quinta-feira, 6 de junho de 2019

É A ESQUERDA, NÃO A DIREITA, QUE É VOCACIONADA AO COMBATE À CORRUPÇÃO

O fato de termos elegido governos de centro-esquerda é um fato a considerar. Foi a primeira vez no Brasil e a esquerda busca através de reformas - na democracia - lutar contra a desigualdade social.


Isso significa que não vai procurar atender apenas às classes médias, mas, também, as mais pobres da cidade e do campo.

Vamos, pois, procurar entender, como e porque, o governo de esquerda é acusado de algo não programático. Por que, é obvio, como considerei acima, que a corrupção não se encontra no projeto de governo da esquerda. Também não vejo que ela tenha chegado ao poder por algum projeto criticável. Chega-se ao governo e não se chega ao poder !

Entendo que se poderia definir a corrupção como as mais –valias interna e externa mais as aventuras do capital financeiro. De certo modo as primeiras alimentam o segundo que se torna em paraísos fiscais e “zonas cinzentas” pelo mundo.

O que pode ocorrer decorre do fato de que as leis, que deviam ser para todos, numa inversão de valores, tendem a criminalizar o Partido dos Trabalhadores, não os partidos do capital.

É no governo de esquerda que a corrupção, enquanto o definido acima, torna-se mais visível. Mas as investigações podem seguir, a partir de certo ponto, o sentido perverso de se voltarem contra ele. É possível que alguns quadros tenham cometidos erros e eles são punidos por embolsarem dinheiro do povo, não o usarem pelo povo e para o povo.

E há o conceito lukacsiano de corrupção, que transcende a experiência italiana da “Operação Mãos Limpas”. De modo que, no debate e na busca correta do “logos” : corrupção, percebe-se que os responsáveis pela Lava-Jato, como aqueles das “Mãos Limpas”, não estudaram, ou não compreenderam bem, as palavras de György Lukács no seu “Legalidade e Ilegalidade”.

É que vivemos a desigualdade social e o dinheiro do governo deve ser distribuído para o benefício do povo. Isto é, burguesia e proletariado, proletariado e campesinato.

Se há dinheiro, não se deve pensar imediatamente em usá-lo contra a desigualdade social!  

Tal é, certamente, o que tentará sempre fazer, mais e mais, o governo de esquerda.

E é aí que entram os avaros e vorazes da economia-política, já que estão acostumados aos seus privilégios de berço, seja nas aristocracias ou nas oligarquias. O capital passa a ter prioridade ! Ele é que “rouba, mas faz”, não a esquerda. Lembrem o cofre do “dr. Rui”.

A esquerda tenta subverter a “ordem jurídica da burguesia”, por uma ordem jurídica dos mais pobres.

Se há dinheiro, não se deve pensar, imediatamente, em usá-lo contra a desigualdade social? 

A responsabilidade é, pois, a de gerir o Estado através de um governo que aja mais amplamente para todos, não só para grupos ou indivíduos que entesouram e acumulam capital, excluindo os menos favorecidos pelo simples nascimento.

A “Operação Mãos Limpas” foi um sucesso policial, mas um fracasso na economia-política. Deve ser objeto de elogio e de auto-crítica. Quem sai ganhando, afinal ? O capital!

Faz-se o acordão, derruba-se a esquerda, e tudo continua na mesma ou pior. Como na Itália, então, com a política desmoralizada. O Estado fraco, como deseja o capital liberal, que, no fracasso as auto-regulamentação do mercado, vai dar na anarquia de mercado que eu sinto ser a anarquia essencial.

O que se tem visto, é obstar a esquerda fazer as reformas que consideram as necessidades do povo quanto à imensa desigualdade. Talvez, como na Itália, embora lá não estejamos.

E com a grande mídia também fazendo o seu papel, como ocorreu. E não podemos subestimá-la, já que se torna um 4º poder, então completamente inconstitucional ! É até mais do que o dito “o maior partido de oposição”.

E como ela se distancia do que poderia ter feito !

Os juízes da Lava-Jato são jovens e os jovens são a esperança do país. Eles devem ser estudiosos, fazem palestras e entram em debates. Eu sei que o texto de Lukács encontrável em “História e Consciência de Classe”, é antigo e muitos o desconsideram. Mas eles poderiam estudá-lo.

Claro, há os que colocam o dinheiro no bolso, e não o distribuem pelos necessitados. Estes deixam de ser esquerda, pelo projeto do governo de esquerda.

Mas há, perversamente embutido no conceito de corrupção, apenas o afã de contrariar os interesses do capital por uma ordem jurídica dos mais pobres. É a esquerda, não a direita que, até historicamente, combate a corrupção da forma a mais enérgica, incluindo por ex. o “paredon” da antiga Cuba.

País democrático, o Brasil aspira por reformas e não deve ver o sucesso policial da Lava-Jato desandar, como deseja o capital, em algo econômico-politicamente regressivo das conquistas do povo.

Se há dinheiro, não se deve pensar, imediatamente, em usá-lo contra a desigualdade social! 

Seria assim ?

Fernando Neto
PT RJ nº 1741303

 Fonte : Ilvaneri Penteado - Jornalista - Rio de Janeiro

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