quarta-feira, 8 de julho de 2020

Dia do Panificador, o pão e a fome


Oito de julho é o Dia do Panificador.


Profissão humilde, raramente é lembrada.

Entretanto, merece exaltação porque é uma profissão nobre.

Existe maior grandeza do que fabricar o pão que alimenta e mata a fome?

Creio que não.

Existem presentemente cerca de um bilhão de pessoas subnutridas no mundo.

A maioria das pessoas que passam fome são mulheres e crianças.

As mortes por fome, segundo dados da ONU, suplantam as mortes por sida, malária e tuberculose somadas.

Insufiência alimentar na infância provoca danos irrecuperáveis para sempre.


Por este motivo a fome é a mais violenta negação dos direitos humanos.

Não tem coerência afirmar que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos,
se a expectativa média de vida nos países ricos é, em dobro ou em triplo, a expectativa média de vida em alguns países pobres;
se mesmo no seio dos países pobres, a expectativa média de vida dos ricos da população é, em dobro ou em triplo, a expectativa média de vida dos pobres da população.

Aparecem recursos para acabar com doenças transmissíveis que, nos países pobres, ameaçam, pela contaminação, a saúde dos ricos.

Por que não se tomam medidas para acabar com a fome?

Por que a Humanidade terá de transpor um novo milênio carregando, nos ombros, a imoralidade e a antijuridicidade da fome?

Grande Josué de Castro, que merece estátuas modeladas em ouro, em bronze, ou simplesmente em pão, em todos os Horizontes e em todos os Continentes, inclusive na sede da ONU! 

Belo profeta brasileiro que denunciou, com pioneirismo, as causas sociais da Fome. 

Josué de Castro mostrou a fome como "problema social". 

Graciliano Ramos, nos seus romances, retratou a fome como problema político.

A fome não brota do céu.

A fome tem causas na terra, nas injustiças imperantes.

Josué e Graciliano sofreram exílio e prisão por dizer uma verdade óbvia.

No Brasil contemporãneo, a grande figura profética, na luta contra a fome, foi o sociólogo Herbert de Souza, ou simplesmente o Betinho, como ficou carinhosamente conhecido.

A fome tem pressa, disse Betinho, com extrema racionalidade. 

Condenado a morrer, Betinho lutou, até o último momento, pela vida. 

Mas não tanto pela sua vida.

Lutou muito mais pela vida do povo brasileiro, dos marginalizados e oprimidos, dos que são massacrados pela injustiça brutal que é a fome.

Não poderia haver, na sociedade brasileira contemporânea, figura que pudesse simbolizar melhor esse grito contra a fome.

Betinho estava predestinado para ser o líder da cruzada que empunhou.

João Bapista Herkenhoff
Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor

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