segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sobre a criminalização da política

A mídia, Globo à frente, levou boa parte das camadas médias, e pobres, também, às ruas inúmeras vezes por ano para "combater a corrupção", em campanhas midiáticas eivadas de ódio. Procurou criminalizar a política 24 horas por dia e 365 dias por ano, especialmente a partir de 2005.

O que redundou daí?

Essa campanha, provocou graves efeitos que o PT e a esquerda deixaram passar tranquilamente. 

Cometemos erros incríveis desde a Constituinte de 1988 quando, o esquerdismo então vigente em nosso meio não nos possibilitou aproveitar a oportunidade para regular a Mídia. Um refugiado argentino radicado aqui no Brasil repetia com insistência: "precisamos fazer `a reforma agrária do ar", ou seja, regular a mídia. E nos, nada.

Em 2003, com a consagração eleitoral de Lula, novamente o PT e Governo não se preocuparam em colocar um "bridão" na Mídia. Ao contrário o Presidente Operário, com toda sua enorme popularidade então, encheu o cofrinho da Globo com milhões e milhões de dólares, então pendurada em dificuldades financeiras. Outra oportunidade de ouro perdida aí.

Desperdiçaram em 2006 outra boa oportunidade.

Tal campanha frenética não só levou a criminalização da política e dos movimentos sociais, vingando a ideia deletéria de que "todo político é corrupto", como incitou em boa parte da população, notadamente nas camadas médias, um ódio doentio ao o outro, E abalroando muito seriamente o prestígio do Partido dos Trabalhadores e partidos de esquerda em geral. Aliás, o ódio produzido, então, pela Mída, jamais foi visto em nossa história.

O sujo mote do "todo político é corrupto" leva parcela considerável dos jovens a desistir de fazer política, de lutar por um mundo melhor, abrindo espaço então para os verdadeiros corruptos e, pior, inimigos ferrenhos dos trabalhadores, das liberdades democráticas e sindicais. Tivemos um exemplo disso durante a Ditadura de 1964. Com o golpe de estado então desfechado por civis e militares, com o sempre apoio sórdido da Mídia de então, muitos homens de esquerda, muitos membros do Partido Comunista, foram "pra debaixo da cama", alguns deles até ingressando na ARENA e outros apoiando "militares nacionalistas", os quais, quando. com as greves dos trabalhadores do ABC paulitas, a Ditadura começou perder força, saíram de seus esconderijos e voltaram a atuação política, defendendo bandeiras comunistas, e,partes deles reingressando no Partido Comunista.

Esses pulhas oportunistas, descarados covardes, foram recebidos por seus Partidos, inclusive o Partido Comunista que fez "vistas grossas" aos traidores.

Agora, já existem políticos e juízes que propõem a cassação do registro do PT que, certamente será seguida pela exclusão dos partidos que se apresentam como comunistas ou de esquerda. Este é o objetivo do atual Congresso e do governo usurpador instalado por esse Congresso aí com o férreo apoio da Mídia, Rede Globo à frente, de parcela do Judiciário, do Ministério Público, e da Polícia.

Aproveitando-se da desmoralização de partidos e políticos avançam furiosamente sobre os direitos dos trabalhadores. A mando dos empresários que os financiam, aprovaram na calada da noite num dia da semana que passou, no Senado Federal, o fim das Férias e do 13º Salário. E mais, a entrega de nosso petróleo, Petrobras e Pre Sal reunidos, às empresas multinacionais. Acabaram de doar a uma delas, um campo promissor do Pre Sal do qual ainda nem conhecemos todo o seu potencial de petróleo, com um barril valendo uma garrafa de água mineral. Nem a Ditadura de 1964 praticou tais barbaridades.

É nisso que a Globo e suas parceiras investiram com fúria desde 2005 e antes. Destruir os direitos trabalhistas e entregar nossas riquezas ao imperialismo. Por amor a pátria, de graça tudo issso? Hahaha, Como canta Juca Chaves : "Caixinha obrigado".

Possivelmente no final deste mês o Senado completará o golpe iniciado pela Câmara dos Deputados, afastando Dilma Roussef em definitivo e homologando o traidor Temer,

Só vejo uma saída para a democracia e as liberdades sindicais. Os trabalhadores fazerem passeatas, greves e ocupações de espaços públicos. Se as massas não forem decididamente para as ruas, adeus democracia, adeus liberdades sindicais, adeus direitos trabalhistas, adeus aposentadoria antes dos 75 anos.

Vou terminar esta matéria transcrevendo trecho de um artigo recente do colunista Mauro Santayana, intitulado "O rabo e o cachorro": 

"Ao querer, na prática e midiaticamente, limitar os problemas nacionais ao combate à corrupção; com um processo interminável que está afetando, da maneira como vem sendo conduzido, vários setores da economia; desviando o foco de todas as outras questões, transformando-o em prioridade máxima - quando se está cansado de saber que no dia em que a corrupção acabar no Brasil, principalmente por obra e graça de dois ou três "vingadores", o Cristo Redentor vai descer do Corcovado, com sua saída de praia, para pegar uma onda em Copacabana e em Katmandu choverão búfalos dourados e sagrados - os responsáveis pela Lava-Jato e quem a está defendendo como a última limonada do deserto estão tratando a cauda como a cabeça do cão e colocando o bicho para correr, em círculos atrás dela.

Ou pior, para usar outra imagem ainda mais clara: hipotecar o futuro político e econômico da oitava economia e quinto maior país do mundo a uma operação jurídica discutível e polêmica é tão surreal e absurdo quanto querer que o rabo balançe o cachorro, no lugar do animal balançar a própria cauda".

José Augusto Azeredo

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