quinta-feira, 20 de junho de 2019

Morre metalúrgico que mostrou colaboração de empresas com a ditadura

Bellentani com sua ficha de prisão, ainda com macacão da Volks, quando foi preso, em 1972

Lúcio Bellentani, de 74 anos, foi preso em 1972 em plena fábrica da Volkswagen em São Bernardo e torturado. Caso foi investigado por comissões da verdade e é acompanhado pelo Ministério Público


São Paulo – O ex-metalúrgico Lúcio Bellentani morreu por volta das 5h de hoje (19), aos 74 anos – completaria 75 em 30 de novembro. Ele foi o principal personagem do documentário Komplizen? (Cúmplices?) – A Volkswagen e a ditadura militar brasileira, lançado na Alemanha em 2017 pelos jornalistas Stefanie Dodt e Thomas Aders, retratando a colaboração da empresa com o regime ditatorial.

Filho de camponeses, Bellentani chegou a São Paulo em meados dos anos 1950. Entrou na Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em 1964. Em julho de 1972, então ferramenteiro da Volks e militante do PCB, foi preso por agentes na própria fábrica, torturado no local e posteriormente no Dops, onde permaneceu durante oito meses. Ele se tornou um dos principais exemplos da colaboração que muitas empresas, públicas e privadas, deram à ditadura, o que se tornou objeto de investigação de diversas comissões da verdade instaladas pelo país, inclusive a nacional (CNV), que reservou um capítulo específico ao tema em seu relatório final.

Segundo o vice-presidente da Associação Henrich Plagge (homenagem a outro ex-metalúrgico), Tarcísio Tadeu, ainda ontem (18) Bellentani, que presidia a entidade, participava de reunião em São Bernardo, quando se sentiu mal. Chegou a escarrar sangue e teve súbitos aumento e queda da pressão arterial. Socorrido, voltou para casa, em Jacareí, no interior paulista. Lá, voltou a passar mal, foi internado, entrou em coma e morreu no final da madrugada.

O velório está previsto para começar às 10h, na Câmara Municipal de Jacareí. O sepultamento será realizado às 16h. Bellentani tinha duas filhas e um filho do primeiro casamento. Do atual, com Maria Sérgia, uma enteada.

Há pouco mais de um mês, Bellentani e outros ex-metalúrgicos da Volks estiveram na fábrica, cobrando da empresa uma reparação, incluindo um pedido formal de desculpas, por suas atitudes durante a ditadura. “Os protagonistas não estão participando da negociação (com o Ministério Público)”, protestou.

“Desde o início do Caso Volks, Lúcio foi incansável militante. Ia onde fosse necessário para testemunhar e pedir REPARAÇÃO pelos crimes cometidos pela Volks e outras empresas”, afirmou, em nota, o IIEP (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas), lembrando o “longo percurso” de Bellentani como militante e destacando sua presença na Oposição Metalúrgica de São Paulo e na fábrica da Ford em São Paulo. O dirigente também era fundador e presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados do Brasil (Sinab), filiado à CSB.

Rede Brasil Atual

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