O fato de termos elegido governos de centro-esquerda é um fato a considerar. Foi a primeira vez no Brasil e a esquerda busca através de reformas - na democracia - lutar contra a desigualdade social.
Isso significa que não vai procurar atender apenas às classes médias,
mas, também, as mais pobres da cidade e do campo.
Vamos, pois, procurar entender, como e porque, o governo de esquerda é
acusado de algo não programático. Por que, é obvio, como considerei acima, que
a corrupção não se encontra no projeto de governo da esquerda. Também não vejo
que ela tenha chegado ao poder por algum projeto criticável. Chega-se ao
governo e não se chega ao poder !
Entendo que se poderia definir a corrupção como as mais –valias interna
e externa mais as aventuras do capital financeiro. De certo modo as primeiras
alimentam o segundo que se torna em paraísos fiscais e “zonas cinzentas” pelo
mundo.
O que pode ocorrer decorre do fato de que as leis, que deviam ser para
todos, numa inversão de valores, tendem a criminalizar o Partido dos
Trabalhadores, não os partidos do capital.
É no governo de esquerda que a corrupção, enquanto o definido acima,
torna-se mais visível. Mas as investigações podem seguir, a partir de certo
ponto, o sentido perverso de se voltarem contra ele. É possível que alguns
quadros tenham cometidos erros e eles são punidos por embolsarem dinheiro do
povo, não o usarem pelo povo e para o povo.
E há o conceito lukacsiano de corrupção, que transcende a experiência
italiana da “Operação Mãos Limpas”. De modo que, no debate e na busca correta
do “logos” : corrupção, percebe-se que os responsáveis pela Lava-Jato, como
aqueles das “Mãos Limpas”, não estudaram, ou não compreenderam bem, as palavras
de György Lukács no seu “Legalidade e Ilegalidade”.
É que vivemos a desigualdade social e o dinheiro do governo deve ser
distribuído para o benefício do povo. Isto é, burguesia e proletariado,
proletariado e campesinato.
Se há dinheiro, não se deve pensar imediatamente em usá-lo contra a
desigualdade social!
Tal é, certamente, o que tentará sempre fazer, mais e
mais, o governo de esquerda.
E é aí que entram os avaros e vorazes da economia-política, já que estão
acostumados aos seus privilégios de berço, seja nas aristocracias ou nas
oligarquias. O capital passa a ter prioridade ! Ele é que “rouba, mas faz”, não
a esquerda. Lembrem o cofre do “dr. Rui”.
A esquerda tenta subverter a “ordem jurídica da burguesia”, por uma
ordem jurídica dos mais pobres.
Se há dinheiro, não se deve pensar, imediatamente, em usá-lo contra a
desigualdade social?
A responsabilidade é, pois, a de gerir o Estado através de um governo
que aja mais amplamente para todos, não só para grupos ou indivíduos que
entesouram e acumulam capital, excluindo os menos favorecidos pelo simples
nascimento.
A “Operação Mãos Limpas” foi um sucesso policial, mas um fracasso na
economia-política. Deve ser objeto de elogio e de auto-crítica. Quem sai
ganhando, afinal ? O capital!
Faz-se o acordão, derruba-se a esquerda, e tudo continua na mesma ou
pior. Como na Itália, então, com a política desmoralizada. O Estado fraco, como
deseja o capital liberal, que, no fracasso as auto-regulamentação do mercado,
vai dar na anarquia de mercado que eu sinto ser a anarquia essencial.
O que se tem visto, é obstar a esquerda fazer as reformas que consideram
as necessidades do povo quanto à imensa desigualdade. Talvez, como na Itália,
embora lá não estejamos.
E com a grande mídia também fazendo o seu papel, como ocorreu. E não
podemos subestimá-la, já que se torna um 4º poder, então completamente
inconstitucional ! É até mais do que o dito “o maior partido de oposição”.
E como ela se distancia do que poderia ter feito !
Os juízes da Lava-Jato são jovens e os jovens são a esperança do país.
Eles devem ser estudiosos, fazem palestras e entram em debates. Eu sei que o
texto de Lukács encontrável em “História e Consciência de Classe”, é antigo e
muitos o desconsideram. Mas eles poderiam estudá-lo.
Claro, há os que colocam o dinheiro no bolso, e não o distribuem pelos
necessitados. Estes deixam de ser esquerda, pelo projeto do governo de
esquerda.
Mas há, perversamente embutido no conceito de corrupção, apenas o afã de
contrariar os interesses do capital por uma ordem jurídica dos mais pobres. É a
esquerda, não a direita que, até historicamente, combate a corrupção da forma a
mais enérgica, incluindo por ex. o “paredon” da antiga Cuba.
País democrático, o Brasil aspira por reformas e não deve ver o sucesso
policial da Lava-Jato desandar, como deseja o capital, em algo
econômico-politicamente regressivo das conquistas do povo.
Se há dinheiro, não se deve pensar, imediatamente, em usá-lo contra a
desigualdade social!
Seria assim ?
Fernando Neto
PT RJ nº 1741303
Nenhum comentário:
Postar um comentário