Preta Maria Gadelha Gil Moreira[3] (Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1974 – Nova Iorque, 20 de julho de 2025) foi uma cantora, atriz, apresentadora e empresária brasileira, fundadora e sócia-diretora da Music2Mynd.[4]
Era filha do músico Gilberto Gil e da empresária Sandra Gadelha, sendo meia-irmã do músico Bem Gil, da apresentadora Bela Gil e da cantora Nara Gil, e sobrinha do cantor Caetano Veloso.[5]
Biografia
Teve como segundo nome Maria, segundo contou a própria cantora, por conta de uma condição imposta pelo tabelião do cartório para registrá-la como Preta: "Eu nasci no Rio de Janeiro, sou carioca, no dia 8 de agosto de 1974. Foi o máximo, essa história todo mundo conta na família, porque o meu pai foi ao cartório, me registrar, com a minha avó materna, a vó Wangry, minha avó branca, que é mãe da minha mãe. Chegando lá o tabelião falou: 'Você não vai poder registrar o nome de sua filha de Preta.' Imagina! Vocês conhecem meu pai, sabem que ele gosta de falar e já começou a fazer discurso. 'Mas por quê? Existem Biancas, Brancas, Claras, Rosas e não pode ter Preta?' E o tabelião disse: 'Tudo bem, você vai botar Preta, mas só se botar um nome católico junto.' Então eu me chamo Preta Maria por conta do tabelião e pela Mãe Divina."[6]
Carreira artística
Preta Gil começou a trabalhar na década de 1990, nas produtoras Conspiração e Dueto, onde criou videoclipes para cantoras como Ivete Sangalo e Ana Carolina e dirigiu materiais de grupos como KLB e SNZ, tendo papel fundamental na popularização do formato no Brasil. Seus trabalhos incluem ainda produções como "Criança", de Marina Lima, sua prima por parte de mãe.[7] Em junho de 2002, Gil, motivada por amigos, decidiu investir na carreira de cantora e organizou um show no Rio de Janeiro.[8][9] Em entrevista para a MTV Brasil, em 2003, ela comentou sobre esse momento: "Tinha alguma coisa que me agoniava, uma angústia, uma insatisfação que eu não sabia o que era porque, afinal de contas, eu era bem-sucedida, consegui crescer profissionalmente, financeiramente, tinha minha produtora e era querida por todo mundo com quem eu trabalhava. Por que eu não era feliz? Fui descobrir com terapia que era porque eu estava fugindo da minha essência, de mim mesma. O que eu queria mesmo era cantar, representar e fui me aprofundar mais em mim mesma e descobrir se essa minha intuição para o dom que eu tinha estava certa, se era isso mesmo. E descobri que era. Fiz um primeiro show [...] para meio que me testar mesmo. E foi tão bacana que eu achei muito bom continuar e caminhar nesse sentido de aprender e abandonei mesmo".[8] Após reunir alguns músicos, ela gravou um disco demo, ganhando o interesse da Warner, que lhe ofereceu um contrato de gravação.[8]
O álbum de estreia da artista, intitulado Prêt-à Porter, foi lançado em 2003. A capa, na qual posou nua, fotografada por Vania Toledo, teve muita repercussão.[7][10] A ideia era que as imagens simbolizassem o seu renascer como artista, mas acabou dando o que falar para além do seu significado; em entrevista para a Forbes, ela revelou: "Me chamavam mais para entrevistas do que para cantar", contando, por vezes, havia mais interesse em saber o que o pai dela achou das fotos do disco, do que da música em si. "Eu costumo dizer que eu era a Preta no mundinho da Tropicália, achava que as pessoas eram que nem a minha família – o mundo não era assim".[11] Em maio estreia como atriz, dando vida à personagem Vanusa Silveira na telenovela Agora É que São Elas, da Rede Globo.[12] Em abril de 2004, assina contrato com a Rede Bandeirantes a convite da diretora Marlene Mattos, visando iniciar a carreira de apresentadora. Ela passou a comandar o Caixa Preta, nas noites de sábado da emissora, a partir de 29 de daquele mês.[13] Nesse período, ela foi convidada pela escritora Gloria Perez para integrar o elenco da novela América, da Rede Globo, mas recusou para priorizar o programa.[14] O Caixa Preta foi cancelado em outubro porque a Bandeirantes descobriu que ela teria feito teste para substituir Angélica, na apresentação do Video Game, durante sua licença maternidade.[15]
Gil apresentando-se ao lado de Ivete Sangalo (2012)
O segundo álbum de estúdio da artista, intitulado Preta, foi lançado em outubro de 2005.[16] No ano seguinte, estreia nos teatros, no espetáculo Um Homem Chamado Lee. Na peça, dirigida por Rodrigo Pitta, Gil interpretou uma travesti chamada Linda Lee ou Ivanildo Pereira, que tem fixação pela cantora Rita Lee e quer ser ela a qualquer custo.[17] Em 2007, interpretou a vilã Helga, em Caminhos do Coração, da Rede Record.[18] Anos mais tarde, ela revelou ter ficado surpresa com o sucesso da personagem: "Fiz um show em Cabo Verde na época, na África, e o aeroporto estava lotado. Eu perguntei: 'Tem alguma autoridade, alguém chegando comigo?' Minha produtora respondeu: 'Estou vendo as pessoas com cartazes escrito Helga', nem ela lembrava o nome da minha personagem. Saí no aeroporto, peguei minhas malas e as pessoas gritando 'Helga'. Foi uma loucura, eu amei".[19] Após seu personagem sair da novela, Preta voltou a se dedicar mais à música. Ela estreou sua nova turnê, chamada Noite Preta, onde em 20 de outubro de 2009 gravou seu primeiro álbum ao vivo, na boate The Week, no Rio de Janeiro.[20] O álbum contou com as participações de Ana Carolina ("Sinais de Fogo") e Gilberto Gil ("Drão"), acompanhado na guitarra pelo neto Francisco, filho de Preta.[21] Entre 2009 e 2010, foi apresentadora do talk show Vai e Vem, do canal a cabo GNT. Na atração, Gil recebia um convidado famoso para tratar sobre a vida sexual dele. O cenário era um elevador que desce e sobe. O programa foi exibido semanalmente às sextas-feiras.[22] Também assumiu protagonismo no Carnaval, através do Bloco da Preta, lançado em 2010.[23] Preta lançou seu terceiro álbum de estúdio no dia 24 de julho de 2012, com o título Sou como Sou, pela gravadora DGE Entertainment Ltda.[24]
Gil ao vivo em Angra dos Reis (2023)
A cantora celebrou 10 anos de carreira com a gravação de seu segundo álbum ao vivo Bloco da Preta. A celebração, que teve três horas de duração, aconteceu na noite do dia 23 de outubro de 2013, no Cintou, e contou com as participações de Lulu Santos, Ivete Sangalo, Anitta, Israel Novaes e Thiaguinho.[25] No carnaval 2014, o cantor sul-coreano Psy cantou ao lado de Preta, além, também, de cantar ao lado de Claudia Leitte.[26] Seu último álbum de estúdio, Todas as Cores, foi lançado em 2017. O material trouxe participações dos cantores Pabllo Vittar, Marília Mendonça e Gal Costa.[27] Em 2024, lançou a autobiografia Preta Gil: os primeiros 50, no qual aborda o diagnóstico de câncer e o fim conturbado do casamento com Rodrigo Godoy, após uma traição enquanto a artista enfrentava o tratamento da doença.[23]
Vida pessoal
Seu primeiro casamento durou dois anos, e foi com o ator Otávio Müller com quem teve seu único filho, Francisco Gadelha Gil Moreira Müller de Sá, nascido em 1995.[28] Seu segundo matrimônio durou quatro anos, com o mergulhador Carlos Henrique Lima.[29] Preta já namorou os atores Caio Blat e Paulo Vilhena, e o apresentador Marcos Mion.[30] Entre 2015 e 2023 foi casada com Rodrigo Godoy, professor de educação física.[31][32] Em 24 de novembro de 2015 tornou-se avó de uma menina batizada como Sol de Maria, nascida na Clínica Perinatal, no Rio, na Barra da Tijuca, fruto da união de seu filho com a modelo Laura Fernandes.[33]
Preta se declarava abertamente bissexual[34][35] e pansexual,[36] afirmando já ter tido relações sexuais com mulheres.[30] A cantora também foi defensora dos direitos LGBT.[34][37]
Problemas de saúde e morte
Em janeiro de 2023, declarou que havia sido diagnosticada com câncer no intestino. Após meses em tratamento, foi submetida a uma cirurgia para retirada do tumor que deixou-a com uma ileostomia, uma deficiência física em que parte do intestino delgado é exposta no abdômen, e as fezes são recolhidas por meio de uma bolsa coletora no local.[38][39][40] Em agosto de 2023, Preta anunciou que o câncer havia entrado no estado de recidiva, resultando em dois tumores nos linfonodos, um nódulo no ureter e uma metástase no peritônio, e retomou o tratamento com quimioterapia. Com isso, fez uma nova cirurgia nos dias 19 e 20 de dezembro de 2024 para remoção de tumores, durando 21 horas.[41]
Em maio de 2025, Gil viajou para Nova Iorque, dando início ao tratamento com uso de medicamentos em fase experimental, e retornaria ao Brasil em agosto para serem dados os próximos passos pela equipe que assistia a cantora.[42] Em 20 de julho de 2025, Preta morreu em Nova Iorque em meio ao tratamento do câncer no intestino, com a informação sendo divulgada pela assessoria de imprensa da cantora e da família.[43]
Imagem pública
Em fevereiro de 2008, Gil processou o Google por danos morais, alegando que os mecanismos de pesquisa do site associavam seu nome a palavras como "atriz gorda".[44] Em novembro do mesmo ano, a RedeTV! foi obrigada a indenizá-la em 100 mil reais por danos morais. O processo foi movido depois que o programa Pânico na TV fez uma simulação parodiando uma queda que a artista sofreu dentro do mar, na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, e fez piadas sobre o seu peso. A sentença também determinou que o programa estava proibido de fazer referência ao nome e exibir a imagem dela.[45] Em 2014, Gil recusou um buquê de flores e um pedido de "desculpas" das mãos de Nicole Bahls e Matheus Mazzafera no Aeroporto Santos Dumontl, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a artista exigiu que o pedido viesse de Emílio Surita, apresentador do Pânico na Band, e de Márvio Lúcio, ator do programa. A cantora afirmou ainda que estudava um novo processo contra a Rede Bandeirantes e o programa. Ela pediu para a atração deixá-la em paz. O pedido de desculpas veio uma semana após o humorista Gui Santana tentar entregar à cantora uma coleção de roupas masculinas, todas gigantes, afirmando que teriam pertencido ao apresentador André Marques, que havia emagrecido.[46] A artista também processou o então deputado federal Jair Bolsonaro pelas declarações do parlamentar em entrevista ao programa Custe o Que Custar, da Rede Bandeirantes, que foi ao ar em março de 2011. Entre várias declarações polêmicas, Bolsonaro teria dito que seus filhos não "correm risco" de se apaixonar por mulheres negras porque foram "muito bem-educados". A afirmação foi uma resposta a uma pergunta feita pela cantora.[47]
Empresária
Music2Mynd
Em 2017, em parceria com Fátima Pissarra e Carlos Scappini, Preta fundou a Mynd através da Music2, que operava a Vevo no Brasil. A empresa é especializada em música, marketing de influência e entretenimento, e atua fazendo gestão de imagem de seus agenciados, conexão entre personalidades e marcas para trabalhos publicitários, idealização e planejamento de ações publicitarias.[48][49][50][51]
A Mynd tem em seu portfólio trabalhos com P&G, Avon, Natura, Rexona, Nissin, Grupo L'Oréal,[52] Grupo O Boticário, Itaú,[53] Hering,[54] Bradesco, Amstel,[55] Coca-Cola, AMBEV, Colgate, TikTok, Gol Linhas Aéreas, Monange, Hipermercado BIG, Claro,[56] Big Brother Brasil, Americanas, Rommanel, Nescau, Mastercard, Pizza Hut, Netshoes, Instagram,[57] dentre outras. A marca já realizou ações na Parada LGBT, no Rock in Rio e no Carnaval,[58][59][60] e tem parceria comercial com o Multishow[61] e com a Sony Music.[62]
A agência ganhou o Prêmio Caboré 2019 na categoria Serviços de Marketing.[63]
Arte
Musicalmente, Gil gravou canções bastante orientadas para o funk americano, com elementos de samba e axé music.[64] Ela citava artistas como Madonna, Gal Costa, Janet Jackson, Baby do Brasil, Jennifer Lopez, Michael Jackson e Beyoncé como suas maiores influências musicais.[8]
Discografia

Preta (2005)
Sou Como Sou (2012)
Todas as Cores (2017)
WIKIPEDHIA