Rosa Weber e seus colegas
Em seu torturante voto contra a prisão após condenação na segunda instância, Rosa Weber citou de Shakespeare a Angela Davis, passando por Voltaire e alemães obscuros.
Terminou com o poeta grego Konstantinos Kaváfis.
“À espera dos bárbaros” é considerado por muitos críticos como um dos mais belos poemas de todos os tempos.
Homossexual, helenista, Kaváfis era um nostálgico de um mundo clássico idealizado. Nasceu, viveu e morreu em 1933 aos 70 anos em Alexandria, no Egito.
Rosa deu um recado para Bolsonaro, Barroso, Moro, o bolsonarismo e o lavajatismo.
Abaixo, na tradução de José Paulo Paes (meu professor na Cásper Líbero por um breve período):
À Espera dos Bárbaros
O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.
DCM
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