Pense duas vezes antes de querer a volta dos militares. As suas intenções de mudar o país podem ser boas, mas confiar nos militares é carecer um pouco de história
Por Lucas Pitta Klein
11/06/2018 11:43
Créditos da foto: Arquivo Nacional
Estou há alguns dias pesquisando Artigos Científicos (UFF, Unesp, Unicamp, IBGE), livros de história, e lendo os documentos da Comissão Nacional da Verdade (3,5 mil páginas). Vamos aos NÚMEROS mais cruéis da DITADURA MILITAR:
O período analisado é de 21 anos (7644 dias) mas vamos pegar apenas em dados pós AI-5 - o que dá 5.914 dias - que é o que a própria C.N.V. sugere.
434 MORTOS E DESAPARECIDOS
dá uma razão de uma morte a cada 13,6 dias.
Isso SÓ os oficialmente comprovados.
Já em números extraoficiais, somando os assassinatos de campesinos (756) e indígenas (8300), chegamos a um montante de 9490 mortos pela ditadura. O que dá uma morte a cada 0,6 dia. A cada 14 horas, no mínimo, a ditadura assassinou um ser humano no Brasil por motivações ideológicas.
A ditadura militar no Brasil foi, no mínimo, GENOCIDA.
Sem contar as agressões aos direitos humanos que o CNV não deu conta de especificar mas é estimado pelo jornalista e historiador Luiz Claudio Cunha (14 livros, 19 prêmios) em que se diz que aponta em média 500 mil cidadãos investigados pelos órgãos de segurança; 200 mil detidos por suspeita de subversão, dez mil torturados nos porões do DOI-CODI e outros dez mil brasileiros exilados. Entre os quais até crianças de 3 anos de idade entraram pras estatísticas (todas acima).
Pelo menos 10 tipos de tortura: Pau-de-arara, Choque elétrico, Pimentinha, Afogamento, Cadeira do Dragão, Geladeira, Palmatória, Produtos Químicos, Agressões Físicas (Estupros / Concha nos ouvidos) e Torturas Psicológicas.
Pelo menos 11 tipos de Crimes/Corrupções: Superfaturamento (de obras), Desvio de Dinheiro Público, Contrabando, Envolvimento com Tráfico de Drogas, Obstrução de Justiça, Enriquecimento Ilícito (por Suborno, Propina, Extorsão, Caixa 2 e Benefícios Fiscais).
Casos: Ponte Rio Niterói / Transamazônica / Hidrelétrica de Águas Vermelhas e Tucuruí / Empréstimos no Banco do Brasil / Fraude do Farelo / Caso Luftalla / Caso Delfin / Caso Ge / Caso Capemi / Caso Coroa-Brastel / Caso FIAT / Caso Montepio / Caso FRONAPE / Caso Light / Caso Alcoa / Caso BUC / Caso Halles / Caso Eletrobrás / Caso Ipiranga / etc. Pelo menos 21 militares receberam funções em grandes empresas do estado e privadas. O Geisel chegou a ser presidente da Petrobrás e depois fez carreira em empreiteiras e petroquímicas (como a Braskem - braço petroquímico da petrobrás) - só pra fazer um gancho com hoje em dia.
Em resumo, encontrei entre 30 e 40 graves e caríssimos casos de corrupção (casa do bilhões de reais) que não ficamos sabendo porque foi ferida a Lei de Imprensa e foi obstruída a justiça. Entre os envolvidos: Delfim Netto / Costa e Silva / Geisel / Figueiredo / Médici / Sérgio Fleury / Newton Cruz / Oscar de Freitas / Amaury Kruel / Antônio Carlos Magalhães / Ademar de Queiroz / Artur Moura / Golbery Couto e Silva / Luiz Faro / Haroldo Leon Peres / Carlos Ustra... entre outros muitos militares (pelo menos uns 20 a mais).
Suprimiram o direito de greve e de manifestação (e de habeas corpus), fecharam 1202 sindicatos, diretórios e agremiações (até a UNE), proibiram existência de pluralidade de partidos, fecharam o congresso nacional 3x, impediram o povo de escolher presidente por 25 anos...
"Ah, mas pelo menos era mais seguro". Também não. de 1920 a 1960 a taxa média de homicídios era de 5 a cada 100 mil habitantes. Em 1968 se tornou 10 e pulou para 37 a cada 100 mil, em 1985. Ou seja, piorou em 7x.
Sem falar no completo desastre econômico: O custo da dívida externa subiu de 4 bilhões em 1964 para 114 bilhões em 1985, apenas QUASE 30 VEZES em 20 anos. A dívida interna foi ainda pior, em apenas dez anos cresceu absurdos 525%. A dívida pública chegou a 117% do PIB em 1984 e hoje consome quase 50% do PIB brasileiro sendo que tinha valores irrisórios antes da ditadura. Além do que os militares deixaram o Brasil com 240% de inflação acumulada.
Em 1974, a inflação foi de cerca de 35%, mas o ministro Delfim Netto decretou que tinha sido de 14%, e todos os salários, por exemplo, foram reajustados por esse índice, baixando violentamente a renda dos trabalhadores.
Castello Branco desobrigou o governo a investir coeficientes mínimos em educação e saúde. A decisão resultou na contínua redução do orçamento do MEC, que saiu dos 10,6% dos gastos totais da União em 1965 para 4,3% em 1975 e os gastos com Saúde foram de 4,29% em 1966 para 0,99% do orçamento da União em 1974.
Caro cidadão brasileiro, pense duas vezes antes de querer a volta dos militares. As suas intenções de mudar o país podem ser boas, mas confiar nos militares é carecer um pouco de história. #Compartilhe Faça a informação se disseminar.
*Publicado originalmente no Facebook do autor
Carta Maior
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