Alors, ô ma beauté ! dites à la vermine
Qui vous mangera de baisers,
Que j'ai gardé la forme et l'essence divine
De mes amours décomposés !
Baudelaire
Tal como os antigos perseguindo o “logos”, fico a me perguntar pela definição do termo corrupção. E caberá fazê-lo, em face ao uso e abuso da palavra, que não se chegue à aporia.
Porque corrupção, enquanto pejorativo, evoca a putrefação de algo que se supõe a ética do econômico-político.
Não podemos combater algo que não conhecemos e é só o fetichismo de um termo. Que pode muito bem estar a ser usado pelos próprios corruptos para no mundo da corrupção sistêmica nos fazer admitir que todos somos corruptos e não há como eliminar ou diminuir a corrupção à marginalidade. Temos que conhecer o inimigo, as suas armas e o terrenos em que lutamos.
O que será corrupção?, pergunto-me tal como Sócrates se faria, nos diálogos platônicos.
E, já escrevi anteriormente, por estudioso de economia-política, ela seria :
1) As mais-valias interna e externa;
2) As aventuras do capital financeiro.
Então imagino que outros podem achar que não seja isso, ou que - se o é - haveria o que acrescentar ou tirar daí.
Mas a simplicidade dos conceitos parece coincidir com a verdade e aquilo que muito se expande aproxima-se logo da suspeição em seu superlativo.
Apesar do preconceito, vou arrostá-lo, estamos algo a reverenciar o gênio de György Lukács em sua juventude que sempre se adiantou no assunto, quando, ainda pelos anos 1922, nos proporcionou o seu “Legalidade e Ilegalidade”. Por que ? Porque ali ele aborda o problema em sua complexidade e se aproxima da definição de corrupção, o que ela é e o que ela não é !
E a corrupção estaria acima do furto e do roubo, enquanto a considera algo econômico-político. A direção do valor encaminha-se certa ou erradamente.
Por isso eu a defino acima as mais-valias que correspondem ao valor do tempo de trabalho excedente, quer do proletariado interno, quer do externo.
Mas acrescento as aventuras do capital financeiro, quando a corrupção abrange os depósitos em paraísos fiscais e as misteriosas “zonas cinzentas” do mercado.
O “haver e dever” da casa em todo o mundo diante da globalização perversa e armada. Porque, se ele fosse econômica, visando a necessidade humana de todos, o capital investido de forma outra, já seríamos socialistas ou melhor dirigidos.
Ao me perguntar se uma conta “offshore” é corrupção, enquanto parte das aventuras do livre-mercado, não me faço severo com um ou outro, mas com o sistema do capital e do capitalismo, que torna perfeitamente legal tais entesouramentos.
Não vou exigir os exageros da metanóia de São Francisco de Assis, que, ao se desnudar, deixa de ser o moço rico do Evangelho, para seguir em busca da “perfeita alegria” junto à irmã Pobreza.
As coisas mudam com o tempo e se poderia pensar que me coloco como o super-ego dos ricos, que não o sou, porque eles devem tê-lo mais ou menos exigente.
Portanto, há várias definições para corrupção, em diversas mentes. Definições capitalistas e socialistas. Como poder-se-ia distinguir entre uma “ordem jurídica da burguesia” e uma “ordem jurídica do proletariado”.
Opomo-nos ao capital e ao capitalismo por consciência social - sofridamente adquirida- e nos voltamos para todos que ainda não possuem o olhar socialista.
A lógica, a ética e a estética socialistas, mais incômodas aos que se culpam pelas suas riquezas, conscientes de nossa “virtù”.
E da nossa utopia “de cada um segundo a sua capacidades, a cada qual segundo as suas necessidades”.
De fato, cabe a definição de corrupção. Mas ela se situa em torno da aporia porque não coincide com a hegemonia mundial do capital.
A diferença de enfoques vai do diálogo elegante à violência das revoluções, a só um tempo precoces e tardias.
Não há mais comunismo ou socialismo no mundo, somente em nosso ideal. Mas o nosso sonho persiste e gostaríamos que todos o sonhassem conosco.
De resto, sob tal “fortuna” mundial, a hegemonia do capital nacional-transnacional, não imponho nada ninguém que não seja o bom exemplo, eventualmente árduo e difícil. Mas não sou o super-ego do capital e dos capitalistas, quando lido com mentes elaboradas e que devem ter o seu super-ego.
Seria assim.
Fernando Neto
05/04/2016
Fonte : Ilvaneri Penteado - Jornalista - Rio de Janeiro
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