Futebol de amputados mostra que não é apenas um jogo, ele é na maioria das vezes o detalhe mais importante da vida
O futebol é paixão, e a paixão acentua as coisas, deixando quase tudo à flor da pele. No caso brasileiro, o futebol talvez seja mesmo a maior paixão coletiva da nossa sociedade, uma verdadeira cultura de multidões. Mas está enganado quem acha que futebol é só futebol. Os graves problemas sociais, estruturais e econômicos do país, somados aos problemas característicos do futebol, ajudam a entender toda a vida social. E, além disso, podemos ver diversas histórias de superação e amor por meio da bola.
Entre elas, está o futebol de amputados, modalidade que vem transformando vidas fora de campo. Os jogadores do Corinthians e Santos mostraram na última semana, no Campeonato Paulista, em Sorocaba, que não é só competição. Quim Bernardes, fisioterapeuta e técnico Paraolímpico, aponta que muito desses jogadores vieram da Várzea e alimentam esse sonho de ser jogador de futebol mesmo com a deficiência, pois eles têm a chance de vestir a camisa de um time grande ou representar o Brasil fora do país. Eles começam a enxergar a amputação com outros olhos, pois estão abrindo portas e ampliando seus sonhos.
O jogador do Corinthians Wesley Freitas, de 20 anos, disputou em 2015 um campeonato em São Paulo, com o time E.C. Eledy, em que foi campeão e com isso recebeu uma vaga para disputar a copa dos campeões no interior. Porém, perdeu os movimentos após uma fratura e em uma emergência no HC recebeu o diagnóstico de tumor osteossarcoma. Com o resultado, teve que amputar a perna. “Aquele momento parecia o fim do meu sonho de ser jogador, mas no meio do ano de 2017 conheci a modalidade de futebol de amputados e isso mudou minha vida e autoestima,” conta.
“Fui convocado para a Copa do Mundo em 2018 e ficamos em 3º lugar, foi um sonho realizado. E hoje sou jogador da seleção do Corinthians Mogi de futebol para amputados. E a modalidade serviu para minha superação e me ajudou a continuar acreditando nos meus sonhos e a realizá-los”, aponta o atleta.
A bola pode proporcionar superação, amor e união para muitas vidas. Podemos ver o poder da transformação do futebol na tragédia do avião da Chapecoense. Esse dia triste pôde nos mostrar a capacidade do futebol em humanizar nossas vidas e mobilizar o mundo inteiro. Além dos sonhos que foram perdidos no Ninho do Urubu, pais e mães que viveram a fatalidade de perder seus filhos em meio a um clube pelo qual a família é apaixonada, talvez, sintam algo mais próximo dessa contradição que sentimos nos últimos dias.
Acontecimentos de fato tristes, mas que nos levam à reflexão do que tem por trás do esporte. Possibilita dias de alegria e realizações e também angústias muitas vezes semelhantes aos problemas que passamos na vida quando sonhamos com a liberdade da conquista, mas que nos é tirada com o peso da realidade, do trabalho, do salário e das tragédias pessoais.
Portanto, “o futebol não é apenas um jogo e não é feito apenas de Liga dos Campeões, salários milionários e histórias cheias de glamour e fama. Ele é, acima de tudo, composto por histórias de superação, curiosidades e fatos históricos que mostram como o jogo, muitas vezes, é apenas um detalhe. Em diversos casos, e em determinados momentos, o detalhe mais importante da vida”, aponta o jornalista Gustavo Hofman, em seu livro “Quando o futebol não é apenas um jogo”.
Carta Capital
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