Nas últimas duas décadas a sociedade e, em especial, o mundo do trabalho, sofreram extraordinárias transformações.
A terceira revolução industrial, a da informática, com uma abrangência nos sentidos horizontal e vertical nunca antes conhecida, mudou radicalmente desde o modo de produzir até o de divertir. Ao elevar de forma extraordinária a produtividade, sem dividir seus frutos com os trabalhadores, provocou um enorme incremento e concentração da renda e da riqueza.
A nova maneira de produzir implica numa geométrica extinção de milhões de postos de trabalho. Por outro lado, o abundante patrimônio financeiro acumulado conduziu os empresários da área à liderança do sistema capitalista, que redundou na adoção sistemática de políticas recessivas no mundo todo, visando garantir os ganhos reais desse capital via redução da demanda (e da produção), consequentemente, da inflação. A produção material passou a ser menos interessante que a cômoda – mas finita – especulação “permanente” com dinheiro virtual. A supremacia das idéias do “Consenso de Washington”.
Tal fenômeno levou à redução do peso do proletariado industrial na sociedade, e o predomínio do individualismo. Estender no tempo esse artificialismo só é possível tentando liquidar com a idéia do coletivo. Daí a doutrina do estado mínimo; da possibilidade do cidadão resolver individualmente seus problemas apenas elevando sua escolaridade e trabalhando; a pregação do “fim da história“, do “fim da ideologia”, do “fim da luta de classes”, e até, de forma subliminar, da própria família, e outras idiotices do jaez. Idiotices, claro, quando professadas por integrantes daquela esmagadora maioria que só pode conquistar uma existência mais digna e justa pela ação coletiva.
Tudo isto, contribui para rebaixar a influência do movimento sindical, provocando a crise de arrecadação e, pior, de perspectivas, posto que, nesse clima do "cada um por si", fica muito difícil visualizar uma saída positiva - e coletiva - para o futuro.
Nessas condições, a gestão das entidades sindicais vai adquirindo um caráter cada vez mais politizado, posto que, para construir projetos consoantes com a nova realidade em que vivemos, e ganhar a correspondente confiança dos trabalhadores, será necessário demonstrar muito talento, tanto na ação política, quanto na gestão administrativa, o que exige modernização da estrutura sindical, e aperfeiçoamento continuado da organização e do planejamento.
Portanto, a superação da crise passa, antes de tudo, por um aprofundado e meticuloso estudo das suas causas reais, que favoreça caminhar para um novo sindicalismo. Para isso, torna-se imperioso dotar as entidades de um processo sistemático de formação, onde os seminários de gestão sindical para dirigentes, funcionários e militantes possam dar uma contribuição substancial. .
Por isso mesmo, a gestão e contabilidade sindicais não podem prescindir da eficiência e extrema transparência, entre outros, também pelos seguintes motivos: Primeiro, nos regimes democráticos como o que vivemos hoje no Brasil, a correlação de forças políticas dificulta pressões sobre o movimento sindical e popular pela via da repressão policial e terrorismo de estado, como acontecia nos tempos da ditadura civil-militar implantada em 1964. Todavia, as classes dominantes dominam a burocracia estatal e, dentro dela, a fiscalização. Podem – e costumam - tentar por esses meios, dificultar a vida das organizações sindicais, valendo-se da impossibilidade do conhecimento integral do cipoal de leis e regulamentos que a tecnoburocracia modifica a cada dia, aplicando-lhes, em consequência, multas e mais multas pelos erros cometidos. Assim, cuidados com os documentos, contabilidade em dia, e boa assessoria na área, são indispensáveis.
Além disso, o empresariado, seus ideólogos, juristas, representantes no parlamento, e os senhores da Mídia concluíram que, no quadro de vigência das liberdades democráticas, melhor que reprimir é asfixiar as entidades pelo lado financeiro. Não é pois mera coincidência a radical virada da Justiça Trabalhista que, de uma posição de reconhecimento da soberania das assembléias, na década de 1980, com o advento do neoliberalismo nos anos seguintes, passou a considerar que a decisão delas somente valeria para os associados, contrastando com o texto constitucional e a CLT, e optando pelo “direito à não-sindicalização”.
Nessas condições, o atual modelo de receita sindical tende a desaparecer, tornando-se a arrecadação, cada vez mais, diretamente dependente da confiança política dos trabalhadores nas entidades e suas direções o que será, sem sombra de dúvida, um grande avanço no setor. Assim, além da intensificação do trabalho de base, a transparência e um sistema de previsão orçamentária combinada com prestação de contas, que deixe de ser formal e envolva diretamente os associados, poderá contribuir para a solução do problema de arrecadação.
Tais circunstâncias acima descritas, entre outras, colocam na ordem do dia para o sindicalismo brasileiro, a palavra de ordem da formação sindical e política.
Zé Augusto
Asteca Contabilidade e Assessoria
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