Conheci a fera lá pelos anos de 1968/1969 na Europa e nos tornamos amigos de cara. Depois, tornamos a reencontrar nas "nababescas e suntuosas" instalações do presídio da Ilha das Flores na Bahia da Guanabara, no qual a repressão separava os presos em celas por partido político que dizia pertencer ou que a ele era atribuído.
A Wikipédia
nos diz a respeito dessa figura emblemática o seguinte:
"João Massena
Melo (Palmares, 18 de agosto de 1919)
foi vereador do então Distrito Federal e deputado estadual no estado da Guanabara, além de militante e dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), operário tecelão e metalúrgico. Após preso e torturado durante a ditadura, Massena é dado como desaparecido
desde 1974 [1]. É um dos casos investigados
pela Comissão
da Verdade, que apura
mortes e desaparecimentos na ditadura
militar brasileira."
Lá chegando fui colocado na cela da AP onde fiquei por mais de uma
semana. Depois, me transferiram para a cela do PCB. Até então, nessa cela,
Massena não deixava colocar preso nenhum na parte superior de seu beliche. Mas,
o audacioso aqui, ao chegar, foi logo colocando sua mala nesse local
e de lá não mais saiu...
E assim o tempo pascoou até que os milicos resolveram que eu
deveria ir para o DOPS do Rio. Nessa altura o STM julgou meu processo e reduziu
a pena de 6 anos e 5 de cassação dado pela Junta Militar para 2 anos mantendo
os 5.
Mais uma vez deixo registrado, agora aqui neste Blog e com muito orgulho
e gratidão que, minha advogada, Rosa Maria Cardoso, que hoje dirige Comissão de
Anistia, fez questão de ir a Brasília acompanhar pessoalmente meu julgamento, o
que não era comum advogados fazerem.
Ela também, por vezes visitava-me no horário e local comum de visitas
numa espécie de amizade e solidariedade, fato que levou a alguns canalhas que
participavam do PCB tratar tal solidariedade como namoro e coisas mais que
absolutamente não existiam nem passavam pela cabeça de ninguém além daquelas
mentes sujas...
Ao sair da Ilha certo dirigente do CENIMAR me alertou mais ou menos
nestes termos: olha você e Massena estavam sendo acompanhados por nós e tão
logo levantássemos e eliminássemos seus contatos mataríamos vocês também.
No Natal ou Réveillon de 1973 almoçamos na casa de um amigo comum no
Rio.
Nesse almoço Massena perguntou o que eu faria no ano seguinte. Disse-lhe
que atuaria politicamente em toda a legalidade possível, bem a vista de
todo mundo para dificultar ser assassinado as escondidas. Ao que ele me
respondeu: Zé vou cair na clandestinidade logo no começo do ano.
Segundo um tira arrependido ele teria sido preso, esquartejado e lançado
no Rio Avaré...
No dia de hoje se vivo fosse o amigo Massena teria completado nada
menos de 100 anos!
João Massena Melo, presente!
Zé Augusto
Nenhum comentário:
Postar um comentário