sexta-feira, 15 de maio de 2020

Reforma Social ou Revolução? Rosa Luxemburgo para pensar os desafios do novo século


Em 5 de março de 1871 na Polônia nascia aquela que viria a ser a rosa vermelha do socialismo: Rosa Luxemburgo. Filósofa, economista e militante política, foi dirigente da esquerda do SPD (Partido Social Democrata alemão) quando as mulheres ainda nem podiam votar, e uma figura importante da Internacional socialista. Era considerada por camaradas e adversários como "uma das melhores cabeças do socialismo internacional". Foi assassinada há mais cem anos, em 15 de janeiro de 1919, hoje, suas teorias e sua lutas são tão atuais e urgentes quanto no tempo em que viveu.


Por Marcela Uchôa                       14/05/2020 11:52

Para Rosa Luxemburgo tão evidente quanto a inevitabilidade do colapso capitalista era o abandono da luta socialista ocasionada pelo compromisso decadente das alianças social democratas em promover uma reforma gradual do capitalismo. Na viragem do século, encabeçou o debate contra as propostas reformistas do SPD, fizera-o com tal vigor, nomeadamente no seu livro Reforma social ou revolução, que a antiga direção do SPD, inicialmente inclinada a apoiar Eduard Bernstein (teórico revisionista e opositor de Luxemburgo), acabou por rejeitar as inovações que este propunha.

Em A acumulação do capital desenvolveu de forma mais sistematizada as críticas feitas em seu trabalho anterior, nele se estabeleceu como uma economista marxista com a rara capacidade de examinar criticamente, e aprofundar a teoria marxiana original. A essência do seu procedimento revolucionário consiste em guiar-nos para que sejamos capazes de suprimir definitivamente os antagonismos do capitalismo e inferir dele as consequências necessárias para luta política. O fatalismo passivo que esperava uma situação revolucionária - em Rosa Luxemburgo encontra a ação política que reivindica a ruptura necessária para construção de uma ordem política de emancipação e transformação social da classe trabalhadora subalternizada. Essa necessidade não parte de uma concepção mecanicista ou metafísica de mundo, mas de uma realidade construída pelas próprias contradições do capitalismo. A rebelião dos operários, a luta de classes, são apenas o reflexo ideológico da necessidade histórica do socialismo.

Sua análise econômica que desvelava as raízes do colonialismo, do militarismo, o papel dominante do capital financeiro e o colapso do liberalismo burguês como fenômenos do imperialismo – demonstrou como se apoderam de esferas de interesse e ocultam que as leis econômicas que regem o mundo estão nas raízes desses vastos e complexos fenômenos imperialistas. A crise que configura a fase final do capitalismo e põe a nu suas contradições faz com que tanto seus partidários quanto seus opositores o reconheçam nitidamente – contudo isso não quer dizer que todos estejam do mesmo lado nas “trincheiras” das lutas, ainda que em um rápido olhar isso possa levar ao engano. É necessário sempre investigar quais leis econômicas estão ocultas atrás das aparências que perpassam a complexidade do imperialismo. Por isso é importante reconhecer que o aprofundamento da exploração e a exclusão social não são erros acidentais, mas a própria essência deste sistema de dominação.

As crises cíclicas do capitalismo só terão seu fim quando a classe trabalhadora tomar posse do que é seu, dos meios de produção, da vida política que os faz protagonistas da história e não apenas objetos de uso e exploração de uma minoria. A teoria de Rosa Luxemburgo, mais que uma mensagem que se perde no tempo, é uma voz que ecoa na vida de todos aqueles que se dedicam a práxis política e que nos convida ao permanente combate ao imperialismo e a internacionalização das lutas. Das reivindicações do passado tão presentes nas emergências que ainda não foram ultrapassadas fica a certeza da necessidade de uma construção que não se abstenha em abandonar os antigos alicerces já comprometidos.

A reabilitação teórica e política de Rosa Luxemburgo ainda pode ser feita enquanto existir uma esquerda que não tenha dúvidas em afirmar: “A revolução é magnífica… Tudo mais é um disparate.”

Marcela Uchôa é Membro do Instituto de Estudos Filosóficos da Universidade de Coimbra; está a concluir o doutorado em filosofia política na Universidade de Coimbra; mestre em filosofia; colaboradora em artigos de opinião no jornal O Público (Portugal)


Carta Maior

Nenhum comentário:

Postar um comentário