domingo, 27 de outubro de 2019

“À espera dos bárbaros”, o lindo poema que Rosa Weber citou em seu voto num recado

Rosa Weber e seus colegas

Em seu torturante voto contra a prisão após condenação na segunda instância, Rosa Weber citou de Shakespeare a Angela Davis, passando por Voltaire e alemães obscuros.


Terminou com o poeta grego Konstantinos Kaváfis.

“À espera dos bárbaros” é considerado por muitos críticos como um dos mais belos poemas de todos os tempos.

Homossexual, helenista, Kaváfis era um nostálgico de um mundo clássico idealizado. Nasceu, viveu e morreu em 1933 aos 70 anos em Alexandria, no Egito.

Rosa deu um recado para Bolsonaro, Barroso, Moro, o bolsonarismo e o lavajatismo.

Abaixo, na tradução de José Paulo Paes (meu professor na Cásper Líbero por um breve período):

À Espera dos Bárbaros

O que esperamos na ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.


DCM

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