quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Meu amigo Massena: 100 anos

Conheci a fera lá pelos anos de 1968/1969 na Europa e nos tornamos amigos de cara. Depois, tornamos a reencontrar nas "nababescas e suntuosas" instalações do presídio da Ilha das Flores na Bahia da Guanabara, no qual a repressão separava os presos em celas por partido político que dizia pertencer ou que a ele era atribuído.


A Wikipédia nos diz a respeito dessa figura emblemática o seguinte:

"João Massena Melo (Palmares18 de agosto de 1919) foi vereador do então Distrito Federal e deputado estadual no estado da Guanabara, além de militante e dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), operário tecelão e metalúrgico. Após preso e torturado durante a ditadura, Massena é dado como desaparecido desde 1974 [1]. É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, que apura mortes e desaparecimentos na ditadura militar brasileira."
  
Lá chegando fui colocado na cela da AP onde fiquei por mais de uma semana. Depois, me transferiram para a cela do PCB. Até então, nessa cela, Massena não deixava colocar preso nenhum na parte superior de seu beliche. Mas, o audacioso aqui, ao chegar, foi logo colocando sua mala nesse local e de lá não mais saiu...

E assim o tempo pascoou até que os milicos resolveram que eu deveria ir para o DOPS do Rio. Nessa altura o STM julgou meu processo e reduziu a pena de 6 anos e 5 de cassação dado pela Junta Militar para 2 anos mantendo os 5.

Mais uma vez deixo registrado, agora aqui neste Blog e com muito orgulho e gratidão que, minha advogada, Rosa Maria Cardoso, que hoje dirige Comissão de Anistia, fez questão de ir a Brasília acompanhar pessoalmente meu julgamento, o que não era comum advogados fazerem.

Ela também, por vezes visitava-me no horário e local comum de visitas numa espécie de amizade e solidariedade, fato que levou a alguns canalhas que participavam do PCB tratar tal solidariedade como namoro e coisas mais que absolutamente não existiam nem passavam pela cabeça de ninguém além daquelas mentes sujas...

Ao sair da Ilha certo dirigente do CENIMAR me alertou mais ou menos nestes termos: olha você e Massena estavam sendo acompanhados por nós e tão logo levantássemos e eliminássemos seus contatos mataríamos vocês também. 

No Natal ou Réveillon de 1973 almoçamos na casa de um amigo comum no Rio.

Nesse almoço Massena perguntou o que eu faria no ano seguinte. Disse-lhe que atuaria politicamente em toda a legalidade possível, bem a vista de todo mundo para dificultar ser assassinado as escondidas. Ao que ele me respondeu: Zé vou cair na clandestinidade logo no começo do ano.

Segundo um tira arrependido ele teria sido preso, esquartejado e lançado no Rio Avaré...

No dia de hoje se vivo fosse o amigo Massena teria completado nada menos de 100 anos!

João Massena Melo, presente!
 Zé Augusto

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