domingo, 24 de julho de 2016

O 24 de agosto

O 24 de agosto, durante muitos anos, foi uma data célebre. Hoje, parece um tanto no ostracismo. Também são decorridos 62 anos que Getúlio Vargas deu um tiro no peito, e num país sem memória...

Corria célere o mês de agosto de 1954. Aliás, os meses e anos anteriores foram prenhes de campanha golpista paralelamente a ação de defesa do monopólio estatal do petróleo. 

Dois principais acontecimentos, então, impulsionavam os militares golpistas. O decreto do Ministro do Trabalho de Getúlio, João Goulart, dobrando o salário mínimo. Ah, "classe" média, a Mídia Golpista da época, e mais os outros reaças de sempre protestaram firme. Com um salário mínimo tão alto o mundo iria acabar. Eles só gostavam e, pior, ainda só gostam, daquele salário mínimo mostrado por Chico Anísio na televisão: o salário mínimo "oooh" e fazia um gesto de algo muito pequeno.

Como vimos alguns anos passados com o salário mínimo alto, e subindo sempre, todo mundo ganha. Mas, isto é outra história que fica para depois.

De bem antes, lá dos anos 1930, vinha a campanha do "O Petróleo é Nosso", inicialmente comandada pelo grande escritor brasileiro, de contos infantis e obras nacionalistas, Monteiro Lobato (também em desuso hoje). E o bravo General Horta Barbosa que, no Estado Novo mandou prender, ironicamente, Monteiro Lobato, quando era presidente do Conselho Nacional do Petróleo. Mais tarde, esse general tornou-se liderança da campanha "O Petróleo é Nosso".

Por falar nisso, que criou essa consigna? Essa frase foi criada por Otacílio Raínho, professor e diretor do Colégio Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, um marqueteiro casual. 

Aí os inimigos da Petrobrás pisaram fundo no acelerador. Em 3 de outubro de 1953, pressionado pela campanha do "O Petróleo é Nosso" que já vinha dos anos 1930, Getúlio Vargas assinou a Lei nº 2.004 instituindo o Monopólio Estatal do Petróleo. Os entreguistas, então, entre eles, os coronéis da Aeronáutica, "endoidaram de vez". Sob a batuta de Carlos Lacerda, então proprietário do jornal Tribuna da Imprensa, instituíram uma sórdida campanha chamada de "mar de lama" com a qual acusavam o governo de Getúlio de corrupção. Isso mesmo, exatamente como os entreguistas de hoje fazem agora.

Em meio a essa agitação golpista, aconteceu um atentado que vitimou o Major da Aeronáutica, Rubens Vaz. Como ele estava junto do "Corvo", como os getulistas chamavam Lacerda, nunca se soube se o objeto do atentado era o oficial ou Lacerda. Mas, a "República do Galeão" fonte de investigações da Aeronáutica, não se preocupou em esclarecer bem essa importante questão. Aliás, o atentado foi atribuído a um segurança de Vargas e, como hoje, condenado, previamente, pela Mídia da época, igualmente pinóquia, e ponto final. Parece que não existia mais interesse em ir fundo na apuração, mas, em usá-lo contra Getúlio.

Aí, o velho caudilho não aguentou mais toda aquela sordidez e deu um tiro no peito na manhã do 24 de agosto.

Com tal gesto, Getúlio abortou o golpe. E deixou uma Carta Testamento muito famosa, responsabilizando o imperialismo, os banqueiros e outros mais por seu gesto. Durante cerca de 10 dias o povão ocupou as ruas de todas, ou quase todas, as cidades do Brasil, quebrando e queimando o que encontrava pela frente. Embaixada dos EUA, carros da Tribuna, e outros veículos da imprensa golpista foram virados e queimados. Os trabalhadores estavam fora de qualquer controle. Militares e polícia se afastaram e deixaram o "pau quebrar". Assim, os golpistas não puderam aproveitar-se do suicídio do “Velho”, ao contrário, os mais conhecidos tiveram de fugir do Brasil. Algumas lideranças anti-Getúlio foram se esconder num navio da Marinha.

Pena é que, Getúlio, como Lula, era um grande líder, mas não tinha seguidores à altura de sua popularidade e visão política. Poderiam ter cavalgado o movimento popular para escorraçar a direita nas Forças Armadas e no País e não o fizeram. O Partido Comunista, por sua vez, não conseguia enxergar nada, politicamente, naquela ocasião. Com o povão em pé de guerra, dizia que isso era uma luta entre a burguesia e o imperialismo que, nada tinha a ver com o proletariado...

Mas, se o proletariado ocupava as ruas, quebrava tudo e queimava então o que estaria acontecendo?

Diante disso, o vigor revolucionário popular foi arrefecendo até que as chamadas "forças legais" puderam retomar para a burguesia e os agentes do imperialismo o controle do Brasil.

E o golpe por eles pretendido ficou adiado para 1964, repetindo-se, numa nova roupagem, nos dias atuais. E os democratas, a esquerda e os sindicalistas tiveram a postura dos getulistas, nacionalistas e comunistas de 1954!

De lá para cá, a esquerda praticou um erro de análise daqueles lá de 1954, confundindo CLT com “Polaca” e outras baboseiras mais que deu no que deu.

Claro que Vargas era comuna, como alguns idiotas pensavam e ainda pensam por aí. Foi, sim, o melhor quadro que a Burguesia Brasileira já produziu, que, atrasada e tacanha como é não conseguiu reconhecer nele seu grande líder. Se Vargas, como quadro da Burguesia não tivesse editado a CLT nem atrelado os sindicatos ao Ministério do Trabalho, talvez o Brasil de hoje, ao invés da “coalizão de ladrões”, nos termos de Ciro Gomes, tivesse um regime socialista.
José Augusto Azeredo





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