Em 1964 a Igreja apoiou o golpe de estado. As camadas médias seguiram-lhe os passos. Todos alegres e satisfeitos com o lema da TFP. Os dias foram se passando e as "decepções" começaram.
Os clérigos inicialmente presos e perseguidos eram só um aperitivo do que viria depois. Os Dominicanos que o digam. E, para além deles, os membros das Comunidades Eclesiais de Base também dançaram, muitos deles presos, torturados e assassinados.
Os estudantes universitários e do segundo grau começaram a atacar a Ditadura. Quando o Edson Luiz foi assassinado no Calabouço fizeram-lhe uma homenagem fúnebre das maiores. Uma enorme passeata com mais de 100 mil pessoas foi realizada cobrando o fim da ditadura e o povo no poder.
Daí as perseguições centraram nos jovens que, em boa parte, aderiram à luta armada. Então, as camadas médias sentiram por seus filhos o mesmo que os trabalhadores e seus filhos começaram a sentir desde o dia do golpe.
As promessas dos milicos e seus apoiadores jamais se realizaram.
Democracia? Foi entregue em seu lugar a mais tenebrosa Ditadura de nossa história.
Honestidade? Entre outras mil questões, a pergunta onde foi parar o "ouro para o bem do Brasil" (que a camada média contribuiu arrancando até seus dentes de ouro) nunca foi respondida.
As forças políticas e sociais que apoiaram, e vibraram, com o golpe, cedo cedo viram "o que é bom pra tosse".
Vejo agora um clima com muitas semelhanças.
As diferenças principais são que os militares estão fora da jogada e afirmam defender a democracia e a Constituição, pelo menos, até agora. Outra diferença importante é a de que, nos últimos meses e de forma muito crescente, os trabalhadores e o povão vem se posicionando valentemente contra o golpe. Juntam-se aí, juristas decentes, intelectuais e jornalistas idem, artistas, estudantes, sindicalistas, enfim, a sociedade civil não quer golpe.
A mídia, como sempre, caiu de cabeça na marcha golpista, sustentando-a 24 horas por dia, e de parceria com certa parte conhecida por todos do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, e dos empresários ligados ao presidente da FIESP, o pelego Paulo Skaf que sequer industrial é. Novamente, a FIESP incita o desrespeito ao Estado de Direito, à Constituição, às liberdades democráticas e sindicais com um Programa de arrepiar os cabelos.
Empresários, mídia, parte do judiciário, do MP, da PF querem revogar a CLT; privatizar o INSS, Banco do Brasil e Caixa Econômica; entregar para o capital internacional o Pré-Sal e a Petrobrás (esta depois de devidamente desmoralizada e destruída para ser entregue pelo lucro de um ano, se tanto) proibir, ainda mais, o aborto; atacar os sindicatos e movimentos populares, destruindo-os; enfim, liquidar todas as conquistas feitas pelo nosso povo até hoje, no campo dos direitos sociais e da qualidade de vida.
Acredito eu que, apesar desse forte apoio de parte da sociedade, no fim, prevalecerá o bom senso. Não acredito que todos os apoiadores do golpe queiram levar o país para um estado de comoção permanente, ou até guerra civil. Se não houver governo estável os capitalistas vão perder lucros e até parte considerável de seu capital. Os médios e pequenos proprietários então vão ficar em estado de penúria ou falir. E os trabalhadores, os maiores prejudicados, ficarão sem seus empregos, logo, sem poder comprar sequer os meios de subsistência.
A meu ver é um jogo onde todos, ou quase todos, perdem. Em algum momento, os que participam dessa marcha suicida vão se tocar. Aliás, o povão está se tocando, tanto assim que, apoio ao impeachment vem perdendo fôlego, o prestígio de certo Juiz cai ladeira abaixo e, junto com ele, sua "esquadra" de procuradores e policiais.
Um outro fator importante é o de que, sendo a votação no Congresso aberta e por ordem alfabética que, acredito o STF garantirá a "ordem no galinheiro", o parlamentar terá que mostrar sua cara ao povão, e aí...
Bem, volto a dizer que acredito no bom senso. Ele vai prevalecer em algum momento, apesar dos cunhas, moros, gilmares e outros do mesmo jaez. Podem dizer que sou otimista demais. Sou mesmo, e se não o fosse, não seria um "sobrevivente" da Operação Bandeirantes, no dizer do meu amigo, o falecido ator Rafael de Carvalho.
Mas, o que garantirá mesmo a Democracia, o Estado de Direito e a "felicidade geral da nação", serão os trabalhadores ocupando as ruas e praças deste país, aos milhões deles, defendendo com valentia seus direitos e suas mais sentidas reivindicações.
Companheiros, estejam certos: Os nazi não passarão!
José Augusto Azeredo
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