A Folha descobriu hoje que o “Governo Temer privilegia pautas dos “conservadores e empresariado“.
Ainda que não seja novidade, o número de “solicitações atendidas” do empresariado e dos ruralistas, exposto na reportagem – 29 das 36 apresentadas pela Confederação Nacional da Indústria e 13 das 17 que vieram dos ruralistas – mostra que não se pode falar em falta de alinhamento e representatividade de Michel Temer.
Se lhe faltam alinhamento e representatividade popular, isto sobra em relação aos grandes empresários e agronegociantes.
Isso é mais trágico do que, propriamente, a presença de um tipo assim medíocre e comprometido na Presidência da República: temos classes dominantes que têm uma visão de Brasil onde o Governo não tem papel algum senão o de lhes fazer as ambiciosas vontades, jamais de ser o mediador nacional de aspirações que faça o país caminhar de maneira coerente com o conjunto que é.
Numa sociedade de fossos que, historicamente, quase sempre foram intransponíveis, isso significa que as rachaduras que roubam a força e a estabilidade deste gigante voltaram, depois de pouco mais de uma década de dolorosa cicatrização, a se abrir.
O que não impede, como se vê na reportagem da Folha, que os tais “líderes empresarias” das indústrias e da agricultura, comemorem os nacos de direitos sociais (os dos trabalhadores e os da coletividade, via impostos) que conseguiram arrancar, quase sem esforço, desta administração servil. Não percebem ou não se importam com o fato de que seus negócios não têm horizontes sequer de médio prazo num país que se desfaz em pedaços.
Na esquerda brasileira, para alguns, isso é sinal de que se rompeu um imaginário “pacto de classes” atrasado, que é como vêem as formas reais que o povo brasileiro viu para conseguir avançar, em desenvolvimento e direitos. É assim que sempre viram, desde o Getúlio do “pai dos pobres-mãe dos ricos” até o o Lula e sua “política de conciliação”, sem compreender que ruptura, no Brasil, é sempre uma política de direita, porque acentua aquelas rachaduras das quais antes se falou e, com elas, uma instabilidade política maior que só servem para aprofundar os fossos que nos afastam de um indispensável projeto nacional.
Como as antigas “candinhas” ficam absorvidas pelo “escândalo do dia” que lhes produzem a trinca polícia-procuradores-juízes, sem perceber que a criança vai fora com a água suja do banho.
A população, entretanto, não é tão míope assim. No que lhe consideram fanatismo, fisiologismo, idolatria e outros “ismos” e “ias” percebe isto com a lucidez que a sua dura vida faz sobreviver à tempestade midiática que conjuram sobre ela.
Embora, como em toda pesquisa distante ainda de eleições, os números devam ser considerados com prudência, a ascensão da aprovação a Lula em um ano (de 30 para 40% em um ano) e da desaprovação do “santo” Moro, no mesmo período ( de 27 para 45%) indicam que as placas tectônicas do Brasil se movem em direção inequívoca e em sentidos opostos.
Pelo desgaste não se vai tirar Lula do papel de referência do Brasil que não está nas pautas privilegiadas dos privilegiados de 500 anos. Será preciso arbítrio, ódio e violência, e já se percebe o que isso acaba por provocar, nos números da pesquisa Ipsos citados, publicados no Estadão.
O resto deles nem cito, reproduzo ao final, porque é (e são, seus personagens) irrelevante.
As rachaduras aumentarão e prédio que cai leva junto os que acham que dele são os únicos donos.
Tijolaço
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