terça-feira, 15 de outubro de 2019

Como a extrema direita está se mobilizando para tomar a reitoria da UFES

Ricardo da Costa, ao centro. Reprodução Twitter

Socooooooooro

Fim de ideologia é isso aí, talkey?

Além da praga chamada Escola Sem Partido, que avança sobre os ensinos fundamental e médio, o conservadorismo pautado pelos “costumes” também trabalha para colocar as garras sobre o ensino superior.


Publicado por Mauro Donato

A escolha para o cargo de reitor da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) tem grandes chances de resultar nas mãos da patrulha bolsonarista.

Pior: nas mãos de olavistas. Explico.

A escolha é feita após o resultado de eleição na qual votam professores, servidores e estudantes. A lista tríplice com os mais votados é enviada então para o presidente da República que escolhe um dos nomes.

Pois bem, um grupo chamado Endireita UFES (o nome dispensa apresentações) tem forte aparato a seu favor.

A candidata do Endireita é Surama Freitas, uma professora reconhecidamente ligada a grupos de direita. Mas as atenções devem estar voltadas a seu backstage.

O mentor e principal articulador do Endireita UFES é Ricardo da Costa. Ele já foi professor da UFES e hoje faz parte da equipe de nada mais, nada menos que o Ministério de Educação.

É o único remanescente da equipe do ex-ministro Vélez a permanecer no governo.

Discípulo de Olavo de Carvalho, Ricardo da Costa é também amigo (desses de fazer brincadeira sobre time de futebol) de Allan dos Santos, do canal Terça Livre.

Pano rápido: Allan dos Santos é o blogueiro de extrema-direita que, segundo o músico Lobão, mora numa mansão no lago Sul bancada por Eduardo Bolsonaro.

Aliás, o clã Bolsonaro intentava nomear o blogueiro como presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Sigamos.

Ricardo da Costa é medievalista e quer combate ferrenho contra “pichações, tráfico de drogas e uso das salas de aula como propaganda político-partidária”. Desde o ano passado as reuniões do Endireita têm acontecido em sua casa.

Sua candidata, Surama Freitas, já tem na ponta da língua o discurso na medida para agradar o MEC e seus cortes no orçamento:

“Nossa chapa está sendo construída com membros da comunidade acadêmica que não estão satisfeitos com a condução com viés político de esquerda adotada na universidade há mais de duas décadas. É preciso fazer mais com menos recursos, então vamos trabalhar em parceria com o governo federal”, disse ela em entrevista ao site Tribuna Online.

Alguma dúvida sobre qual candidato Bolsonaro irá escolher?

Sim, rancoroso e vingativo, de Bolsonaro pode-se esperar tudo. Para a reitoria da Universidade Federal de Pernambuco, ele escolheu Alfredo Macedo Gomes, mais alinhado com a esquerda (professor de Sociologia favorável ao movimento Lula Livre, veja só!!), apenas para provocar Luciano Bivar, o presidente de seu partido com quem está em pé de guerra.

Esta é a política biroliro, feita na base do ódio.

Contudo, as chances de algo semelhante ocorrer no Espírito Santo são nulas.

A UFES tem sido campo de oposição ao bolsonarismo. No começo do ano, um protesto contra o corte de verbas na educação e contra a reforma da Previdência reuniu 3 mil pessoas.

A reação da direita foi virulenta. Alguns meses depois, uma ameaça vinda das profundezas da Deepweb prometia um massacre.

“Preste bem atenção, escórias. Alunos da UFES recebam o aviso por meio do fórum Dogolachan, dia 16/06/2019 (quarta-feira da semana vigente) irei matar o máximo de esquerdistas, feministas, viados e negros que encontrar na minha frente. Peço aos cidadãos de bem que, a fim de saírem ilesos do meu sanctvm jvlgamentv, não frequentem o ambiente nesse dia”, escreveu um lunático chamado Sanctvs.

Mais recentemente ainda, como noticiado aqui no DCM pelo colega Sacramento, ocorreu caso de racismo contra um professor.

A UFES tem um universo de 28 mil pessoas (entre alunos, professores e pessoal administrativo) e um orçamento previsto de R$ 926 milhões.

A direita gosta de combater “ideologias”, mas gosta mais ainda de orçamentos polpudos. O interesse na reitoria pode estar muito mais no caixa do que no que se leciona em sala de aula.


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