Instituições baseadas na construção de uma marca forte passam por dificuldades quando essa promessa parece ter sido quebrada, desgastando a suas imagens
Naomi Klein
As ações da United Airlines despencaram após a publicação de imagens de um passageiro sendo retirado à força de um voo com overbooking. A Pepsi retirou do ar um comercial que mostrava policiais e supostos ativistas do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) usando uma lata de refrigerante para fazer as pazes. A rede de TV americana Fox News sofre com a debandada de anunciantes após a revelação de vultosos pagamentos para silenciar as vítimas de assédio sexual praticado pelo apresentador Bill O’Reilly.
Uma lição que podemos tirar dessas polêmicas é a seguinte: instituições baseadas na construção de uma marca forte – o que implica o cumprimento de uma “promessa” feita aos clientes – passam por sérias dificuldades quando essa promessa parece ter sido quebrada, desgastando a imagem das empresas. Isso faz com que as marcas corporativas sejam extremamente vulneráveis à pressão da opinião pública, especialmente quando esta é intensa e organizada.
Esse fato é um velho conhecido dos gestores de marcas e consumidores ativistas, mas agora tem implicações que vão muito além da oscilação do valor de mercado da Pepsi ou da política de gestão de crise da United Airlines. Isso porque, pela primeira vez na história, o presidente dos Estados Unidos é uma autêntica supermarca comercial, e seus familiares podem ser considerados marcas derivadas.
Do ponto de vista ético, tal situação é extremamente indecorosa, pois a dinastia Trump já está se aproveitando da Presidência, seja pela publicidade gratuita para imóveis praticamente transformados em filiais da Casa Branca, ou simplesmente porque o nome da marca “Trump” é repetido à exaustão na imprensa mundial diariamente. As oportunidades que se apresentam para lobistas e o tráfico de influência são ainda mais preocupantes. Que melhor maneira de cair nas graças da família presidencial do que escolher uma de suas propriedades para sediar um evento de porte, ou pagar um preço inflacionado pelos direitos de usar o nome “Trump” em um novo lançamento imobiliário?
A imprensa já denunciou o problema várias vezes, mas Trump e seus correligionários responderam com desafiadora indiferença. Isso está acontecendo por uma razão muito simples: Trump não atua conforme as regras normais da política, segundo as quais os eleitos precisam dar satisfação aos eleitores e seguir certos preceitos estabelecidos. Ele age conforme as regras do branding – ou “gestão de marcas” – segundo o qual as empresas devem pensar apenas em sua imagem corporativa.
Mas isso tem um lado positivo: como mostram os casos recentes de Pepsi, United Airlines e Fox News, as marcas também são vulneráveis. E isso nos pode ser muito útil – basta conhecer com exatidão a promessa feita por elas aos consumidores.
Venho estudando esse fenômeno há muito tempo, desde que comecei a pesquisar sobre campanhas de pressão e boicote a marcas em meados dos anos 1990. Esse material virou o meu primeiro livro: Sem Logo: A Tirania das Marcas em um Planeta Vendido. Aprendi que, com a tática certa, qualquer marca, por mais amoral que possa parecer, pode ser consideravelmente enfraquecida.
Com isso em mente, criei um rápido guia para combater o presidente no único terreno que importa para ele: a sua marca pessoal.
O novo livro de Naomi Klein “No Is Not Enough: How to Resist Trump’s Shock Politics And Win the World We Need” será publicado em junho nos Estados Unidos.
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