segunda-feira, 28 de março de 2016

COM A PULGA ATRÁS DA ORELHA...

É curiosa a tentativa dos noticiários da Rede Globo para provar que as manifestações golpistas do dia 13 de março tiveram um maior número de participantes do que aquelas realizadas no dia 18 de março em defesa das instituições democráticas e do respeito aos resultados eleitorais. Sem me envolver em peripécias aritméticas, sem dúvida, a manifestação do dia 18, pelo menos a realizada em Conquista, foi bem superior em número e com uma composição muito diferente daquela que as forças direitistas e reacionárias tentaram mostrar ao povo conquistense. 

 Além de contar com uma quantidade maior de participantes foi integrada pelos movimentos sociais que representam e defendem os interesses e valores dos trabalhadores, dos negros, das mulheres, dos trabalhadores rurais, dos jovens, dos homossexuais, das populações periféricas, enfim, dos segmentos sociais que mais sofrem sobre o domínio do capital e da concentração latifundiária. Ao contrário, os protestos pelo impedimento de Dilma e ascensão de Michel Temer e Eduardo Cunha ao poder eram formados por pessoas dispersas influenciadas pelos meios de comunicação e algumas siglas que se intitulavam organizações, saídas não se sabe de onde, sem nenhuma ligação com o processo histórico das lutas populares. 

 Porém, mais importante é a gente observar que além das diferenças fundamentais de caráter social é analisar a incompatibilidade entre o conteúdo das propostas levadas às ruas, que revelam o que cada grupo propõem para superar a crise política que tem agravado e impedido a recuperação e desenvolvimento econômico do Brasil. A principal bandeira dos golpistas é combater a corrupção, mas apenas os supostos malfeitos do PT e seus governos. Somente de 2003 para cá. Nada de investigar tudo a fundo. Para esses “inocentes” antes do PT assumir o governo, o Brasil “era puro e belo, inocente como a flor”, a corrupção anterior e a atual daqueles que não são do PT, deve ficar onde está: debaixo do tapete. Além dessa proposta demagógica, pregam a ruptura institucional, rasgar as regras constitucionais, depor a presidente eleita e prender o principal líder político popular do país. Ao pregar essas propostas ilegais e ditatoriais continuam com o apoio irrestrito e imoral da grande imprensa e a contar com as benesses e meios materiais dos grandes empresários encastelados na FIESP e congêneres.

Ao contrário, os manifestantes que gritam “não vai ter golpe” lutam pelo total respeito ao resultado eleitoral, não admitem a derrubada de um governo que, mesmo moderadamente, está buscando alterar a perversa estrutura social brasileira, aprofundando os programas e políticas sociais em favor da população mais pobre e dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, apoiam e exigem o total combate a todas as formas de corrupção e preconceito, entendendo que nunca essa praga histórica foi tão atingida, indiciando e prendendo políticos poderosos, altos tecnoburocratas e os maiores empresários e empreiteiros do Brasil. Mas, a eficiência da apuração e punição do atos delituosos não podem estar acima das leis e das regras, ficando à mercê do poder autocrático de algum juiz e submetidas ao arbítrio de autoridade policialesca, permitindo que fluam falsas denúncias e intenso alarde de corrupção para simplesmente encobrir propósitos políticos antidemocráticos em busca do poder, sem que seja por meio de eleições, como tantas vezes já foram utilizados na história brasileira. 

Ao deformar o tamanho e o conteúdo do das manifestações pela legalidade e a democracia e simultaneamente aumentar a dimensão dos movimentos pelo golpe a Rede Globo busca um objetivo: deslegitimar o governo de Dilma e demonstrar que a opinião pública está totalmente engajada na aventura golpista. Ora, a legitimidade inconteste do governo de Dilma está amparada em vitória eleitoral por mais de 54 milhões de brasileiras e brasileiros, ocorrida com total respeito à legislação pertinente e reconhecida no Brasil e no mundo.

Eu estaria renegando toda a minha história de vida se não reconhecesse a importância das manifestações populares. Já recebi muitas cacetadas nas costas por defender e divulgar nas ruas as minhas opções políticas, culturais e sociais. Espero que aquele momento não volte nunca mais. Mas, se o pior acontecer as minhas costas estão à disposição para o que der e vier. Ao mesmo tempo, sempre entendi que movimentos de massas não são justos em si mesmos. Dependem do que representam, defendem e propagam. Nem sempre estão comprometidos com os verdadeiros sentimentos populares e nacionais.

Hoje, ao ver manifestações com o apoio absoluto da rede globo e dos grandes meios de comunicação, de braços dados com as forças mais reacionárias e obscurantistas do Brasil, pregando a liquidação dos programas sociais, propondo mais arrocho aos trabalhadores, o desrespeito ao resultados eleitorais, cassações de mandatos eletivos , divulgando ao mundo que o Brasil é um “mar de lama”, exigindo uma política econômica ainda mais recessiva, e outras tantas bandeiras conservadoras e neofascistas, meu desconfiometro dá o alerta e fico com a pulga atrás da orelha.

Edwaldo Alves Silva é filiado ao PT.


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