quinta-feira, 3 de agosto de 2017

ENTENDER A VENEZUELA PARA TENTAR ENTENDER O BRASIL.

As forças políticas direitistas em todo o mundo, comandadas pelo governo de Donald Trump, tentam barrar e reverter o processo político venezuelano. O governo bolivariano convocou eleições para eleger uma Assembléia Nacional Constituinte com o objetivo de elaborar uma nova constituição que aprofunde o processo revolucionário e popular naquele país. Essa proposta, é necessária para diminuir a força e a influência que setores direitistas ainda possuem na estrutura institucional burguesa do estado. Principalmente no atual parlamento, que se transformou em forte instrumento para a efetivação do golpe parlamentar que, se vitorioso, destituirá o presidente, repetindo o êxito alcançado pelos golpistas no Brasil.

Mas, importa analisar mais detalhadamente a proposta de composição da futura Assembléia Constituinte que tanto ódio provoca nos conservadores venezuelanos e do mundo todo, principalmente no Brasil de Temer: 364 constituintes eleitos pelos municípios; 79 trabalhadores; 28 aposentados; 24 pelos conselhos comunais, 24 estudantes; 8 camponeses (muitos outros serão eleitos pelos municípios); 8 indígenas eleitos em suas assembléias; 5 portadores de deficiências e 5 empresários/capitalistas. 

Porquê acham que o processo não é democrático?

Porque não tem a bancada da bala, nem dos latifundiários/agronegócios, nem dos bancos, nem da FIESP e semelhantes, nem o centrão, nem a evangélica, nem o chamado baixo clero, nem a bancada do boi/JBS, nem a turma da tornozeleira, nem a turma do Cunha/Temer, nem os picaretas que absolveram Temer do processo de corrupção passiva, enfim, na Venezuela está de se constituindo um órgão de poder que tem a cara do povo. Quer elaborar, decidir e votar de acordo com os interesses populares e nacionais.

Olhamos para a Venezuela para tentar enxergar o Brasil. Ambos demonstram as enormes dificuldades de promover mudanças políticas e sociais profundas nos marcos da institucionalidade das classes dominantes, que foi construída ao longo de séculos de exploração e submissão. Na Venezuela, um governo popular luta contra parte de uma estrutura que procura manter antigos privilégios e retroceder avanços significativos para o povo. No Brasil, as correntes de esquerda, nacionalistas e socialistas aderiram completamente às regras dominantes, inclusive abraçando o vergonhoso processo de financiamento eleitoral, venceram eleições e conquistaram a presidência da República. Reformas avançadas foram conquistadas e alargaram-se os espaços democráticos de participação popular. No entanto, o caminho da política de conciliação de classes tem limites econômicos, políticos e ideológicos, que acabaram impondo ao segmento da elite brasileira que participava dessa aliança o caminho do golpe contra Dilma e o retrocesso que todos estão assistindo.

No Brasil as correntes democráticas e de esquerda estão refletindo sobre o processo que provocou a derrota e buscando caminhos próprios de retificação de rumos que consigam recuperar a aceitação popular. Na Venezuela, o embate é agora, os dados estão lançados. Ainda é prematuro prever o que ocorrerá naquele país. Ou teremos mais um golpe na América Latina consolidando a política e geopolítica hegemônica do imperialismo de Trump ou o governo bolivariano conseguirá vencer a reação interna e internacional, aprofundar o processo de transformações revolucionárias, conseguir a paz, superar a crise econômica e continuar sendo um fator importante para a luta democrática, pela soberania, e pela libertação social e nacional dos povos da América latina e Caribe. 


Edwaldo Alves Silva é militante do PT.

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