto

O que se entende por fim da humanidade? ou O fim do progresso como fim Luiz Alberto Oliveira.Parte superior do formulário




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