Cientista político André Singer defende a construção de uma frente ampla em defesa da democracia e pela saída de Jair Bolsonaro do poder. "Se quiser realmente construir uma frente para salvar a democracia brasileira, não se pode pedir atestado ideológico de ninguém", disse
25 de maio de 2020, 10:23 h Atualizado em 25 de maio de 2020, 16:28
247 - André Singer, cientista político e ex-secretário de Comunicação do governo Luiz Inácio Lula da Silva, diz que o momento atual pede a construção de uma frente ampla em defesa da democracia e pela saída de Jair Bolsonaro do poder que precisa ir para além dos partidos de esquerda. “Existe muito ressentimento, mas objetivos mais altos interessam a todos. Neste momento exato o desafio é envolver o presidente da Câmara”, disse Singer em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Para Singer, a oposição precisa deixar os planos eleitorais imediatos à parte e se unir de maneira ampla. “Falando da oposição, creio que está havendo um movimento no sentido de formação de uma frente. No 1° de maio, embora virtualmente, estavam no mesmo palanque os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Isso representa um elemento importante no sentido da frente, que é para salvar a democracia brasileira. Não é eleitoral e tem que ser muito ampla”, afirmou.
“Existe muito ressentimento entre grupos e partidos, mas acredito que, chegado o momento, haverá compreensão de que há objetivos mais altos e que interessam a todos”, ressaltou em seguida.
Ainda segundo ele, “o grande desafio é fazer com que os presidentes da Câmara e do Senado entrem nesta frente, que tem que ser muito ampla e incorporar setores que estão se afastando do bolsonarismo, desde que manifestem convicção democrática. Se quiser realmente construir uma frente para salvar a democracia brasileira, não se pode pedir atestado ideológico de ninguém. A conjuntura atual não pode ser comparada com os impeachments de Collor e de Dilma. Em nenhum dos dois casos havia qualquer ameaça à democracia. Concordo que o Brasil não pode fazer um impeachment por mandato e não deve. Mas estamos em uma circunstância excepcional.
Segundo ele, o Brasil passa por um momento de “autoritarismo furtivo”. “Trata-se de uma transição lenta da democracia para o autoritarismo, por meio de uma ação conduzida por líderes democraticamente eleitos e que se dá por dentro do Estado de Direito, e não como uma ruptura”.
“É muito diferente dos golpes de Estado em que um certo dia apareciam tanques na rua, é um retrocesso em direção ao autoritarismo. E como é induzido por dentro das brechas das leis, a opinião pública, os movimentos sociais, a sociedade civil e a oposição não percebem bem o que está acontecendo e não conseguem mobilizar a sociedade. Creio que é isso que está ocorrendo no Brasil”, explicou.
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