Claro que os brasileiros somos uma cultura com influencia de Portugal, da África, e de outros europeus como italianos, espanhóis e alemães. Além da influência árabe em muitas regiões, da vertente síria e libanesa, especialmente. E ainda, e não podemos esquecer do forte componente nipônico, especialmente na culinária originária do Japão via japoneses que para aqui emigraram e constituíram fonte de influência em nossa cultura.
Mas daí alguém querer afirmar que temos uma cultura presa à influência portuguesa é não enxergar um palmo adiante do nariz. E pior, que dai teríamos herdado um espírito de malandragem, que nos torna um povo voltado para o aproveitar-se de outros, de procurar sempre nos aproveitar de tudo, aquilo que chamam de "jeitinho brasileiro", é não conseguir analisar a realidade com um sentido mais profundo e ficar na superfície dos problemas.
Não temos tal ligação com cultura e sentimentos portugueses nesse nível, até porque, quem vive em São Paulo, por exemplo, vê que por aqui, sobram sentimentos de japoneses, italianos, alemães e espanhóis, sem falar nos povos do leste europeu, e outros.
Temos sim, um culturalismo racista que trazemos com base na escravidão que infelicitou o Brasil por mais de 500 anos e influi negativamente em nosso social até hoje. Os preconceitos em relação aos negros se transformaram em preconceitos em frente aos pobres.
Sem dúvida alguma que, toda a campanha anti Lula, Dilma e o PT só existiu porque nos 15 anos de governos petistas o foco foi retirar grande parte da população da miséria, de dar ensino e dignidade de vida para eles.
O Professor Jessé Souza em sua obra "A Elite do Atraso", aborda com maestria essa questão. Vamos transcrever, em seguida, alguns trechos dessa análise, nas páginas 27 a 29.
Assim se na década de 1930, enquanto Talcott Parsons dava os primeiros passos em seu engenhoso esquema a partir do qual se tornaria a influência máxima da teoria da modernização no mundo, se desenhava no Brasil a sua contraparte "vira lata", produto mais típico do pensamento do escravo dócil, ponto a ponto, a imagem invertida daquilo que Parsons construía como autoimagem da superioridade dos americanos no mundo. Se Parsons e seus seguidores iriam construir a imagem dos americanos como objetivos, pragmáticos, antitradicionais, universalistas e produtivos, nossos pensadores mais influentes iriam construir o brasileiro como pré-moderno, tradicional, particularista, afetivo e, para completar, com uma tendência irresistível à desonestidade.
O começo dessa aventura brasileira no pensamento, no entanto, não foi tão mal assim. Gilberto Freyre foi a figura demiúrgica desse período. Intelectual ambíguo e contraditório - aos meus olhos o brasileiro mais genial na esfera do pensamento, ainda que conservador na política - Freyre construiu todo o enredo do Brasil moderno prenhe de ambiguidade e de contradições como seu criador. Como homem do seu tempo, Freyre era prisioneiro do racismo científico. Tendo sido exposto, no entanto, nos anos 20 do século passado, ao culturalismo, à época de vanguarda de Franz Boas, que influenciou decisivamente a antropologia e as ciências sociais americanas críticas do racismo científico, Freyre elaborou uma interpretação culturalista que procurou levar o culturalismo vira lata ao seu limite lógico.
Como não percebia o principal, que é a assimilação de pressupostos implicitamente racistas no coração do próprio culturalismo, Freyre lutou bravamente dentro do paradigma do culturalismo racista, para tornar ao menos ambígua e contraditória a condenação prévia das sociedades ditas periféricas em relação às virtudes reservadas aos americanos e europeus, Freyre procurou e conseguiu criar um sentimento de identidade nacional brasileiro que permitisse algum "orgulho nacional" como fonte de solidariedade interna. Foi nesse contexto que nasceu a ideia de uma cultura única no mundo, luso-brasileira, percebida como abertura cultural ao diferente e encontro dos contrários. Daí também todas as virtudes dominadas, posto que associadas ao corpo e não ao espírito que singularizam o brasileiro para ele mesmo e para o estrangeiro: a sexualidade, a emotividade, o calor humano, a hospitalidade, etc. Antes de Freyre inexistia uma identidade nacional compartilhada por todos os brasileiros.
Freyre procura, na realidade, utilizar-se de todas as ambiguidades implícitas no paradigma que define o espírito na sua virtualidade de inteligência e moralidade superior contra o corpo animalizado. O corpo em Freyre é percebido como domínio das emoções reprimidas pelo espírito que não apenas pensa e moraliza, mas que também controla, higieniza e segrega. A segregação racial explícita dos americanos seria um símbolo da ausência de emoção como defeito e doença. A emoção, afinal, que pode ser sádica, mas que pode também aproximar e permitir o aprendizado de contrários, criando combinações originais que era, nos seus sonhos, o que o Brasil já era e ainda poderia melhorar.
Freyre foi o criador do paradigma culturalista brasileiro vigente até hoje dominado pelas falsas ideias da continuidade com Portugal e da emotividade como traço singular dessa cultura. No entanto, sua leitura se torna dominada dentro desse mesmo paradigma culturalista racista de se pensar o Brasil e sua singularidade. Darcy Ribeiro talvez seja o seguidor mais influente daquela corrente que enxerga o Brasil como potencialmente tendo uma mensagem original para o mundo. Muitos são freyrianos sem o saber. Lembro artistas com Glauber Rocha ou Jorge Mautner e até Caetano Veloso, que imaginam perscrutar essa mesma originalidade pela intuição artística. São seguidores, como todos nós em certo sentido, de uma ideia que foi Freyre que deu corpo e materialidade.Pois é, precisamos valorizar nosso povo, nossa cultura, nossas origens para melhor defender o Estado de Direito, as Liberdades Democráticas e Sindicais, a capacidade do brasileiro no trabalho, no aprendizado, na cultura e na ciência e tecnologia. Para não embarcar de graça na canoa furada de que temos e entregar o petróleo e o Pré-Sal aos americanos porque eles sabem explorar e nós não.
Precisamos, isto sim, lutar com denodo para expulsarmos os Golpistas e construir um novo Brasil, para os pobres, para os trabalhadores!
José Augusto Azeredo
Nenhum comentário:
Postar um comentário