sábado, 23 de setembro de 2017

Toussaint L´Ouverture: contribuições para as atuais lideranças de trabalhadores



A obra "Os jacobinos negros - Toussaint Ouverture e a revolução de São Domingos" de autoria de C.L.R. James, introdução editorial de Flávio Aguiar e tradução de Afonso Teixeira Filho, editado pela Boitempo Editorial, 2000, 2010, relata a Revolução em São Domingos nos final dos anos 1700.


Ela coincidiu no tempo com a Revolução Francesa e com a Revolução dos colonos nos Estados Unidos.

Toussaint foi um negro escravo que, ao se tornar livre promoveu a libertação dos escravos de lá, numa revolução que modificou a face do território. Da Guerra Civil, na luta contra os invasores ingleses e espanhóis, e no governo revolucionário onde, a seu jeito, procurou construir uma nação onde houvesse lugares para negros libertos, mulatos e brancos. Não foi fácil, mas Toussaint conseguiu avançar, e muito, nesse terreno.

Vou transcrever a seguir um pequeno trecho da obra que nos dá dicas sobre a personalidade de Toussaint e seus feitos políticos e militares, que podem servir a aqueles que, hoje, pretendem liderar os trabalhadores e governar para eles.

Como se governa para o povão recém-liberto?

"O povo estava fortemente disciplinado. Mesmo quando irrompeu em Le Cap e ameaçou Roume, a sua conduta foi ordeira; nada destruíram, simplesmente entregaram as suas exigências de que fosse interrompido o tráfico de escravos para a São Domingos espanhola e esperaram.

Na verdade, o movimento popular adquirira uma enorme confiança em si mesmo. Os antigos escravos derrotaram os colonos brancos, espanhóis ou franceses, e conquistaram então a liberdade. Estavam conscientes da política francesa, pois esta lhes dizia respeito de perto. Homens negros, antes escravos, eram, então, deputados do Parlamento francês; homens negros, antes escravos, negociavam com o Governo francês e com governantes estrangeiros; homens negros, antes escravos, preenchiam os mais altos postos da colônia. Havia Toussaint, antes escravo, inacreditavelmente grandioso, poderoso e de longe o maior homem de São Domingos. Não era preciso ter vergonha de ser negro. A Revolução os despertou, tornou-lhes possíveis as realizações, a confiança e o orgulho. Aquela fraqueza psicológica, aquele sentimento de inferioridade, com os quais os imperialistas envenenam os povos de todas as partes, desapareceram. Roume e outros franceses que viviam em São Domingos e conheciam o povo criado pela Revolução não se cansava de alertar o Governo francês da catástrofe que acompanharia qualquer tentativa de restaurar a escravidão, ou mesmo de impor a sua vontade sobre essas pessoas através de qualquer meio de força. Os mulatos e os velhos negros livres ressentiam-se do despotismo de Toussaint, mas as massas, a princípio, tinham nele inteira confiança".

Desse rico texto podemos tirar algumas lições proveitosas. Que a Revolução, e não uma política de conciliação com os poderosos cria cidadãos livres e conscientes, em condições de sustentar qualquer governo que se volte para os seus interesses presentes e futuros, e adquirem condições de dirigir a nação sem mendigar o apoio das antigas classes dominantes.

Há 100 anos passados a Revolução Soviética de outubro, na Rússia, também colocou os operários com pouca ou nenhuma escolaridade nos ofícios de dirigir o estado em criação.

Se nós voltarmos ao governo nos próximos tempos, não podemos esquecer as lições dos jacobinos negros de São Domingos.
Zé Augusto

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