segunda-feira, 14 de março de 2022

25 anos sem Darcy Ribeiro


                    

Há 25 anos (no dia 17 de fevereiro de 1997), morria, aos 74 anos, em Brasília, por problemas causados por câncer na próstata, o ex-senador Darcy Ribeiro.

Por EVERTON GOMES

Publicado Quarta, 09 de marco de 2022 às 19:49





  • A morte aconteceu às 18h50min, no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. Ele havia sido internado, dias antes, com anemia, dores, problemas respiratórios.

    A ida final de Darcy Ribeiro ao plenário do Senado Federal foi no dia 4 de fevereiro. A última vez em que ele participou de uma votação. Ele já se movimentava, há algum tempo, de cadeira de rodas.
Nessa derradeira aparição, participou da eleição para a presidência do Senado. Quem venceu foi o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL- Bahia), mas Darcy Ribeiro votou em Iris Rezende (PMDB-GO), defensor da redemocratização, que lutou contra a ditadura militar.

Naqueles meses finais de sua vida parlamentar, Darcy Ribeiro sempre fazia declarações contra as privatizações que Fernando Henrique Cardoso acabou por concretizar, em seu governo.

Antropológo idealista e político nacionalista, o ex-senador dizia ter ficado muito triste com a proposta do presidente de privatizar a Vale do Rio Doce.

Darcy Ribeiro, no entanto, estava acima do bem e do mal, quando passou pelo Senado Federal.

Respeitado pela direita, pela esquerda e pelo centro, carismático e afetivo, ele conquistou políticos, funcionários e admiradores de todas as ideologias e regiões do Brasil. Ele não era mais o representante do PDT fluminense no Senado. Representou o Brasil inteiro, com seus projetos em defesa da educação, suas ideias e sabedoria extrema, na arte de conviver com as diferenças e com o contraditório.

Fernando Henrique Cardoso foi um dos primeiros a chegar ao Sarah Kubitschek, ao lado do ministro da Educação, Paulo Renato. Chegou às 19h 40min, quando foi divulgada a notícia da morte de Darcy Ribeiro, no dia 17 de fevereiro de 1997.

O velório realizado no dia seguinte, 18 de fevereiro, no Salão Negro do Congresso Nacional, teve a presença de índios terenas e xavantes e de mulheres kadiweus (povo que vive no pantanal matogrossense e que foi retratado por Darcy Ribeiro em um de seus livros, "Os Kadiweus"), que colocaram no caixão um vaso em miniatura, que simbolizava fartura na vida e após a morte.

Vestido com o fardão da Academia Brasileira de Letras, o corpo de Darcy foi velado no Congresso Nacional até o início da tarde e, depois, foi transportado em um avião para o Rio de Janeiro.
Mais de três mil pessoas compareceram ao velório de Darcy Ribeiro, desde que o corpo chegou, na noite do dia 18 de fevereiro, e foi velado até o final da tarde do dia 19, antes de ir para o Cemitério de São João Batista, onde foi enterrado, no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.

O velório e o enterro no Rio de Janeiro foram emocionantes. Tal como foi a vida de Darcy Ribeiro.

O cortejo foi a pé. O caixão foi levado no caminhão do Corpo de Bombeiros. No percurso, da ABL até Botafogo, Darcy era aplaudido das janelas e calçadas. Todos cantavam o Hino Nacional.

No cemitério, havia tanta gente que os discursos tiveram que acontecer do lado de fora do mausoléu.

Leonel Brizola, amigo querido de Darcy Ribeiro (que morreu em 2004, também debilitado), discursou por mais de uma hora. O clima era de inesquecível emoção. Foi um enterro noturno. "A morte não venceu Darcy porque ele cumpriu com sua missão" - disse o ex-governador do Rio de Janeiro.

Quem encomendou o corpo foi Frei Leonardo Boff, que enfatizou a luta de Darcy pela educação das crianças carentes.

Além do tumulto no cemitério, houve um enorme engarrafamento no trânsito. Por cima do caixão de Darcy Ribeiro, as bandeiras do Brasil, de Minas Gerais (onde ele nasceu), do PDT, de Cieps e da Mangueira. Ao lado, uma coroa de flores enviada por Fidel Castro.

Darcy morreu dias depois da quarta de cinzas. Ele esperou o carnaval passar para morrer.


*Cientista político e porta-voz do Rio Boa Praça.

JB ONLINE

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