sábado, 4 de julho de 2020

Justiça reconhece que Zuzu Angel foi assassinada durante a ditadura


Do outro lado da linha, uma amiga de Zuzu Angel (1921-1976) confirmava a suspeita. A estilista tinha sofrido um acidente de carro por volta das 3:30, ao voltar para casa, na Barra da Tijuca, de um jantar na casa de amigos. O Karmann-Ghia que ela dirigia capotou na saída do túnel Dois Irmãos — que liga a Gávea a São Conrado — e caiu de uma altura de dez metros. “A primeira coisa em que pensei foi: Mataram mamãe!”, recorda Hildegard, hoje com 70, em conversa com o TAB. “Custei a acreditar naquela crueldade. Não queria aceitar que, depois de perder meu irmão, Stuart, e minha cunhada, Sônia, minha mãe também tinha sido assassinada. Era a terceira vez que aquela desgraça recaía sobre as nossas cabeças.”


Desde então, Hildegard Angel trava uma “batalha sem trégua” para provar que, ao contrário do que insistem em dizer alguns veículos de comunicação e, até mesmo, alguns livros de história, sua mãe não morreu de um “suposto acidente de carro” porque ingeriu álcool, cochilou ao volante ou sofreu um infarto. A Justiça brasileira acaba de reconhecer que Zuzu Angel foi assassinada por agentes da ditadura militar. Por isso, a União terá que pagar uma indenização de R$ 240 mil para cada uma das filhas da estilista, Hildegard e Ana Cristina.

A ação foi proposta pelas duas, através do advogado Ivan Nunes Ferreira, e não cabe recurso. “Zuzu já foi incluída no panteão dos heróis e das heroínas da pátria, teve a certidão de óbito retificada e recebeu todas as homenagens possíveis e imaginárias. Mesmo assim, ainda faltava o carimbo da Justiça brasileira. De hoje em diante, quem colocar em dúvida o heroísmo dela corre o risco de ser contestado judicialmente”, avisa Hildegard.

Considerada a primeira estilista brasileira, Zuzu Angel era o nome artístico de Zuleika Angel Jones. Mineira de Curvelo, município localizado a 168 quilômetros de Belo Horizonte, Zuleika de Souza Netto se casou, em 1943, com o norte-americano Norman Angel Jones. Separada do marido em 1960, lutou, sozinha, para sustentar a casa e criar os três filhos: Stuart, Hildegard e Ana Cristina. Como estilista da alta-costura, chegou a ter loja em Ipanema e Nova York. Suas criações, repletas de brasilidade, alcançaram fama internacional e vestiram estrelas de Hollywood, como Liza Minelli, Kim Novak e Joan Crawford.

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