sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Carta de Berlim: Dia da Recordação das Vítimas do Nazismo.

 

Créditos da foto: Crianças sobreviventes em Auschwitz - foto tirada de imagens gravadas pelas forças soviéticas (US Holocaust Memorial Museum)

Na Alemanha, hoje, 27 de janeiro, é oficialmente o Dia da Recordação das Vítimas do Nazismo.


Por Flavio Aguiar                                                                                        27/01/2022 13:18

Neste dia, em 1945, tropas do Exército Vermelho liberaram os Campos de Concentração de Auschwitz I, II - Birkenau, e III, na Polônia. As divisões soviéticas avançaram a partir da Ucrânia. Apesar de nesta altura a resistência dos nazistas na região já ser pequena, 231 militares soviéticos morreram na tomada dos três campos de concentração e das cidades próximas.

Quando chegaram aos campos, os soviéticos - segundo suas declarações posteriores - ficaram chocados com o que viram, embora estivessem acostumados às durezas da guerra. Encontraram cerca de sete mil prisioneiros nos três campos, remanescentes do mais de milhão que por ali passara e, na maioria, morrera.

Aqueles sete mil eram, na maior parte, doentes e velhos que já quase não conseguiam se locomover. Com o avanço soviético os nazistas organizaram uma retirada dos prisioneiros para outros campos na Alemanha e na Áustria, a partir do final de 1944. A maioria destes “retirantes” pereceria de fome, exaustão e frio. Os soviéticos também já não encontraram os oficiais SS que comandavam os três campos, que tinham fugido levando ou não os prisioneiros.

Os campos estavam parcialmente destruídos, sobretudo o Auschwitz II - Birkenau, onde ficavam as principais câmaras de gás usadas para o extermínio massivo dos prisioneiros, e parte do Auschwitz I, cujos crematórios, além de servirem para a incineração dos cadáveres, também serviam como centros de execução através do gás. O próprio Heinrich Himmler, chefe dos SS, dera a ordem de destruição dos crematórios e das câmaras de gás a partir de novembro de 1944, numa tentativa vã de apagar os vestígios do extermínio.

Estes três campos, Auschwitz I, II e III, eram centros em torno dos quais gravitavam outras quatro dezenas de sub-campos na Polônia, além de receberem prisioneiros de outros países da Europa.

Auschwitz I fora, inicialmente, um quartel militar transformado em campo de prisioneiros a partir de 1939. Até 1941 os prisioneiros eram poloneses. Neste ano começaram a vir prisioneiros soviéticos das frentes de batalha. Os judeus e outras vítimas, como os Roma (ciganos) e outros, chegaram depois. A partir de 1940 os SS que comandavam o campo trouxeram para ele, como funcionários, criminosos das prisões alemãs.

Em agosto de 1941, por sugestão do SS Karl Fritzch, foi realizada uma experiência na caserna 11 do campo de Auschwitz I. Numa noite foram jogadas para dentro delas, onde estavam prisioneiros soviéticos, latas com o gás Zyklon B. A experiência foi coroada de sucesso: em pouco tempo estavam todos mortos. A experiência foi repetida entre 3 e 5 de setembro, com mais 600 prisioneiros soviéticos e 250 poloneses, também com sucesso total e fulminante.


Memorial do Holocausto, em Berlim (Google)


Esta foi a base para a “Solução Final” do “Problema Judaico”, quando, por ordem de Hermann Gôring, realizou-se a Conferência de Wannsee, na periferia de Berlim. Na verdade, quando aconteceu esta reunião, a decisão do extermínio dos judeus já estava tomada. A Conferência aconteceu “apenas” para concertar o método preferencial a ser empregado. Os 15 participantes, liderados pelo vice-chefe dos SS, Reinhard Heydrich, e secretariados por Adolf Eichmann, simplesmente “acertaram seus relógios”, estabelecendo o gás como meio preferencial.

A partir daí o uso do Zyklon B disseminou-se pelos campos de concentração nazistas, e foi largamente utilizado no complexo de Auschwitz. Por ali passaram 1,3 milhão de prisioneiros, sendo que destes 1,1 milhão morreria. Foram 865 mil dos 960 mil judeus para ali levados; 74 mil poloneses, 21 mil Roma, 15 mil soviéticos e 15 mil “outros”, além de “outros outros” de origem desconhecida. A maior parte morreu nas câmaras de gás ou nos crematórios assim usados. Muitos morreram devido aos maus tratos, espancamentos, torturas, execuções, fome, frio ou doenças, além dos “experimentos médicos” conduzidos por Josef Mengele, que viria a morrer em 7 de fevereiro de 1979, afogado depois de sofrer um derrame cerebral enquanto nadava na praia de Bertioga, litoral de São Paulo.

Dos milhares de funcionários e SS que passaram por Auschwitz apenas 789 - cerca de 15% - foram a julgamento depois da guerra. Muitos foram executados, entre eles quase todos os comandantes do campo, a começar pelo principal, Rudolf Höss, preso pelos britânicos e julgado na Polônia, que foi enforcado no próprio campo que comandara.

Fritzch, o mentor do uso do gás Zyklon B, desapareceu durante a tomada de Berlim pelo soviéticos, em maio de 1945. Algumas fontes dizem que ele teria morrido nesta ocasião. Porém um oficial britânico, Charles Arnold-Baker, pertencente à agência MI-6 do serviço secreto, afirmou em suas memórias, publicadas em 2007, que ele o aprisionara algum tempo depois em Oslo, na Noruega, mas nada informou sobre seu destino. Permanece o mistério.


Carta Maior

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