Com a filósofa Marcela Uchôa, doutoranda em Filosofia Política na Universidade de Coimbra, Portugal
Por Saul Leblon, Joaquim Palhares e Carlos Tibúrcio
25/06/2020 14:14
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CLÁSSICOS EM PODCAST apresenta:
ROSA LUXEMBURGO
PRÁXIS OU BARBÁRIE?
Práxis - organização popular para a luta - como principal meio de evitar a barbárie.
Com a filósofa MARCELA UCHÔA - doutoranda em Filosofia Política na Universidade de Coimbra, Portugal.
Por Saul Leblon (coordenação desta edição), Joaquim Palhares e Carlos Tibúrcio.
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Rosa Luxemburgo: práxis ou barbárie?
Por que tratar de Rosa Luxemburgo num mundo afogado em urgências postas pela pandemia, que paralisa o sistema capitalista em pleno século XXI?

Por duas razões de inestimável atualidade.
A primeira, o seu exemplo de vida diante da catástrofe engendrada pelo capitalismo.
Dirigente do bloco de esquerda do Partido Social Democrata alemão, no início do século XX -- uma época em que as mulheres ainda nem podiam votar --, ela se definiu por uma ousada e inabalável convicção.
Transformar a sociedade baseada no regime da mercadoria –sendo a carne humana a principal delas— era a única salvaguarda efetiva à pulsão expansionista de um sistema que desmancha tudo no seu caminho, e arrasta a humanidade, ciclicamente, à fronteira da barbárie.
Rosa não foi parcimoniosa nas críticas a quem se opunha a essa convicção.
Decorre daí a segunda linha do interesse atual nessa pensadora cujo nome foi e ainda é sinônimo de rebeldia teórica e política.
O embate entre Rosa e a ala conservadora da social democracia alemã não é uma peça no museu da história.
Ao contrário.
Ela pulsa hoje na encruzilhada das escolhas progressistas em relação ao projeto a abraçar no mundo pós-pandemia.
O que se desenhou nesse embate, no seu tempo, foi a contraposição entre seguir a bússola socialista de transformação das formas de viver e de produzir -- com seus requisitos de organização popular autônoma -- ou se render à funilaria da história nas oficinas parlamentares.
Ontem, como hoje, os críticos do ‘voluntarismo’ luxemburguista defendiam a reforma incremental do capitalismo, como se a relação de dominação que ele expressa fosse dotada de uma complacente tolerância à autoextinção em banho-maria.

A escalada fascista e golpista, num mundo em que conquistas sociais seculares se esfarelam no moedor dos mercados, parece sugerir outra coisa.
Não se trata de escolher entre travar ou não a luta parlamentar.
Ela é importante. Mas ter prioridades é obrigatório num divisor histórico como o atual.
Organizar os excluídos para os embates frontais que virão não pode ser a última delas.
A crítica de Rosa Luxemburgo à calcificação do marxismo em teoria de amansamento do capital nunca obedeceu a uma linearidade desprovida de conflitos e contradições.
Sua obra, feita de artigos, brochuras, cartas e livros, está marcada pela urgência do combate e o contraponto da reflexão.
São escritos atravessados por uma tensão entre o determinismo histórico, decorrente da certeza da derrocada capitalista, de um lado; e, de outro, do voluntarismo. Ou seja, a aposta na ação revolucionária como elemento central de modificação da sociedade e da consciência dos explorados.
Ou, melhor dito por Marx: “A coincidência da mudança das circunstâncias e da atividade humana, ou mudança de si mesmo [Selbstveränderung], pode ser apreendida e racionalmente compreendida apenas enquanto práxis revolucionária”.
Essa mesma certeza impulsiona sua permanente arguição sobre as consequências da aliança social-democrata com o grande capital.
Para onde elas vão nos levar?’, repete a mesma pergunta hoje a filósofa Marcela Uchôa, que participa desta nova edição do programa Clássicos em Podcast, da rádio Carta Maior, apresentando a obra de Rosa Luxemburgo, ‘Acumulação do Capital’.
A série Clássicos em Podcast traz pensadores e seus textos indispensáveis à compreensão dos desafios da sociedade e da urgência da ação política em nosso tempo.
Grandes intelectuais brasileiros já conduziram nossos ouvintes às obras e ideias de Marcuse, Adorno, Hannah Arendt, Horkheimer, Gramsci, Karl Marx e Keynes.
Você poderá ouvir os episódios anteriores da coleção acessando o link do programa Clássicos em Podcast no site da Carta Maior (https://bit.ly/3cvdhK9).
Marcela Uchôa, que se soma a essa lista, lecionou Ética e Filosofia do Direito no Brasil. Atualmente, conclui seu doutorado em filosofia política na Universidade de Coimbra, em Portugal. A professora integra a Coordenação do Bloco de Esquerda-Coimbra e faz parte do Instituto de Estudos Filosóficos da mesma universidade.
O texto comentado por ela neste Clássicos em Podcast foi publicado pela primeira vez em 1913, quando os tambores da guerra --a primeira guerra mundial da humanidade --, anunciavam a catástrofe iminente.
Ela arrastaria milhões de vidas ao sangradouro dos campos de batalha, para reposicionar os piquetes e as formas de exploração capitalista no planeta.
Rosa antevia a tragédia e queria evitar que a classe operária fosse arrastada a ela como coadjuvante da morte.
Os elementos da equação hoje são distintos.
Mas a pressão pelo salvacionismo dos mercados em detrimento de uma humanidade sob tríplice corrosão –biológica, econômica e fascista— recomenda ouvir com atenção o recado de aflitiva atualidade que ecoa da obra de Rosa Luxemburgo: ‘práxis (ou seja, organização popular para a luta) ou barbárie’?
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Joaquim Palhares, Saul Leblon e Carlos Tibúrcio


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