segunda-feira, 16 de maio de 2022

Mino Carta: A ameaça golpista está feita. Quem se incomoda com ela?


As páginas da nova edição de CartaCapital mostram uma figura atual do governo Bolsonaro. Caso comparada ao boi da cara preta, este parecerá um jovem garboso, quem sabe disposto a versejar em tardes ensolaradas.


Em sua função de ministro da Defesa do Brasil de Bolsonaro, apresentamos o general Paulo Sérgio Nogueira, este sim habilitado a assustar o país que haveria de defender. Na proximidade das eleições de outubro, ele avisa que as Forças Armadas brasileiras estão sempre alerta para cumprir sua tarefa constitucional. A ameaça golpista está feita.

A tal garantia do papel dos militares consta do artigo 142, cujo teor, quero crer, escapou ao presidente da Constituinte de meio período destinada a preparar o futuro, o doutor Ulysses Guimarães. Esta referência não consta de nenhum texto constitucional de países democráticos e civilizados. É coisa nossa, tipicamente nossa, atribuir às Forças Armadas o chamado papel moderador, com o peso que pode ter qualquer passagem da nossa Carta. É nela, evidentemente, que se baseiam os militares que, desde a derrubada da monarquia, infestam o País com seu golpismo inelutável apoiado pelas armas.

O golpe de 1964 é uma das grandes desgraças brasileiras, juntamente com a colonização predadora e a escravidão. A fala do ministro da Defesa foi enriquecida por um encontro anterior com o presidente do STF, Luiz Fux, aquele que faria a alegria de um sioux, caso o encontrasse, e, além do mais, pronto a aplaudir, até esfolar a palma das mãos, o discurso do general pronunciado em um tom imaginável, embora fosse evidente a ameaça golpista. Faz tempo verificam-se manifestações de contrariedade fardada e, sobretudo, de pijama à vista da eleição.

A ameaça está clara, mas quem se incomoda com ela? Desde o povo até os empresários da Fiesp, não reagem, inseridos em uma normalidade à brasileira, a mostrar algo assim como um misto de abulia e ignorância. Um dado positivo é representado pelo discurso pronunciado no lançamento da candidatura Lula, no início da campanha, pelo vice-presidente da chapa, Geraldo Alckmin. Um discurso substancioso, temperado com sutileza por passagens carregadas de senso de humor, a esclarecer a escolha do ex-governador de São Paulo como companheiro de chapa de Lula. Está no ar, contudo, a ameaça golpista do general Nogueira, favorecida pela tibieza tanto do Supremo quanto do Congresso e amparada pelo famigerado artigo 142.

Vale neste instante celebrar a ausência do embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, que não hesitou em conspirar com os golpistas de 1964, ao ventilar a chegada às costas brasileiras da frota atlântica norte-americana. Convém louvar hoje a presença na Casa Branca de Joe Biden, disposto a determinar mudanças cruciais na política exterior de Washington. De fato, é do Departamento de Estado que emergem esclarecimentos muito significativos deste ponto de vista. Tio Sam agora nos sorri e manifesta contrariedade diante das posturas do general Nogueira.

Tentativas de golpe na América Latina serão condenadas, conforme os porta-vozes do Departamento. Não é trabalhoso demais estabelecer uma ligação de causa e efeito entre as posições de Washington e a ameaça golpista do bolsonarismo previamente amedrontado pela proximidade das eleições.




Mino Carta
Diretor da Redação


Carta Capital

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