Osmar Santos comemora 70 anos neste domingo (28). E por ser quem é, feliz da vida. Há precisamente um mês almoçamos juntos e, como sempre, sua chegada e saída do restaurante foram emocionantes. Ele vem e vai com sua cadeira motorizada que dirige com admirável perícia e é recebido com carinho por todos.
Por Juca Kfouri*
Ao lado de Ulysses, Brizola, Lula e Montoro, Osmar Santos comanda um comício das "Diretas Já", em 1984
Certa vez, numa sala de cinema, o vi chegar com a sessão já começada e estacionar seu bólido ao lado da primeira fila. Quando o filme terminou, e as luzes se acenderam, a sala, lotada, o identificou e saudou com demorada salva de palmas. Foi comovente. Há quase 25 anos afastado do microfone que usou como ninguém, vítima de um motorista embriagado que tirou dele sua maior riqueza, a voz, Osmar continua popular e querido, reconhecido onde vai.
Não bastasse ter revolucionado o jeito de narrar futebol no rádio brasileiro, a ponto de existir um modo de transmitir os jogos antes dele e outro depois, o palmeirense que botou a Fiel torcida para chorar com a narração do célebre gol de Basílio depois de 23 anos de jejum ainda tem no currículo ter sido o genial mestre de cerimônias da campanha pelas Diretas Já, quando comandou comícios que reuniram multidões como jamais o país havia visto em São Paulo e no Rio.
Poucas pessoas na história da humanidade falaram para tanta gente e durante tanto tempo --sem um incidente digno de nota, tamanha sua capacidade de controlar a massa, tal seu magnetismo de comunicador sem igual. Bastava surgir um burburinho, uma tentativa de vaia para algum orador em palanque que só não reunia os favoráveis à ditadura, e lá vinha ele: "Diretas quando?". E o povo respondia a plenos pulmões: "Diretas já!".
"Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha"; "um pra lá, dois pra cá, é fogo no boné do guarda"; "tiro-lirolá, tiro-loroto, e que goooool"; "capricha garotinho que o placar não é seu"; "curtindo amor em terra estranha", quando o jogador era flagrado em impedimento; "sai daí que o jacaré te abraça" são alguns dos bordões consagrado s por ele para renovar a forma de contar o que acontecia nos gramados.
Osmar Santos fazia eco no Morumbi como João Saldanha no Maracanã, não por acaso os dois homenageados em forma de troféus, pelo diário Lance, para os campeões do primeiro e segundo turnos do Campeonato Brasileiro. "Osmar Santos vem aí, garoto bom de bola", anunciava a vinheta da rádio Globo para alegria da galera.
O locutor virou pintor e se expressa do jeito que dá, com vocabulário restrito, mas compreensível, e a mesma lucidez de sempre, até para estar horrorizado com os dias que correm. Não se queixa, não tira o sorriso dos lábios, exemplo de perseverança. Personagem não apenas da história do futebol brasileiro, mas da história do Brasil.
* Juca Kfouri, formado em Ciências Sociais pela USP, é jornalista e blogueiro
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