Em muitos posts nas redes sociais ou em conversas com amigos leio/ouço a reclamação sobre a incoerência de parte da classe média que se cala diante da enxurrada de denúncias e provas de corrupção contra o atual governo; esta mesma parcela da população que se mostrava tão raivosa contra a corrupção do antigo governo e contra as "pedaladas" de Dilma Rousseff, motivo alegado para seu impedimento da Presidência do país.
Ora, a campanha midiática capitaneada pela Rede Globo, que levou milhões às ruas entre 2013 e 2016, pedindo a queda do PT, arquiteta com maestria de deixar Goebbels invejoso, tinha a corrupção apenas como pretexto palatável aos anseios higienistas. O ódio demonstrado nas ruas - travestido de combate à corrupção - era de classe: uma parcela da população que se inconformava de ver os "de baixo" subindo e os "de cima" subindo mais ainda. "Filho de pobre na mesma escola que meus filhos?", "sentar ao lado de um pé rapado no avião?", "Preto, ops, é racismo, neguinho afrodescendente, cursando faculdade por conta de cotas e não de 'mérito"? Que governo desgraçado é esse que quer impor, da noite para o dia, uma lógica diferente da que o país vive há cinco séculos?
Ao ser exposta a seus próprios preconceitos, essa classe média (e aqui uso o termo de maneria genérica, houve muitos desvalidos sociais que embarcaram ideologicamente nesse discurso) - apadrinhada pela mídia, pelos tucanos e pelo empresariado urbano e rural - só precisava de um mote confortável para ir às ruas expor sua ira contra o petismo, símbolo de "tudo de ruim" que ocorria - corrupção, crise econômica, empoderamento feminino e de minorias, programas sociais, respeito humano, ciclovias, blá, blá, blá.
Quando os padrinhos dessa classe média - Fiesp, ruralistas, psdb, mídia - deixaram de ter interesse político de incentivar a boiada, cessaram os barulhos das panelas.
É mais um erro a esquerda se sentir refém do silêncio da classe média, ela nunca foi às ruas contra corrupção - seria suicídio - ela se manifestou contra a ascensão dos "de baixo", apoiou um golpe que entende esse recado e está "recolocando as coisas em ordem": lucro para os grandes, privilégios para os do meio, migalhas para os de baixo.
Caros amig_s de esquerda: esqueçam essa classe média e continuem a fazer o que se deve: protestar nas ruas e organizar os desvalidos, não pela lógica do consumo, mas pela da cidadania.
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