sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

O vandalismo contra o jornal Folha Capixaba I

 


Quando perguntei ao Darly Santos se conhecia todos os detalhes do vandalismo contra a Folha Capixaba, ocorrido na manhã de 31 de março de 1964, ele me respondeu que não, 

Por Chico Flores

mas me acrescentou que sabia apenas o que lhe tinha sido transmitido por Manoel Martins de São Leão, também membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no Espírito Santo.

– São Leão me disse que foi o primeiro a chegar ao local, a tempo de assistir aquele grupo de pessoas invadir a redação do jornal e lançar na rua livros, caixas cheias papéis e documentos, além de máquinas de datilografia – respondeu-me Darly, ajeitando-se na cadeira, como um erudito diante de uma seleta plateia se preparando para uma longa palestra.

– Mas antes, vamos abrir a primeira cerveja do dia – completou sorrindo.

Esse encontro com Darly Santos ocorreu na ensolarada manhã de um domingo de março de 1974, em sua casa, na Barra de Jucu, que não passava de uma bucólica vila de pescadores de acesso rodoviário precário, localizada na foz do Rio Jucu, a 16 quilômetros ao sul do centro do município de Vila Velha. Ainda se assemelhava a uma remota e improvável povoação, com demografia rarefeita e pontilhada por algumas dezenas de casas de estuque pintadas de branco, protegida por densa e severa mata de restinga.

Anos depois, nos idos ano 1983, a renhida greve do Quando perguntei ao Darly Santos se conhecia todos os detalhes do vandalismo contra a Folha Capixaba, ocorrido na manhã de 31 de março de 1964, ele me respondeu que não, mas me acrescentou que sabia apenas o que lhe tinha sido transmitido por Manoel Martins de São Leão, também membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no Espírito Santo.

– São Leão me disse que foi o primeiro a chegar ao local, a tempo de assistir aquele grupo de pessoas invadir a redação do jornal e lançar na rua livros, caixas cheias papéis e documentos, além de máquinas de datilografia – respondeu-me Darly, ajeitando-se na cadeira, como um erudito diante de uma seleta plateia se preparando para uma longa palestra.

– Mas antes, vamos abrir a primeira cerveja do dia – completou sorrindo.

Esse encontro com Darly Santos ocorreu na ensolarada manhã de um domingo de março de 1974, em sua casa, na Barra de Jucu, que não passava de uma bucólica vila de pescadores de acesso rodoviário precário, localizada na foz do Rio Jucu, a 16 quilômetros ao sul do centro do município de Vila Velha. Ainda se assemelhava a uma remota e improvável povoação, com demografia rarefeita e pontilhada por algumas dezenas de casas de estuque pintadas de branco, protegida por densa e severa mata de restinga.

Lembro-me também que, apesar da pequena distância partindo-se de Vila Velha, a ida até à Barra de Jucu tornava-se uma viagem longa e cansativa se estivesse chovendo. Todavia, em dias ensolarados, assemelhava-se a um agradável passeio turístico cheio de surpresas. Duas eram as opções de trajeto: pelo bairro da Toca, depois prosseguindo por mais 15 quilômetros de estrada de barro; ou pela Praia da Costa, percorrendo o longo trecho de areia e terra da Avenida Gil Vellozo, a partir do edifício Guruçá, o primeiro prédio de apartamentos da orla vilavelhense.

Sempre preferi a segunda opção, não só pela indescritivelmente contagiante e bela paisagem formada pelo Oceano Atlântico, à minha esquerda, e pela cerrada restinga que escondia jabuticabeiras, pitangueiras e diversos pés de jamelão e araçá, à minha direita. Inclusive, por aguçado senso de oportunidade, jamais fui à Barra de Jucu, sem antes colocar, na mala do meu velho Simca Chambord modelo 1962, algumas sacolas de supermercado para armazenar as frutas colhidas ao longo do percurso, que variavam de mês a mês.

De agosto a setembro, por exemplo, a farta colheita era de jabuticabas; e de dezembro até final de janeiro, eu colhia jamelão que em casa era transformado em geleia pela minha prendada companheira. Mas, em qualquer mês do ano eu tinha araçá e pitanga em abundância. Eu me supria de farta quantidade de frutas silvestres ao longo dos 12 meses e ainda sobrava para dar aos vizinhos e aos colegas de redação de A Gazeta, na velha sede da rua General Osório, no centro de Vitória.

Eu até considerava as minhas visitas semanais a Darly Santos, na Barra de Jucu, “frutíferas” em todos os sentidos e por isso jamais as negligenciava. Aliás, esses encontros já faziam parte de minha rotina domingueira que perdurou até a morte desse insigne poeta, radialista e jornalista, no dia 20 de maio de 1985.

E, naquela manhã ensolarada de um domingo de março de 1977, como fazíamos sempre, também estávamos sentados na varanda, de frente para a rua ainda sem nome e calçamento que se parecia mais com uma trilha margeada por restingas esparsas, mas que, mesmo sendo dia de descanso, estava movimentada de pescadores que se dirigiam à Praia da Concha, para fazer manutenção nos barcos e prepará-los para voltar ao mar, na madrugada de segunda-feira. Todos cumprimentavam Darly e alguns até se aproximavam para um aperto de mão.

Foi a sorridente Maria, a fiel companheira de Darly havia vários anos, quem trouxe a primeira garrafa de cerveja do dia e os dois copos e os colocou sobre a pequena mesa de vime que ornamentava a varanda, avisando-nos que estava fritando linguiça de porco para o tira-gosto.

Também disse que em seguida sairia para comprar A Gazeta e retornou ao interior da casa também branca e construída de estuque igual às outras.

Como eu estava sedento em consequência da ressaca da noitada de sábado, bebi o primeiro copo de cerveja com sofreguidão. O mesmo fez Darly, comentando que os primeiros goles são sempre os melhores, com o que concordei. Ele também disse que adoraria estar bebendo uma “Krusovice” tcheca, ao invés de uma “Antártica” brasileira, pois para ele, a Tchecoslováquia produzia a melhor e a mais saudável e honesta cerveja do mundo.

– Eu sei e nos meus anos em Moscou, fazendo o curso de Direito Internacional, na Universidade Patrício Lumumba, bebi muita “Pilsner Urquell”, que é um pouco mais leve do que a “Krusovice”, mas não menos saborosa – disse-lhe eu, complementado: “Mas, é melhor nos contentarmos com a velha e boa “Antártica”, pois cerveja de país comunista, no Brasil de hoje, só em sonho”.

– Toda ditadura é burra, Chico!


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