segunda-feira, 18 de junho de 2018

Não jogue fora a camisinha

por Redação
publicado 17/06/2018 00h10, última modificação 15/06/2018 12h54

A pílula que previne o vírus HIV é eficaz, mas não dispensa outros métodos contra males sexualmente transmissíveis entre gays


Istockphoto
O abandono dos preservativos masculinos tem coincidido com o surto de infecções sexualmente transmissíveis

A PrEP é um progresso obtido pela ciência médica como prevenção ao vírus HIV. São pílulas retrovirais recomendadas para pessoas não infectadas. O que é uma bênção tem se revelado, porém, um perigo paradoxal. É que o grupo de risco – aponta um estudo recente – passou a acreditar tão convictamente no recurso medicamentoso que foi abandonando outro básico e banal método de prevenção: a camisinha.

Os pesquisadores chamam o fenômeno de “compensação de risco” e o comparam com o que aconteceu em muitos lugares, quando o cinto de segurança se tornou obrigatório. Os motoristas encheram-se de tanta confiança que passaram a pisar no acelerador e o número de acidentes fatais aumentou, em vez de cair.

O alerta foi divulgado na publicação online The Lancet HIV após estudo que investigou 17 mil homens de Sydney e Melbourne, na Austrália, que tiveram relações homoeróticas entre 2013 e 2017. Nesse período, o consumo diário de pílulas PrEP saltou de 2% para 24% dos entrevistados. Ao mesmo tempo caiu de 46% para 31% o uso de camisinha entre parceiros do mesmo sexo. 

Não vem ao caso duvidar da eficácia das pílulas de prevenção ao HIV. Elas são comprovadamente eficientes. O problema é que o abandono dos preservativos masculinos tem coincidido com o surto de infecções sexualmente transmissíveis, como a clamídia e a sífilis velha de guerra.

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A polêmica está instalada no campo científico: uma coisa tem mesmo a ver com a outra ou será mera coincidência, agora que as infecções sexualmente transmissíveis passaram a merecer maior atenção das estatísticas? Esta última é a hipótese esposada, por exemplo, pelo doutor Kenneth Mayer, do Fenway Instituto, de Boston, um especialista em atendimento a lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. 

O líder da pesquisa, Martin Holt, cientista social da Universidade de New South Wales, em Sydney, acredita que as campanhas públicas em favor da PrEp insistiram em propagar a panaceia de que as pílulas de fato são, na prevenção ao vírus HIV, mas se esqueceram de que uma “saúde sexual” em pleno sentido exige cuidados em relação a outros perigos. Nesse sentido, a pesquisa de Martin Holt é profundamente reveladora.

O cientista admite que há quem resista ao uso do preservativo, especialmente agora que existe um medicamento preventivo. O preço da liberdade, diz ele, é passar por exames mais frequentemente do que os escravos da camisinha. 


Carta Capital




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