quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Oi nóis aqui traveis...

Meu amigo, companheiro de lutas e líder metalúrgico em Itu nos anos 1980 e 1990 Wilson Fagundes, já falecido, tinha tiradas geniais. Dizia que em Itu tudo era grande, principalmente o desemprego, a fome e a miséria...

Por diversas vezes os sindicalistas comandados por Lazinho e por Wilson Fagundes conquistaram no voto a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Itu, reorganizavam a entidade, providenciavam o saneamento de suas finanças, botavam o Sindicato tinindo. Aí vinha o Ministério do Trabalho, decretava intervenção nos Metalúrgicos e colocava no lugar dos autênticos, notórios pelegos. Estes, quando saiam do Sindicato deixavam-no desorganizado e com rombo nas finanças.

Em seguida, os companheiros lutavam retomavam o Sindicato punham tudo em ordem outra vez. Aí lá vinha nova intervenção e novo rombo nas finanças.

Na última das intervenções, ao retornarem ao Sindicato, Wilson Fagundes colocou na fachada do prédio da sede, uma faixa onde se lia: 

"Fingimos que fumos e vortemos, oi nóis aqui traveis..."

No início de novembro, absolutamente contra a minha vontade, fiz uma viagem pelo Vietnam, Combodia e Tailândia, comprada à prestação em 2016.

E por que o cara aqui não queria ir?  Porque a viagem se iniciaria em 3 de novembro, sendo que, 7 dias depois, entraria em vigor a Deforma Trabalhista. Tinha grandes esperanças, que não se concretizaria, dos trabalhadores reagirem vigorosamente com greve geral por tempo indeterminado, passeata, e quem sabe, botar para correr os seus inimigos incrustados no Executivo, Legislativo e Judiciário... Ou seja, passarem o rodo na cachorrada como cada vez urge fazer e de forma crescentemente radical.

Achava que minha presença seria importante num momento de tão grave transição. Mas, como sabemos, ainda não foi desta vez que o povo se levantou, mas, não tenho dúvidas de que, quando não conseguirem mais colocar caroços de feijão na panela o pau vai comer...

Logo de cara vi que, quanto à viagem, estava redondamente enganado. Ela foi maravilhosa. O Vietnam, segundo a opinião dos quase 30 membros do grupo de turistas do qual participávamos, foi o país mais bonito e próspero dos três. Muito organizado, sem violência nas ruas, logo sem polícia à vista, possibilitava os turistas deslocarem-se à vontade e, exercerem sua função de "compristas inveterados".

A República Socialista do Vietnam é um pais cuja economia é capitalista, mas, funciona num estilo aproximado da China. Nele o estado é ocupado pelo Partido Comunista do Vietnam, partido único que exerce todas as funções pertinentes ao estado. Existem indústrias e uma companhia aérea estatal a Aerolíneas Vietnam, muito boa por sinal. E duas estações de TV onde a programação é dirigida à formação política da população,  Tem 90 milhões de habitantes sendo a maior cidade a atual Ho Chi Minh, antiga Saigon, com 9 milhões de habitantes.

Cambodia é um pais feudal, com 90% da população no campo. É monarquia constitucional com democracia multipartidária cujo monarca Norodon Sihamoni empossado rei em 2004 por seu pai Norodon Sihanouk.

O príncipe Norodon Sihanouk foi a verdadeira liderança política do país. Deu as cartas lá de 1941 até 2012, sendo monarca várias vezes, colocando o pai e o filho como monarcas quando assim o desejou, elegendo-se presidente, primeiro ministro e exercendo todos os cargos que quis durante esse tempo todo. Uma carreira política impressionante.

A Tailândia também é monarquia constitucional, democracia multipartidária, com 90 milhões de habitantes, dos quais, 70% no campo. Um pais capitalista ao estilo ocidental. Bankok, sua capital, possui 11 milhões de habitantes sendo uma São Paulo piorada, com um trânsito infernal.

Interessante destacar que, em todos esses países a quantidade de motocicletas, motonetas, o antigo rikjá tocado por motoca, é impressionante, especialmente no Vietnam e Cambodia.

A paisagem é linda, a alimentação muito boa baseada no arroz, verduras e legumes, e carne de porco e frango em toda a região. 

Aqui estou, novamente, para enfrentar a barra que está pra lá de pesada como todos sabemos. Mas, como diziam os metalúrgicos do ABC nos anos 1980, "A luta continua"!
José Augusto Azeredo

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